Estudantes de escola pública criam a Biblioteca Antirracista Marielle Franco
Publicado dia 08/03/2024
Publicado dia 08/03/2024
🗒️Resumo: Estudantes da EE Professor Andronico de Mello, na periferia paulistana, arrecadam mais de 500 obras de autores africanos, afro-brasileiros e indígenas, e inauguram a Biblioteca Antirracista Marielle Franco. A iniciativa é uma das dez vencedoras do Prêmio Territórios Tomie Ohtake.
Quando os estudantes da EE Professor Andronico de Mello, na periferia de São Paulo (SP), percorriam os olhos pelas prateleiras de livros da biblioteca, era raro encontrar alguma personagem ou história que se assemelhasse a eles. Dos quase 5 mil livros do acervo, nem 10% eram escritos por ou sobre pessoas negras e/ou indígenas.
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A professora Rachel D’Amico notava o impacto profundo disso para a autoestima dos estudantes. “Em nossa sociedade racista, o lugar de produção de saber fica muito destinado às pessoas brancas”, afirma.
Para mudar essa realidade, a educadora propôs um desafio para as turmas de Ensino Médio: conseguir doações de obras escritas por pessoas africanas, afro-brasileiras e indígenas.
É assim que nasce a Biblioteca Antirracista Marielle Franco. Inaugurada em outubro de 2023, com nome escolhido pelos estudantes para honrar a luta da vereadora e ativista, a biblioteca é um dos projetos vencedores da 7ª edição do Prêmio Territórios, iniciativa do Instituto Tomie Ohtake, realizada em parceria técnica com a Cidade Escola Aprendiz e o Centro de Referências em Educação Integral.
Ao longo de 2023, as turmas se engajaram em uma disputa colaborativa: cada livro doado valia 10 pontos. Palestras ou oficinas, valiam 150 pontos. No final, dividiram os prêmios e todos participaram de idas ao teatro e outros passeios escolhidos pelos estudantes.
Foram arrecadadas mais de 500 obras, como as de Achille Mbembe e a coleção Feminismos Plurais. A filósofa e escritora Djamila Ribeiro também fez uma aparição surpresa na unidade para celebrar os jovens.
“Foi muito especial e nos ajudou a perceber que o nosso projeto estava dando certo”, relembra Raissa Cristina da Silva, que encerrou o 3° ano na unidade no ano passado.
“Muitas vezes a gente é silenciado e não percebe”, continua Raissa. “Então ler as pessoas que representam esse país trouxe visibilidade, representatividade e pertencimento para nós, fez a gente acreditar mais em nós mesmos”.
“Quem se preocupa em organizar uma biblioteca está dizendo que é potente também para poder escrever novas histórias e a sua própria história”, diz Edneia Gonçalves
Para a professora Rachel, mais do que os livros, este foi o grande ganho do projeto. “Eles podem reescrever a própria história, não só como objetos de violência, mas como sujeitos produtores de conhecimento, capazes de promover transformações e conquistar o que desejam”, celebra.
Edneia Gonçalves, uma das avaliadoras do Prêmio Territórios e coordenadora executiva adjunta da Ação Educativa, concorda: “Reconhecer o esforço desse grupo é importante para nós, como educadoras, entendermos que a gente faz não só a formação de leitores, mas também de autores, porque quem se preocupa em organizar uma biblioteca está dizendo que é potente também para poder escrever novas histórias e a sua própria história”.
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