publicado dia 27/02/2015

“Os espaços educativos precisam ter intencionalidade sustentável”

Reportagem:

selo_cidade educadoraPensar os impactos das ações individuais e coletivas num plano local e global prevendo um melhor manejo das relações sociais, culturais, ambientais, políticas e econômicas integra a agenda sustentável. Essa perspectiva convida os indivíduos e, portanto, a sociedade a olhar para si e a repensar suas práticas e papel em meio ao contexto. E é nesse aspecto que diretrizes da educação integral e da sustentabilidade se encontram e permeiam as relações das escolas e dos territórios.

O Centro de Referências em Educação Integral convidou a educadora e pesquisadora, que ficou sete anos à frente na Coordenação Geral de Educação Ambiental no MEC, Rachel Trajber para discutir esse arranjo e apontar caminhos possíveis para que as escolas se pensem e se estruturem sustentáveis.

Centro de Referências em Educação Integral: De que maneira a agenda da educação ambiental se aproxima da educação integral?

Para Rachel, Foto: Reprodução

Rachel Trajber foi uma das grandes responsáveis pelas Conferências Nacionais Infantojuvenis pelo Meio Ambiente. Foto: Reprodução

Rachel Trajber: A relação é total, especialmente por conta dos desafios da contemporaneidade. Um deles é trabalhar com essa utopia da sustentabilidade, que deveria estar na base de tomada de decisões da escola. A nossa sociedade é totalmente insustentável. E a educação integral que abarca esse espaço educativo em sua integralidade, e daí a ideia de se reinventar as práticas escolares, lida com o enfrentamento da insustentabilidade planetária, que reúne, entre outras características, as mudanças climáticas, os desastres naturais etc.

CR:  Como o pensar sustentável pode apoiar a formação dos indivíduos?
Rachel:
Eu tenho trabalhado com conceito de espaço educador sustentável. Para tanto, é preciso que haja uma confluência das edificações, da gestão escolar, do currículo. Esses elementos precisam estar integrados. Hoje, da forma que se apresentam, a relação é de esquizofrenia. O mundo da criança não é sustentável. Então, veja, esse espaço precisa ser sustentável e ter uma intencionalidade sustentável.

Conferências Infantojuvenis

Para  fortalecer a cidadania ambiental nas escolas e comunidades a partir de uma educação crítica, participativa, democrática e transformadora, o Ministério do Meio Ambiente desenvolve, desde 2003, as Conferências Infantojuvenis pelo Meio Ambiente. As edições têm início nas escolas e reúnem delegados crianças e jovens de todo o país.

CR: Nessa perspectiva da escola, como é a gestão escolar que tem intencionalidade sustentável?
Rachel
: A gestão sustentável trabalha com diversas questões, desde alimentação, energia, mobilidade. É preciso que ela pense junto à comunidade escolar como os alimentos chegam à escola? E os professores e alunos, como eles chegam e interagem com aquele espaço? Digo isso do ponto de vista de mobilidade urbana, que pode ter relação direta com a emissão de carbono na atmosfera. Paralelamente, estamos falando de uma gestão democrática, participativa, que trabalha pelo empoderamento das crianças e adolescentes, de toda a comunidade escolar e daquele território na qual essa escola está inserida.

Créditos: Ivaleksa/ Fotolia

Créditos: Ivaleksa/ Fotolia

CR: E o currículo sustentável? O que apresenta?
Rachel: O currículo não pode entrar em contradição com as próprias instalações da escola, nem tampouco com sua gestão. Ele precisa agrupar todas essas formas de conhecimento a partir dos elementos que equacionam a sustentabilidade: as culturais, ambientais, sociais, políticas e econômicas. Atualmente, o que encontramos é um apagamento desse tipo de correlações. Esse currículo precisa ser formado a partir de uma crítica ao tipo de sociedade insustentável que temos hoje, tomando como base os conhecimentos já existentes.

O laboratório de química pode trabalhar a questão da produção de energia, mas também se fazer pensar sobre a mobilidade local, para que se construam novos significados. Não basta que a criança se envolva em um projeto de horta agroecológica se esses diálogos não se fizerem presentes.

Saiba mais
A temática é discutida com mais profundidade pela pesquisadora no texto “Educação Integral em Escolas Sustentáveis: políticas públicas para os desafios da contemporaneidade”, que integra a publicação “Caminhos da Educação Integral no Brasil: direito a outros tempos e espaços educativos“, da também educadora e pesquisadora Jaqueline Moll.

CR: E como a escola deve se preparar para esse movimento sustentável?
Rachel:
Antes de tudo, a escola não pode ser uma ilha. Esse espaço educador sustentável sobre o qual mencionei não é um modelo, mas uma referência base nesse outro olhar necessário ao mundo. Isso quer dizer, olhar para a comunidade, para as universidades, as secretarias de educação e de outras naturezas constituintes. É preciso gente pensando, trabalhando para essa mudança.

 

CR:E que ações seriam possíveis para essa aproximação?
Rachel: O trabalho de empoderamento é dos coletivos e não dos indivíduos. O pensamento sustentável não abarca o individualismo, mas ações dialógicas que possam garantir caminhos para a transição de uma sociedade sustentável. Um dos conceitos saídos da Rio 92 é o da construção de sociedades sustentáveis a partir do diálogo e do que cada um desses coletivos pode contribuir. A escola, por si só, é um coletivo. Outro conceito é o de que somos todos aprendizes em sustentabilidade, ninguém nasce sabendo. Vejo que estamos em busca de novas utopias viáveis e que possam nos ajudar a encarar as dificuldades de um sistema destrutivo, que acaba com as bases de uma vida sustentável no planeta.

 

Em artigo, Helena Singer discute educação ambiental e desenvolvimento integral

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