Escolas no Chile colhem frutos da aproximação com as famílias
Publicado dia 30/08/2016
Publicado dia 30/08/2016
As famílias apontam o dedo para a escola dizendo que ela é a única responsável pela má qualidade da educação das crianças e adolescentes. Por outro lado, os professores falam que os responsáveis só querem deixar os estudantes no colégio e não se preocupam em participar ativamente do processo de ensino e aprendizagem.
A falta de comunicação, caracterizada pelo desconhecimento mútuo das realidades da escola e da família, e os constantes desencontros advindos dessa situação foram avaliados no Chile como um dos grandes problemas da rede pública de ensino do país. Desde 2006, a Fundação CAP atua em parceria com diversas redes públicas do país para pensar e implementar estratégias capazes de avançar nessas relações.
A diretora do programa Aprender em Família da Fundação CAP, Tereza Izquierdo, explicou em entrevista ao Centro de Referências em Educação Integral que, historicamente, muitas das políticas aplicadas pela organização não conseguiam ser plenamente exitosas, pois não conseguiam superar uma barreira que era melhorar a relação entre a família e a escola de forma que eles se enxergassem como parceiros para a educação das crianças.
“Começamos a trabalhar em 2006 com 25 escolas públicas vulneráveis tratando de melhorar os resultados acadêmicos apoiando políticas públicas. Os resultados mostraram que algumas escolas tinham melhoras nos resultados, enquanto outras tinham queda. Em suma não tínhamos algo sustentável e percebemos que a família era a chave para tornar os resultados consistentes”, afirmou Tereza durante o 13º Seminário Internacional de Avaliação Econômica de Projetos Sociais organizado pela Fundação Itaú Social e pelo jornal Valor Econômico.
Comunidade
O conceito de comunidade por muito tempo ficou restrito à ideia de um grupo de pessoas que reside em uma mesma área geográfica, compartilhando um modo de vida e uma cultura – em geral vizinhos e familiares. Continue lendo.
Diante desse cenário, que também é comum no Brasil, a Fundação CAP começou o programa Aprender em Família, que tem como objetivo potencializar a partir da escola, o efeito da família sobre o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes construindo uma relação de colaboração entre os dois segmentos.
Partindo dessa avaliação, a Fundação CAP percebeu que um primeiro passo era formar um grupo que fosse capaz de entender em profundidade a importância dessa relação. Grupos de pais, das escolas onde a parceria estava firmada, participaram de formações mensais nos últimos 3 anos.
“Trabalhamos com os professores para que abrissem as portas para a entrada dos familiares. Ao mesmo tempo precisávamos dar formação aos próprios para que eles soubessem da importância e de como participar da vida escolar dos estudantes”, afirmou Tereza.
Esse grupo de responsáveis formados para se tornarem monitores ficou responsável por pensar e realizar atividades com as outras famílias. As reuniões entre responsáveis e representantes da escola que antes eram semestrais se tornaram mensais e uma série de atividades passou a ser protagonizada pelos familiares com seus filhos dentro da escola. Os professores também participam de formações periódicas e constantes sobre a importância da família para o processo de ensino-aprendizagem de todos os estudantes.
Para além do potencial desenvolvido pela atuação desses pais e monitores, o programa conseguiu consolidar relações de rede. “Elaboramos um currículo para formar um grupo de pais que se tornaram monitores e formamos os familiares em cada um dos temas chaves para o desenvolvimento das crianças e por último desenvolvemos uma rede, assumindo que um pai que tem mais condições pode ajudar o filho de outra pessoa”, afirmou Tereza.
O processo de pactuação contemplou portanto, além da formação dos envolvidos e da sua continuidade por meio da educação entre pares, a construção de estratégias conjuntas, sistematizadas em planos de ação de corresponsabilidade dos envolvidos. Desde a organização de atividades educativas à melhoria das condições das escolas, as ações partiam das necessidades de ambos – escolas e famílias – discutidas e organizadas com responsabilidades e acordos coletivos.
A Fundação CAP contratou o instituto The Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-PAL) para fazer uma avaliação dos resultados do programa. A pesquisa fez uma comparação entre escolas que tiveram a metodologia implementada e outras em condições parecidas que não receberam tais políticas.
O resultado mostrou que os estudantes da escola com o programa da Fundação CAP tiveram um índice de leitura 8% superior aos das demais escolas entre os estudantes do ensino fundamental I e 2% na percepção do envolvimento dos pais com a educação entre os estudantes do ensino fundamental II. Entre os professores, os resultados também foram avaliados como positivos. Segundo a pesquisa, nas escolas com o programa, os docentes apontam 9% a mais de colaboração dos pais e responsáveis por seus filhos com a escola.