No Peru, Centros Rurais de Formação em Alternância trazem a comunidade e vida rural para dentro da escola

Publicado dia 30/09/2014

 

A educação de jovens no campo é um grande desafio. A falta de conexão entre os conteúdos e a vida rural, a necessidade de apoiar a família e a distância entre moradia e escola contribuem fortemente para que crianças e adolescentes deixem de frequentar a instituição. No Peru, a situação enfrentada pelas populações no campo é grave. Dados indicam que apenas 60% dos estudantes terminam o ensino fundamental e destes apenas 38% concluem o nível médio. No país, isso tem como consequência a perpetuação da pobreza e do baixo nível de escolaridade no campo.

Criar uma escola que faça sentido às famílias e que se adeque às rotinas do campo foi a solução encontrada para frear a evasão escolar e criar oportunidades de um melhor futuro no campo. Desde 2002, a Associação ProRural vêm impulsionando a criação dos Centros Rurais de Formação em Alternância (CRFA) que hoje chegam a 40 unidades em 11 regiões do país. Atualmente, quase três mil adolescentes são atendidos nesta modalidade de educação rural.

Metodologia

Como o nome sugere, nos Centros Rurais de Formação em Alternância os estudantes alternam quinze dias na instituição e quinze dias junto a suas famílias. O regime de alternância permite que os jovens sigam apoiando seus familiares nas tarefas do campo e evita que eles tenham que se locomover grandes distâncias diariamente para chegar à escola. Paralelamente, a pedagogia da alternância pressupõe que o conhecimento adquirido no período de internato possa ser aplicado quando o aluno esteja em casa e que as questões de sua realidade possam ser levadas à escola.

Para os Centros, o tempo e espaço longe da escola também é considerado uma das etapas da formação do estudante. Durante este período, um monitor do CRFA visita os estudantes, o que possibilita envolver a família no processo de aprendizagem e conhecer o contexto do aluno, garantindo intersecção entre os conteúdos escolares e às realidades dos estudantes e suas comunidades.

Assim, o currículo dos CRFA, chamado de Plano de Formação, é construído participativamente a partir de um diagnóstico local e é atualizado periodicamente. Contribuem com a construção desse plano pais, profissionais, professores, estudantes e autoridades, entre outros atores.

Imagem: ProRural

Imagem: ProRural

“Entre os colégios de alternância existem grandes diferenças nos currículos já que estamos pensando a formação para gerar desenvolvimento dentro da comunidade e, então, se leva em conta as necessidades daquele território”, explica Maleni García, da ProRural. Criação de animais, produção de alimentos, manejo do meio ambiente, artesanato e turismo são temas que entram no currículo dos Centros Rurais segundo das demandas locais – além dos conteúdos obrigatórios regulares.

No entanto, há pilares centrais que norteiam os currículos dos Centros Rurais. “Apesar das diferenças, os currículos sempre apontam para uma educação integral”, argumenta Maleni. Além do desenvolvimento intelectual, é estimulada a educação em valores, que se constrói na intensa convivência à qual os estudantes estão submetidos, e também a educação profissional e técnica.

Com estes enfoques, espera-se que os estudantes desenvolvam suas capacidades de comunicação, análise, observação e senso crítico com o objetivo de construir sua própria percepção de mundo e de si mesmo. A educação nos CRFA almeja também desenvolver as capacidades de empreendedorismo, inovação, criatividade e associativismo para que os jovens possam ser protagonistas de seu próprio desenvolvimento e de seu meio.

Gestão

Os educadores dos Centros Rurais de Formação em Alternância se dedicam integralmente ao projeto e recebem formação e capacitação constantes, que conta com a contribuição dos membros da comunidade. Chamados de monitores, os educadores podem ser docentes ou técnicos e devem possuir profundo conhecimento do meio rural e formação específica na pedagogia da alternância.

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Planejamento e gestão integram a comunidade. Foto: Reprodução

A comunidade, bastante envolvida em toda concepção e implementação pedagógica, se dá também na gestão escolar. Em cada localidade, se estimula a formação de associações de pais de estudantes dos Centros e de atores locais para que integrem o Conselho Diretivo da instituição. Para isto, os familiares passam por formações da entidade ProRural para capacitá-los a co-gerir as escolas.

Cada unidade possui um modo de financiamento diverso. Governos municipais ou estaduais, empresários, organizações da sociedade civil, fundações e familiares contribuem para a manutenção dos Centros Rurais de Formação em Alternância.

Principais resultados

Segundo dados da Fundação Codespa, uma das apoiadoras dos CRFA, a taxa de abandono diminuiu em 18% e houve um aumento de 40% dos estudantes que conseguem um trabalho logo após a finalização dos estudos. Muitos jovens egressos da proposta prosseguem os estudos em nível superior ou técnico. Ainda assim, seguem ligados ao seu contexto natal: 78% se mantêm conectados com a família e a comunidade.

A formação recebida nos Centros têm possibilitado aos estudantes conseguirem trabalhos melhor remunerados e, inclusive, iniciar negócios próprios. No entanto, o impacto extrapola o nível pessoal. “Os efeitos aparecem também na família e na comunidade, com melhorias nos níveis sociais, educativos, econômicos e até no meio ambiente”, relata Maleni García, da ProRural.

 

Gestão Pública

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