Estudantes de escola pensam projetos voltados para as demandas do território

Publicado dia 21/08/2015

Um dos segredos do sucesso da Escola Estadual de Educação Profissional Júlio França é o diálogo constante com as demandas do território em seu entorno. A escola se localiza no município de Bela Cruz, Ceará, onde um dos principais problemas é a falta e a má qualidade da água.

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As estudantes Maria Oliveira e Fátima Natanna com o professor e orientador Fernando Nunes durante a Feira Internacional Intel Isef

A diretora do colégio, Francisca Girliane Araújo Teixeira, explica que existem poços d’água na cidade, mas que muitos têm uma quantidade de sal que inviabiliza o consumo e a utilização da água na agricultura. As alunas Maria Vanessa Oliveira e Fátima Natanna de Miranda decidiram criar um projeto que ajudasse a comunidade a resolver esse problema.

Nesse momento, nasceu a iniciativa SOS Seca: Semeando Vida no Semiárido Cearense de Sistemas de Captação de Dessalinização de Água de Baixo Custos. As estudantes desenvolveram uma cisterna que, além de ser mais barata, dessaliniza a água, tornando-a potável.

O projeto venceu uma das categorias da Mostra Brasileira de Ciência e Tecnologia (MostraTec) e ganhou dois dos oito prêmios conquistados pelo Brasil na Feira Internacional de Ciência e Engenharia (Intel Isef), nos Estados Unidos, em maio do ano passado.

Francisca conta que agora as meninas estão ajudando duas pessoas da comunidade a fazer as cisternas para captação de água potável. “Bela Cruz é uma cidade muito pobre e seca e como os alunos passam o dia todo aqui dentro, temos a preocupação de que eles desenvolvam projetos a partir das necessidades da região”, afirmou.

Ela conta que, além dessa iniciativa, existem alunos desenvolvendo uma técnica de plantio com pouca água para que os agricultores locais consigam melhorar a produtividade de suas plantações.

Estrutura

Os projetos e prêmios conquistados pelo colégio não nasceram do nada: são fruto de uma estrutura escolar que incentiva a criatividade e o desenvolvimento de iniciativas. Os 340 estudantes assistem 9 aulas por dia. A grade curricular intercala matérias da Base Nacional Curricular, do ensino técnico que escolheram e também de outros espaços voltados para a formação cidadã e para o desenvolvimento de projetos pessoais.

Dentro do colégio, portanto, busca-se não criar uma divisão entre as distintas aulas oferecidas, que estão espalhadas na grade no turno e no contra-turno. A escola oferta cinco cursos técnicos para seus estudantes: Enfermagem, Informática, Fruticultura, Rede de Computadores e Contabilidade.

O número de aulas técnicas semanais varia de acordo com o curso. Francisca explica que o curso de Enfermagem, por exemplo, exige um número de horas de aulas técnicas maiores que o ensino técnico em Contabilidade. Dessa forma, o currículo de cada estudante tem algumas diferenças.

“Ao contrário dos alunos da Enfermagem, os estudantes de Contabilidade não têm aulas da área técnica durante o primeiro semestre. Nesse período, trabalhamos com Matemática para nivelar todos os estudantes, para que eles iniciem o curso técnico com um conhecimento parecido”, afirmou.

O que é comum para todos os estudantes são as disciplinas da parte diversificada do currículo, onde os alunos têm aulas de Empreendedorismo, Formação Cidadã, Ciclos de Leituras e um acompanhamento para pensar seu projeto de vida.

Uma das partes mais interessantes do currículo dos estudantes da Júlio França é que a parte do currículo voltada para a reflexão dos projetos de vida dos estudantes não é pensada somente na perspectiva de inserção do jovem no mercado de trabalho.

Os estudantes têm entre duas e três aulas por semana, divididas em uma parte mais técnica que discute, por exemplo, a formatação do currículo e a preparação para entrevistas de emprego.

Em outra aula, no entanto, os alunos discutem outras dimensões das suas vidas. No primeiro ano, procuram elaborar o que desejam para o seu futuro e refletem sobre suas relações pessoais e familiares.

O acompanhamento do segundo ano aprofunda os temas do primeiro ano do ensino médio sobre como esse estudante vê a sua vida nos próximos anos e aborda outros temas como sexualidade. Somente no último é que se discute mais concretamente o que o estudante fará quando sair do colégio.

As aulas são conduzidas pelos diretores de turma, que é um professor responsável por acompanhar os estudantes de uma determinada classe.

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Além das questões curriculares, outro elemento importante é a estrutura física que o colégio oferta. No prédio da escola existem laboratórios de Informática Educativa, de Física e Química, de Matemática e Biologia, de Enfermagem, de Hardware e de Fruticultura.

Participação

Outra característica da instituição é buscar a todo o momento dar voz aos pais e estudantes. No início do ano, os alunos elegem três representantes de sala que participam de assembleias bimestrais com os professores, das quais participa um representante dos pais, também eleito em sua respectiva assembleia.

O intuito desse encontro bimestral é que todos esses atores discutam a realidade da escola e do entorno. Todos podem criticar, elogiar e sugerir alterações no curso das aulas.

“O processo de participação faz com que estudantes se sintam corresponsáveis pelo processo educacional e isso garante um maior envolvimento de todos com a dinâmica do colégio”, afirmou Francisca.

A diretora relata que a maioria dos jovens tem uma dificuldade inicial de adaptação porque normalmente chegam de colégios de um único turno. Dessa forma, passam por um acompanhamento inicial para evitar a evasão.

“Os primeiros seis meses são difíceis para alguns, que não conseguem se adaptar a jornada ampliada. Realizamos um acompanhamento, com psicólogos, para incentivá-los a continuar no colégio. Alguns acabam pedindo transferência, mas a grande maioria se adapta já no segundo semestre”, afirmou.

Contato da Escola Estadual de Educação Profissional Júlio França 

Telefone: (88) 3663-1212

Mais informações: escolajuliofranca.blogspot.com.br

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