publicado dia 27/03/2023

Como pensar saídas para a violência extrema contra escolas

Reportagem:

Esta segunda-feira (27/03) foi marcada por mais um ataque com uso de violência extrema contra escolas no Brasil, o 23º nos últimos 20 anos. Um estudante de 13 anos, do 8° ano da E.E. Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo (SP), feriu quatro professoras e um aluno com uma faca. Uma das educadoras, Elisabete Tenreiro, de 71 anos, teve uma parada cardíaca e faleceu.

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O atentado faz parte de um triste histórico brasileiro, que teve início nos anos 2000, com um ataque à E. E. Coronel Benedito Ortiz, em Taiúva (SP). De 2002 a 2023, de acordo com um levantamento inédito da Unicamp, já são 23 casos, incluindo o atual. Só no último semestre de 2022, foram registrados quatro episódios extremos de violência escolar.  

Dados do relatório “O ultraconservadorismo e extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às instituições de ensino e alternativas para a ação governamental“, enviado ao Governo de Transição pela Campanha Nacional Pelo Direito à Educação em dezembro de 2022, já acendiam o alerta para a escalada dos episódios de uso de violência extrema no ambiente escolar. 

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Nas discussões que essas violências suscitam, é comum que a primeira pauta seja em torno de falar em “escolas violentas”, propondo soluções como sistemas de monitoramento, catracas, polícia e até armar professores. 

Para Catarina de Almeida Santos, professora na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), esses debates desviam o olhar da raiz da questão: “A escola é vítima, não é ela que está causando essa violência. Tem bullying e outras violências, mas não é essa a causa. A sociedade olha como se o problema fosse a escola, como se fosse o lugar da violência, mas ela não está apartada de todo esse contexto, então a escola sofre as consequências da violência em toda a sociedade”, disse Catarina em entrevista sobre o ataque em Aracruz (SP), no ano passado. 

Nesse sentido, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida, reforçou a necessidade de combater um tipo específico de violência presente em nossa sociedade. A investigação ainda está em andamento, mas há indícios de que o estudante teria discutido com colegas e feito ataques racistas na semana passada. Além disso, assim como ocorreu em outros casos recentes, o atentado teria sido anunciado nas redes sociais. 

“Estamos diante de algo que é parte do processo de formação da subjetividade, de ideologia, e que passa, portanto, pela própria formação dos afetos neste mundo em crise. Por este motivo o @mdhc constituiu o GT de enfrentamento ao discurso de ódio e ao extremismo”, disse o ministro em suas redes sociais, após manifestar solidariedade às vítimas, famílias e amigos.

Como a Educação pode ajudar

Ainda que a responsabilidade não seja inteiramente das escolas, elas podem ter um papel bem importante na rede de enfrentamento às violências. 

Em relação a fechar as escolas cada vez mais, estudos de segurança pública e experiências de escolas mostram que há mais segurança seguindo o caminho contrário: abrindo as portas para a comunidade e o território.

É o que explica a socióloga e educadora Helena Singer e o atual Secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ariel de Castro Alves, sobre as possibilidades para lidar com a violência.

Já no trabalho entre professores e estudantes, há estreita relação entre a concepção de Educação Integral e a formação de uma sociedade menos racista, desigual e intolerante. 

“O principal objetivo [da Educação Integral] é conviver de maneira mais humana, livre de preconceitos e com um olhar integral para as crianças, adolescentes e jovens, a fim de transformar, cotidianamente, a realidade de forma crítica e propositiva”, explica Miriam Abramovay, coordenadora do Programa de Estudos e Políticas sobre Juventude, Educação e Gênero: violências e convivência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), em seu artigo “Como a Educação Integral apoia o enfrentamento à violência nas escolas“.

*Crédito pela foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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