Não é adaptação, é acolhimento: 6 orientações para a chegada à Educação Infantil
Publicado dia 02/02/2024
Publicado dia 02/02/2024
🗒️ Resumo: Especialistas dão orientações práticas de como acolher bebês e crianças nos espaços de Educação Infantil, respeitando as demandas de cada um e de suas famílias.
Todo começo de ano bebês e crianças precisam de um tempo para se acostumar à nova rotina de frequentar a Educação Infantil e alguns cuidados durante esse processo podem ajudar.
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Na foto, bebês do CMEI Fúlvia Rosemberg, em Maceió (AL), participam de vivência proposta pela educadora de referência Lilian Constance. O registro foi feito pela educadora de apoio Wedja Ramos.
“A criança precisa de tempo para reconhecer a professora, o novo ambiente, a nova rotina, a forma de dormir, se alimentar e ser cuidada”, explica Julieta Franco, autora do livro O Poder do Apego (Sinopsys Editora, 2020).
Claudia Maria Dos Santos Guirao, diretora da EMEI Dona Leopoldina, em São Paulo (SP), afirma que o primeiro passo na direção de receber bem os bebês e crianças, é mudar a concepção sobre o que é esse momento.
“Não é adaptação, é acolhimento. Se adaptar é se moldar totalmente ao jeito que a escola é, e o que propomos é uma via dupla: a gente se adequa, a criança também, e vamos aprendendo juntos”, define.
Nesse caminho, é preciso acolher também as educadoras, cuidar da relação com as famílias, planejar o ambiente e como se dará o afastamento gradual do adulto de referência da criança. Ao mesmo tempo, escutar os pequenos sobre como vai esse processo é fundamental.
“Não é adaptação, é acolhimento. Se adaptar é se moldar totalmente ao jeito que a escola é”, define Claudia Maria Dos Santos Guirao
“Acolher é não relativizar o choro, menosprezar ou não dar a importância devida aos seus sinais de sofrimento. É colo e olho no olho. É priorizar a perspectiva do desenvolvimento da criança e o que ela suporta”, explica Julieta.
Confira, a seguir, 6 orientações para acolher bebês e crianças que chegam à Educação Infantil, que devem ser contextualizadas às demandas de cada comunidade escolar e território:
Ao receber as famílias, escute as necessidades e expectativas de cada uma delas sobre a Educação Infantil, e dialoguem sobre a proposta pedagógica da unidade.
“Vale lembrar que esse acolhimento não é só no início do ano, é o ano todo, tanto das crianças quanto das educadoras e famílias. Isso é fundamental para ter um ambiente de trabalho harmonioso e solucionar um monte de problemas com as famílias”, aponta Claudia.
Na conversa, também compartilhe como funciona o processo de acolhimento dos bebês e crianças na unidade e faça as adaptações e combinados necessários para atender a todos.
“Tinham famílias que só deixavam o bebê aqui e iam embora, muito por achar que o papel delas não importa. Mas importa muito e elas precisam saber disso”, afirma Amanda Reis, diretora do CMEI União da Boca do Rio, em Salvador (BA).
No CMEI Fúlvia Rosemberg, em Maceió (AL), os espaços favorecem a livre movimentação dos bebês e crianças. Cercados e berços estão fora de cogitação.
No lugar disso, utilizam o chão, com tapetes, colchões e tatames, rodeados por brinquedos naturais e não-estruturados, livros e outros materiais ao alcance dos pequenos.
“Esse ambiente favorece que as crianças fiquem interessadas em pesquisar esse universo que construímos ali. Não se trata de distrair as crianças, mas favorecer seu desenvolvimento integral”, afirma Rozana Melo, coordenadora pedagógica da unidade.
É interessante dividir a chegada dos pequenos para receber primeiro os bebês, em um ambiente mais silencioso e calmo.
“Não fazemos muito alarde, é bem silencioso, e fazemos o mesmo processo para as turmas novas da pré-escola. Mas quando chegam as crianças que já estavam com a gente no ano anterior, fazemos uma grande festa, tocamos e cantamos músicas juntos”, relata Amanda.
As atividades propostas também são as que mais costumam conquistar os pequenos, como brincadeiras com água e contação de histórias.
Na EMEI Dona Leopoldina, outras duas estratégias também costumam ajudar: convidar as crianças que já são da unidade para receber os colegas no portão e investigar se as crianças que estão chegando conhecem alguém que já é da EMEI, para agrupar na mesma turma.
Conforme os bebês e crianças vão se encantando pelas atividades e se sentindo mais confortáveis nos espaços, os adultos de referência podem se afastar aos poucos e esperar do lado de fora da sala. Vale cuidar para que haja um ambiente confortável para a família esperar.
A cada ação, converse honestamente com a criança sobre o que vai acontecer, onde o adulto estará e como pode fazer se precisar dele de volta.
Se tudo correr bem, o adulto pode esperar em casa e, se for necessário, a escola liga para buscar o bebê ou criança que as educadoras não conseguirem acalmar.
“Tem o choro de desconforto, que conseguimos acolher. Mas tem o choro de sofrimento, que não defendemos de jeito nenhum. O bebê vai ficar quando se sentir seguro para ficar”, diz Amanda.
O tempo integral favorece a realização de vivências educativas integrais, mas é preciso tempo para que bebês e crianças se adaptem à jornada estendida. Por isso, pode ser interessante que a chegada ocorra em meio período.
“É individual. Tem bebê que fica direto no integral e tem bebê que leva um tempo a mais. Quem pode dizer isso é a professora junto com a gente e a família”, observa Amanda.
Apesar de todos os cuidados, pode ser que nem todos os bebês e crianças se adaptem. É hora de chamar a família mais perto para entender se há outras questões envolvidas, como saúde, privação de direitos, negligência e abusos, e se a unidade pode adaptar algum aspecto para acolher melhor aquela família.