No Paraná, Biblioteca Interativa traz novos significado e função aos tradicionais espaços de estudo
Publicado dia 24/01/2015
Publicado dia 24/01/2015
De um lado, várias mesas dispostas ordenadamente. Do outro, fileiras e mais fileiras de prateleiras cheias de livro. O silêncio domina o espaço. As pessoas que circulam por ali andam cuidadosamente, sem fazer ruído nem conversar. Outras que estão nas mesas, ficam de cabeça baixa de olho nos livros ou nas anotações. Apesar da proximidade, ninguém conversa – no máximo, uma discreta troca de olhares.
Esqueça as bibliotecas tradicionais, uma iniciativa no Paraná está mudando a ideia sobre como elas são e funcionam. São as bibliotecas interativas de Londrina e Maringá, mantidas pelo Centro Marista de Solidariedade. “Queríamos uma biblioteca que fosse um centro cultural e também que não ficasse presa à leitura de palavras. Queríamos, como diz [o educador] Paulo Freire, fazer a leitura de mundo e que a biblioteca não fosse um espaço de silêncio mas de troca”, conta a coordenadora da iniciativa em Londrina, Letícia Ferreira.
Com este objetivo desenhado, os idealizadores foram ouvir da comunidade quais eram suas demandas e interesses. Pais, grupos culturais, professores de escolas do entorno e jovens opinaram sobre como aquele espaço poderia apoiá-los. Além dessas conversas iniciais, a reflexão segue sendo feita periodicamente para avaliar as atividades que estão sendo ofertadas. “Os projetos não vêm prontos, não tem uma cartilha de como fazer, é escutando as pessoas que conseguimos montá-los”, explica a educadora.
A partir das conversas e demandas é que a programação é pensada nas bibliotecas interativas. Algumas das atividades realizadas são a contação de histórias para turmas da educação infantil de escolas próximas; grupos de estudos e capacitação de educadores; oficinas de texto e escritas; debates com transmissão para as escolas parceiras; e a capacitação de adolescentes para serem mediadores de leitura.
As parcerias com instituições em cada localidade permitem ampliar as possibilidades de atividades. Em Londrina, a equipe do projeto realiza, ao longo de uma semana, atividades nas bibliotecas de outras escolas, que estava sendo subutilizadas, tentando ressignificar o espaço. Já uma parceria com a assistência social permitiu a formação dos profissionais da saúde para a contação de histórias, possibilitando o aperfeiçoamento do diálogo deles com as crianças e adolescentes atendidos. Em Maringá, a biblioteca optou por ficar aberta no horário de almoço para receber funcionários de empresas vizinhas que não possuíam espaço de convivência no bairro.
Letícia destaca que os maiores frutos não se traduzem em números e se revelam pela apropriação do espaço por seus frequentadores. “Quando começamos, a gente percebia que os educandos não tinham a coordenação motora para folhear um gibi”, relata. “Hoje você entra na biblioteca e as crianças estão lendo. Elas não precisam de nenhum tipo de condução, já pegam o livro ou revista como se fosse um brinquedo. As crianças já tem propriedade.”
Para ela, a intimidade mostrada por algumas crianças é difícil até para adultos, que muitas vezes cresceram com a ideia de que a biblioteca é um lugar de rigidez. “A reconstrução desse espaço é a coisa mais rica. As crianças tem um sentimento de pertencimento.”
Quer saber mais? Os quatro primeiros anos da experiência das bibliotecas interativas foram relatados em uma publicação. A sistematização pode ser lida aqui.
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