Território e comunidade compartilham seus saberes em escola de Roraima
Publicado dia 19/10/2015
Publicado dia 19/10/2015
O território e a comunidade são as principais fontes de saberes da escola Escola Estadual Indígena Tuxaua Luiz Cadete, localizada em Cantá (RR). Nesses espaços, os estudantes aprofundam seus conhecimentos sobre a cultura da comunidade, conversando com as pessoas mais velhas e conhecendo locais e histórias que marcam o lugar onde estão.
“Usamos a nossa comunidade e o território como se fossem uma grande biblioteca, buscando valorizar a cultura indígena para que os alunos reconheçam sua identidade que foi fragmentada”, explica o coordenador pedagógico da escola, Gleidson Nicásio Rodrigues.
O currículo também é pensado para fortalecer esse vínculo com a história da comunidade. Os estudantes de ensino médio têm aulas de medicina tradicional indígena com as pessoas mais experientes e que conhecem o tema, e desde o ensino fundamental estudam as línguas de suas comunidades, de acordo com sua identidade. Uns têm aula de Macuxi e outros de Wapixana. A integração é tamanha que alguns alunos, depois de aprenderem uma das línguas, pedem para frequentarem as aulas do outro idioma.
O programa Mais Educação, lançado pelo governo federal em 2007, deu um grande impulso à escola que, com os recursos advindos do Ministério da Educação (MEC), contratou monitores da própria comunidade para lecionarem algumas matérias. Uma das exigências do Mais Educação é o aumento do tempo em que os estudantes ficam dentro da sala de aula.
A jornada ampliada permitiu que o currículo fosse pensado de forma a contemplar componentes curriculares que trabalhem a identidade indígena dos estudantes. “O Mais Educação nos deu um incentivo muito grande porque trouxemos monitores da comunidade para dentro da escola que conhecem a cultura indígena. Eles contam histórias, ensinam as danças e a medicina tradicional”, afirma o coordenador. Atualmente, eles estão trabalhando na sistematização das histórias que são contadas aos estudantes.
“Queremos catalogar para transformar em material para a própria escola”, explica Gleidson. O diálogo com a comunidade ocorre em dois momentos. Em um primeiro, a instituição busca o entorno. Segundo Gleidson, trabalha-se com um lema de que eles precisam ir à comunidade e esta precisa estar sempre presente na vida do colégio.
“O entorno nunca fica fora das decisões da escola, tanto eu como o diretor nos reunimos cotidianamente com a comunidade para contar o que vamos fazer”, conta Gleidson. O diálogo com o território não se encerra aí; também buscam realizar intercâmbios com instituições de ensino das comunidades vizinhas.
Assim, a cada três meses, os representantes de 21 espaços educacionais da região se encontram para trocar experiência e aprender um com o outro.
Gleidson conta que a história da escola é marcada por muita luta da comunidade. Em 1943, alguns moradores abriram o colégio, sem apoio algum do Estado, para atender 25 estudantes. Depois de um intenso processo de luta de toda a comunidade, a escola conseguiu ser reconhecida pelo poder público, incorporou-se à rede, e passou a receber recursos. Atualmente atende a 378 estudantes do ensino fundamental e médio com um quadro de 30 professores.
“Nossa história é de muita luta, e muita disposição e envolvimento da comunidade em construir a escola”, relembra Gleidson.
Apesar de todos os avanços, ainda existem dificuldades principalmente no olhar do Estado com a educação indígena e na política de financiamento. “Existe caos no financiamento da educação e quando se fala em indígena ainda falta olhar especifico e ficamos meio de escanteio nesse contexto”, observa.