Como colaborar com escolas em projetos de Educação Integral?
Publicado dia 27/08/2013
Publicado dia 27/08/2013
É muito comum associarmos a responsabilidade da educação apenas à escola. Contudo, cada vez mais, especialistas discutem que a agenda da educação, especialmente a da educação integral, parte da articulação e co-responsabilização não só da escola, mas da gestão pública por ela responsável e da colaboração da comunidade onde está inserida.
Algumas comunidades, como a de Heliópolis, bairro da zona sul da cidade de São Paulo, já assumem a agenda da educação como uma agenda coletiva, em que todos participam de um processo colaborativo no que se refere a educação dos indivíduos de um mesmo território.
Esse diálogo com a escola pode partir de diferentes caminhos: a escola pode buscar organicamente o apoio da comunidade. E esse apoio pode ser incentivado por programas ou políticas públicas (como o Mais Educação ou o Mais Cultura na Escolas) ou pode partir de organizações ou movimentos sociais, equipamentos públicos e coletivos que representem a comunidade.
Ao decidir apoiar uma escola na implementação de uma atividade ou proposta de Educação Integral, é preciso levar em conta a importância do diálogo com a instituição. Cada escola tem sua autonomia e modo de funcionamento garantido por instrumentos legais que preveem que a proposta pedagógica da escola seja construída pela comunidade escolar: direção, professores, funcionários, pais e estudantes. Assim, é necessário pensar como, salvaguardando a autonomia escolar, é possível apoiá-la.
De acordo com a publicação do MEC, Caminhos para elaborar uma proposta de Educação Integral em Jornada Ampliada, é fundamental que escola e comunidade dialoguem em uma perspectiva comum, garantindo que os processos educativos possam ser realizados conjuntamente e não em caminhos paralelos que não se encontram. A ideia é justamente garantir que “cada instituição possa compartilhar responsabilidades, inter-relacionar-se e transformar-se no encontro com o outro; a escola e demais instituições sociais podem ser orientadas a se constituir como uma comunidade de aprendizagem.”
Ainda segundo o texto, essa conexão possibilita o exercício das relações sociais democráticas. “Ao ligar escola e comunidade, nas muitas e complexas possibilidades territoriais do seu modo de existir, a educação torna-se instrumento de democracia, possibilitando à criança, ao jovem e ao adulto entenderem a sociedade e participarem das decisões que afetam o lugar onde vivem, sua escola, seu bairro e sua vizinhança, tornando-se parceiros de seu desenvolvimento sustentável.”
Para o educador Paulo Freire, nessa mesma perspectiva, o processo educativo está intrinsecamente conectado à cultura democrática, que convida os estudantes e educadores – sejam eles da educação formal ou membros da comunidade-, a construírem dialogicamente as relações de ensino-aprendizagem e de tomadas de decisão em uma sociedade. Segundo o educador, no livro Educação e Participação Comunitária, “só decidindo se aprende a decidir e só pela decisão se alcança a autonomia.”
Para começar o contato com uma escola – se esta não convocou a participação da comunidade ou se não há edital público para o chamamento de parceiros -, é preciso identificar quem na escola dialoga com estruturas comunitárias.
Idealmente, todos poderiam e deveriam representar a instituição, mas nem sempre isso acontece. Assim, um dos melhores caminhos é procurar um representante do Conselho Escolar ou da Associação de Pais e Mestres, órgãos representativos da comunidade escolar. Quando estes não existirem ou não tiverem agenda clara de reuniões, é interessante procurar a direção da escola ou um professor ou funcionário que tenha contato direto com os espaços de decisão da instituição.
Segundo a diretora do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA) do Campo Limpo, bairro da Zona Sul de São Paulo, Êda Luiz, é preciso não ter medo de vir e conversar com a escola, pois a grande maioria delas está aberta e quer sim receber o apoio da comunidade. Contudo, para a diretora, como a agenda de trabalho é muito intensa, as escolas acabam não conseguindo buscar parceiros de forma ativa.
Uma vez em contato com a escola, é interessante apresentar como a sua organização, equipamento ou coletivo se relaciona com a agenda da educação e de que forma pode colaborar com ela. Vale lembrar que na Educação Integral, as possibilidades de colaboração são infinitas – já que o conceito pressupõe que o olhar ao educando seja efetivamente multidimensional e que o educar contemple todos os aspectos da vida de um indivíduo.
Nessa perspectiva, é importante pensar em contribuições que se estendam além de parcerias financeiras ou materiais. A ponte com o processo pedagógico é chave para que essa relação responda efetivamente à complexa tarefa do educar.
Um exemplo é a ponte que uma Unidade Básica de Saúde pode estabelecer com um professor de biologia sobre higiene e contaminação. É uma dinâmica em todos saem ganhando: o professor recebe um educador ou um conjunto de educadores lhe apoiando na mediação ao conhecimento, os estudantes são convidados a aprender na prática como se dá a relação com o tema e a UBS efetivamente realiza um trabalho de prevenção, possivelmente diminuindo eventuais doenças causadas por contaminação.
Mesmo quando já se viabiliza uma ponte pedagógica, é possível consultar os estudantes e pensar com eles como determinada organização, equipamento ou coletivo pode apoiar as necessidades que têm de aprendizagem.
Dessa forma, novamente, estimula-se a construção autônoma, colaborativa e participativa do conhecimento e valoriza-se a importância do estudante trilhar seu próprio percurso de ensino. Quando convidado, o estudante pode propor à comunidade como deseja ser apoiado em determinado assunto ou projeto.
Além do apoio ao processo pedagógico, instituições podem ainda ceder espaços para atividades.
No Mais Educação, essa relação está prevista, mas também quando não há o programa, nada impede que a escola ofereça atividades regulares ou extracurriculares em parceria com equipamentos locais.
Em São Paulo, em uma iniciativa chamada O Centro é uma Sala de Aula, diversos equipamentos da região central da capital se abriam para receber estudantes do ensino público em atividades que faziam parte do currículo escolar.
E, por fim, além da própria organização ou equipamento estar em ação direta na escola, é também possível que esta incentive a participação dos indivíduos da comunidade como um todo.
Campanhas de sensibilização em diálogo com a escola podem apoiar a instituição e as próprias organizações, convidando os moradores a participarem de atividades educativas. Nessa perspectiva, reconhece-se e valida-se o saber comunitário, chamando indivíduos a se envolverem diretamente com a agenda de educação da comunidade.
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