Estudantes elaboram revista a partir de debates sobre educação sexual

Publicado dia 15/03/2016

Como discutir sexo e sexualidade com os jovens de uma maneira interessante e criativa? Como envolver as famílias desses alunos na discussão? Como fazer com que o colégio se envolva? Na Escola Estadual Celso Gama, em Santo André (SP), todas essas questões foram resolvidas por meio de uma revista produzida pelos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental durante as aulas de Educação Sexual.

O professor Felipe Rodrigues conta que decidiu tratar do tema de maneira inversa em relação ao que usualmente se vê. No lugar de já vir com um tema predefinido – em geral, doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos -, deu o espaço para que os jovens pudessem trazer dúvidas e debates relacionados a situações cotidianas. Os adolescentes, aos poucos, foram expondo suas inquietações. Então, a partir daí os temas das aulas iam sendo definidos.

Em 2013, um grupo de três estudantes, a partir dos debates em sala de aula, trouxe uma proposta: fazer uma revista com base no material produzido pelos alunos nas aulas de Educação Sexual. Eles diagramaram a publicação e o docente buscou os recursos para a impressão junto à Delegacia de Ensino. Juntos, conseguiram imprimir mil exemplares da revista (veja abaixo).

Com uma cópia em mãos, os estudantes voltaram para casa e mostraram o resultado das aulas para os pais. A publicação também causou impacto em outros alunos que ainda não haviam cursado a disciplina, despertando novos interesses.

Pela publicação e por seu trabalho na sala de aula, Felipe ganhou, no final de 2014, o Prêmio Professores do Brasildo Ministério da Educação (MEC). A projeção possibilitou que ele conseguisse as verbas necessárias para rodar uma segunda edição da revista com os trabalhos dos estudantes que cursaram o 9º ano em 2014.

A crise financeira e o ajuste fiscal secaram as fontes de financiamento, mas Felipe continua atrás de recursos para publicar a terceira edição da revista.

Aula diferente

Ao contrário do que ainda acontece na maioria das aulas de Educação Sexual, a abordagem extrapola o aspecto biológico e procura incluir elementos psicológicos e culturais. O professor conta gosta de envolver os estudantes por meio de atividades diferentes das usuais.

“Trabalhamos com mais liberdade. Não temos apostila e o planejamento é feito quase semanalmente, já que depende muito da demanda dos estudantes”, conta Felipe. O importante nas aulas é a participação e o envolvimento de todos nas discussões. Diversos instrumentos são utilizadossão alguns dos instrumentos usados por Felipe.

Estudantes em aula sobre sexualidade

Estudantes em aula sobre sexualidade

“Uma dinâmica que gosto de fazer é a ‘queimada’, um jogo de pergunta e resposta entre eles. No começo, ficam tímidos, mas aos poucos se soltam e começam a trocar experiências e percebem que as suas dúvidas também são, em muitos casos, dos outros”, relata.

A aula de Felipe não tem provas e nem avaliações. “Eles recebem uma nota simbólica ligada mais à participação. Isso porque eles não podem ser quantificados de 0 a 10. Eles têm que aprender a aceitar a diversidade”, afirmou.

Homofobia

Uma discussão importante e trabalhada nas aulas é a presença de muitos estudantes gays e também da homofobia sofrida por eles. Ele conta que os trabalhos na sala de aula foram direcionados para que os alunos se sentissem à vontade para expressar sua sexualidade e que reações homofóbicas pudessem ser problematizadas, com o objetivo de desconstruir o preconceito.

Estudantes desenvolvem atividades lúdicas.

Estudantes desenvolvem atividades lúdicas.

Felipe passou o filme De Repente, Califórnia que conta a história de dois homens que iniciam uma amizade e, aos poucos, percebem-se apaixonados. O sentido do filme foi mostrar que a homoafetividade é algo natural e que deve ser aceita por todos. “Quando alguém tem alguma reação homofóbica pergunto. Onde você viu que isso é errado? Faço isso porque, na maioria das vezes, algum adulto ensinou assim e ficou gravado. É um trabalho árduo de desconstrução, mas tem dado muitos resultados”, afirma.

Na última revista, Felipe buscou também atingir os pais dos estudantes com um quiz sobre sexualidade. Era um jogo de perguntas e respostas para ser respondido pelos leitores com o objetivo de conscientização.

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