Escola em Mulungu (CE) apoia mobilização social em comunidade
Publicado dia 14/02/2017
Publicado dia 14/02/2017
Refletir sobre a comunidade em que vivem a partir de uma perspectiva transformadora é prática corriqueira entre os estudantes do 2º ano do ensino médio da Escola Professor Milton Façanha Abreu, em Mulungu, no Ceará.
Desde 2012, ano em que a escola aderiu ao o Núcleo de Trabalho, Pesquisa e de Práticas Sociais (NTPPS) – estratégia adotada pela rede estadual para promover a diversificação curricular – o tema é trabalhado ao longo do ano, como projeto de pesquisa, e convida os alunos a buscarem possibilidades de intervenção no território por meio de projetos piloto.
O que é o NTPPS?
É um componente curricular integrador e indutor de novas práticas que tem como finalidade o desenvolvimento de competências por meio da pesquisa, da interdisciplinaridade, do protagonismo estudantil, contribuindo fortemente para um ambiente escolar mais integrado, motivador e favorável à produção de conhecimentos.
O núcleo propõe como temas de pesquisa aos estudantes do ensino médio: escola e família, no 1º ano; comunidade, no 2º ano; e mundo do trabalho, no 3º ano.
Em abril de 2016, com o apoio do professor de Língua Portuguesa, José Alves da Silva, e da professora Déborah Freire, coordenadora do projeto, os jovens elegeram o bairro de Sítio Bastiões para atuar. Como primeiro passo, eles realizaram um diagnóstico local para, a partir do mapeamento dos principais déficits, planejarem suas ações.
Para obter uma amostragem, os estudantes selecionaram algumas residências e aplicaram questionários. Assim, conseguiram identificar as principais demandas da região, como falta de saneamento básico – com predominância de esgoto a céu aberto -, problemas com abastecimento de água potável e iluminação pública precária.
Os jovens entenderam que, além de reivindicar as melhorias junto ao poder público, era necessário criar condições para que a comunidade se mobilizasse em nome de seus direitos sociais.
Mobilização e articulação
Por que uma tenda móvel?
Em meio ao processo, os estudantes entenderam que seria importante delimitar um espaço na comunidade para os momentos de interlocução. Eles então projetaram uma tenda móvel – nome de batismo do projeto – materializando um espaço itinerante de diálogo, escuta e articulação comunitária. A ideia era que a estrutura pudesse circular entre o território de Sítio Bastiões, de acordo com a necessidade, e se expandir para outras localidades.
A primeira estratégia de interlocução com a comunidade foi por meio do compartilhamento dos dados colhidos no diagnóstico. O grupo convidou os moradores para uma primeira reunião, utilizando-se de peças de comunicação fixadas na escola e de convites distribuídos entre os moradores. A escola apoiou os estudantes com recursos financeiros para a impressão dos materiais.
A segunda agenda coletiva teve o objetivo de organizar um grupo de representantes dos moradores para acompanhar de perto o encaminhamento das demandas territoriais. A eleição aconteceu de maneira voluntária. “Apenas orientamos que o grupo fosse o mais heterogêneo possível, com crianças, jovens, adultos e pessoas idosas, para garantirmos uma amplitude de habilidades e de vivências locais”, explica José Alves da Silva.
Na terceira reunião, os moradores foram convidados a se debruçarem sobre o diagnóstico territorial e pensarem ações práticas. Daí saiu a ideia de convocar uma audiência pública na comunidade com os gestores públicos municipais, para que pudessem apresentar a realidade e cobrar providências.
Saiba mais sobre a iniciativa em um vídeo feito pelos próprios estudantes:
Em diálogo com a gestão pública
A audiência pública aconteceu em novembro de 2016, logo após as eleições. Compareceram o prefeito então em exercício e o que tomaria posse a partir de janeiro, bem como vereadores.
Na ocasião, os próprios moradores se encarregaram de fazer uma apresentação sobre a comunidade, dando um panorama das principais demandas sociais. Feito isso, delimitaram um plano de ações no curto, médio e longo prazo junto aos possíveis gestores.
“Desde a data, o território já teve quase 100% das famílias abastecidas com água potável e parte do problema de iluminação foi resolvido. Quanto ao esgoto a céu aberto, a gestão se comprometeu a conseguir fundos para resolver a questão. Estamos acompanhando”, declara o professor José Alves da Silva.
A experiência de mobilização e organização despertou ainda um senso coletivo e de pertencimento entre os moradores de Sítio Bastiões. Isso possibilitou também que os moradores – ainda com o apoio da escola – se engajassem em mais um desafio: o de resgatar a história e a cultura do território, que se organizou após uma ocupação em 1997.
O grupo participante novamente se dividiu em duas frentes de atuação: parte dele está envolvido com o resgate de registros fotográficos ou documentos que tracem essa linha do tempo; outra parte tem como missão coletar entrevistas com moradores mais antigos, que vivenciaram essa história desde o início. A ideia é, futuramente, criar um memorial com sede própria para alojar esses materiais – projeto que os estudantes e moradores tocam em paralelo, buscando angariar fundos.
Ainda na perspectiva de promover a cultura dentro do território, a escola também tem apoiado a comunidade no reconhecimento de suas habilidades. “A ideia é que os moradores possam colocar suas habilidades à disposição do território, promovendo um intercâmbio cultural a partir da oferta de oficinas de danças, música e outras”, finaliza José.
Contato:
Escola de Ensino Médio Professor Milton Façanha Abreu
(85) 3328-1961