Projeto possibilita a estudantes resgatarem cultura de território no interior do Ceará

Publicado dia 09/12/2015

Foi durante as aulas de História do professor Levi Jucá que os estudantes do ensino médio da Escola Municipal Menezes Pimentel puderam descobrir mais sobre cultura do território em que moram: Pacoti, território do interior do Ceará, com aproximadamente 11 mil habitantes. Os alunos foram convidados a viajar para o período de 1859 a 1861, época em que chegava ao Ceará uma comissão científica de exploração, a mando de Dom Pedro II.

A “Comissão das Borboletas”, como ficou conhecida, veio para a região com o intuito de promover estudos e pesquisas em diversas áreas do conhecimento e também colher materiais e documentos para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Revivendo a comissão

Alunos participam de atividade educativa para conhecerem as aves da caatinga nordestina. Créditos: divulgação

Alunos participam de atividade educativa para conhecerem as aves da caatinga nordestina. Créditos: Janus Lonngren

O episódio chamou a atenção dos alunos que tiveram a ideia de recriar a comissão com uma perspectiva local, com o objetivo de pesquisar, conhecer e tornar pública as informações históricas, culturais, sociais e as memórias de Pacoti para toda a comunidade. Nascia assim, em 2014, o projeto “O Jovem Explorador e o Ecomuseu”.

Em seu escopo também estava prevista a criação de um local para publicizar o acervo, já que a cidade não contava com um museu. Os estudantes entenderam que mais do que expor as descobertas, era preciso fazer com que os habitantes explorassem a cidade, bastante diversa em seu aspecto geográfico e inserida em uma área de proteção ambiental. Por isso, a ideia de um Ecomuseu que fosse capaz de promover um diálogo entre as memórias e os aspectos territoriais, com oferta de trilhas e incursões pela região.

Colocando em prática

O início do trabalho considerou encontros semanais entre os estudantes e o professor no contraturno escolar para que, juntos, partissem para investigar a hipótese de que a comunidade desconhecia a história local. O grupo participante, composto por 20 alunos dos três anos do ensino médio, entendeu que a primeira estratégia seria justamente medir esse nível de conhecimento sobre o território. Para tanto, elaboraram questionários de opinião que mesclavam perguntas sobre a cidade.

Essa etapa foi cumprida durante as feiras livres, aos domingos. Os próprios alunos visitaram esses locais e entrevistaram as pessoas, tentando levantar: “o que era um museu?”, “qual a sua importância para a cidade?”, “qual a origem e significado do nome Pacoti?”, “quando o município foi criado?”. Esse levantamento foi traduzido em gráficos, o que possibilitou o acesso a uma amostragem estatística para o grupo.

A próxima etapa foi o trabalho de campo. Os estudantes se dividiram em cinco equipes, orientadas pelos mesmo temas da comissão histórica: botânica, zoologia, geografia e astronomia, geologia e mineralogia, etnografia e narrativa de viagem. Cada uma delas, ficaria responsável por pesquisar o território orientada pela temática e traçar um plano de ação.

Os estudantes foram orientados na execução dessas tarefas com o apoio de oficinas ministradas pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), parceira da escola no projeto. São feitos encontros semanais entre estudantes e docentes, nos quais se discutem os métodos de trabalho de campo, como conduzir as pesquisas e reconhecer as descobertas.

Além da interlocução com a universidade, o projeto conta com o apoio da própria comunidade. O professor Levi menciona a participação do pai de uma das alunas, que é mateiro. “Ele entra nas florestas sem GPS ou bússola e traz um saber tradicional muito rico para a iniciativa sobre as plantas, os animais. Temos procurado unir o saber científico ao tradicional”, conta o docente. Ele afirma que é comum os alunos levarem perguntas para casa ou mesmo recolherem objetos antigos com as famílias para que elas componham o acervo do projeto.

O professor também contou com o apoio de outros professores, como de Biologia e Geografia, que acabam por fazer relações com essas aprendizagens em sala de aula.

O Ecomuseu

A materialização do Ecomuseu foi possível graças à Uece, que cedeu parte do terreno da Universidade, e também ao esforço dos meninos que foram até um engenheiro do município, buscando apoio em sua construção. A estrutura do espaço foi feita com materiais sustentáveis.

O espaço, já erguido, passa agora por uma fase de organização interna para que em breve possa receber visitas e oferecer oficinas para a comunidade. A ideia é que o museu seja reconhecido como um local de recebimento de materiais sobre a história da cidade, doados pelos moradores, a fim de constituir um acervo.

ecomuseu

Os estudantes já vêm organizado exposições experimentais na escola, para testarem o funcionamento do Ecomuseu. “Fizemos uma exposição na sala de música da escola contando a história da unidade escolar a partir de fotos resgatadas”, comenta o professor Levi.

Percepções sobre o projeto

Uma das dificuldades, relata o professor, é não contar com o apoio integral da gestão pública, que acaba vendo a iniciativa como algo específico da escola estadual e não de alcance comunitário / municipal. Por outro lado, a manutenção da proposta vem trazendo ganhos ao desenvolvimento integral dos alunos, como ele observa.

Em campanha
No momento, o projeto está com uma campanha de financiamento coletivo aberta no Kickante, para finalização da obra do Ecomuseu. Com orçamento estimado de R$ 15 mil, a iniciativa ainda tem 18 dias ativos.

“Uma coisa bem aparente é a proatividade dos meninos, que passam a perceber o espaço deles na comunidade e a desenvolver a habilidade de se colocarem em público, por meio de uma fala e escrita organizada, orientada por uma atuação afetiva junto ao território”.

Ainda de acordo com Levi, “os meninos se sentem com o poder de transformação da realidade nas mãos e, com isso, passam a acreditar mais em si mesmos, em seu potencial de engajamento, de estabelecer articulações e parcerias em prol do interesse deles. Antes, eles estavam acostumados a só obedecer regras ou seguir orientações em sala de aula, e não serem os protagonistas de fato. Hoje, eles vêm contribuindo para manter a questão cultural viva na cidade”, finaliza.

Alunos em frente ao Ecomuseu, que precisa ser finalizado para lançamento em 2016.

Alunos em frente ao Ecomuseu, que precisa ser finalizado para lançamento em 2016.

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