Em Jundiaí (SP), crianças aprendem fora da escola e com a natureza
Publicado dia 26/06/2023
Publicado dia 26/06/2023
Em Jundiaí (SP), as crianças aprendem fora da escola, por meio de projetos, experimentações, em contato com a natureza e com o outro, tendo o respeito aos seus direitos integrais como primeiro ponto para que tudo isso possa acontecer.
Esse é o cerne do Programa Escola Inovadora, que teve início em 2018, e implementou a Educação Integral em todas as 105 escolas da rede, que atende crianças da Educação Infantil ao Ensino Fundamental 1.
Parte delas também ofertam o tempo integral – são 6 de Ensino Fundamental, 15 creches e outras 5 em que a jornada foi estendida apenas para o 5° ano, como forma de promover melhores aprendizagens para os estudantes mais impactados pela pandemia. Há, ainda, escolas que atendem nos dois modelos, de acordo com as demandas específicas de cada família.
“A maioria das nossas escolas de tempo integral, e toda nova tecnologia ou projeto que chega, vão para as bordas da cidade, onde as crianças mais pobres precisam mais da escola – uma forma de promover a equidade no nosso território”, diz Vastí Ferrari Marques, Secretária Municipal de Educação de Jundiaí (SP).
Todas as escolas da rede possuem uma horta, que é acessível a pessoas em cadeira de rodas, e todas as unidades terão, até o final deste ano, colmeias de abelhas sem ferrão, que ajudam o meio ambiente e ensinam sobre ecossistema e sustentabilidade.
As produções das hortas, que incluem plantas alimentícias não convencionais (PANCs), são oferecidas na merenda escolar – a primeira cidade brasileira a tomar essa iniciativa.
“A horta ensina tudo: Física, Química, Português, alimentação saudável, sustentabilidade, cultura da terra. Também promovemos brincadeiras com água, areia, fogo, escaladas em árvores, porque tudo isso constituiu a integralidade das experiências humanas e que as crianças acessam por meio das brincadeiras”, explica Vastí.
Referência na pedagogia praticada pela Reggio Emilia, Loris Malaguzzi (1920-1994) já dizia que o ambiente é o terceiro educador e Jundiaí colocou o princípio do pedagogo italiano em prática. Por isso as hortas, mas também a atenção a outros pontos: todas as comunicações visuais da escola, como murais e placas, estão à altura dos olhos das crianças. São elas que servem a própria merenda. E as aprendizagens não acontecem apenas dentro da escola, mas também em praças, parques e equipamentos de Esporte e Cultura.
“A Cultura, por exemplo, tem companhias municipais de ballet, orquestra, teatro, que vão para as escolas e que recebem nossas crianças, tudo isso sendo cuidado para que haja descentralização para todos os bairros”, pontua a gestora municipal.
O projeto pedagógico do Programa Escola Inovadora também prevê o ensino de Inglês, robótica, programação e música a partir dos 4 anos de idade. Também utilizam muitos jogos de tabuleiro, que apoiam o desenvolvimento de raciocínio lógico-matemático, o trabalho em equipe e ensinam que vencer nem sempre é o mais importante.
As escolas não possuem laboratórios de informática, mas carrinhos com equipamentos tecnológicos que circulam pela escola e se integram às atividades conforme necessário.
Repórteres mirins também são formados nas escolas de Jundiaí, que fazem a cobertura dos eventos de sua unidade e aprendem a se comunicar, utilizar as tecnologias digitais e a combater as fake news. E quando chega sexta-feira, as crianças já sabem: é hora de pegar sua sacola “Contém Sonhos”, com um livro para ler com a família em casa.
“Que a Escola Inovadora seja uma política pública permanente, mas que ela possa ser revitalizada e revigorada na medida em que a sociedade vai se transformando. E queremos trazer cada vez mais isso para a cidade, onde a escola acontece, e tem que acontecer com qualidade. Que essa possa ser uma política para a sociedade, para as crianças, não para um partido”, defende Vastí.
A proteção aos direitos das infâncias
Em 2021, a Secretaria de Educação de Jundiaí lançou um programa de Comunicação Não-Violenta, que visa romper com ciclos de violências. “Percebemos que a violência está dentro da casa das crianças, não só nas ruas”, afirma Vastí.
Por meio de uma peça de teatro, as escolas abordam com as famílias o enfrentamento à cultura de que para educar é preciso bater, humilhar e xingar. Dos 38 mil estudantes da rede, foi priorizado o trabalho com as famílias de 6 mil crianças que sofriam algum tipo de violência doméstica.
O projeto conta com apoio da Urban95, Instituto Alana, Rede Cidade das Crianças e Cria na Paz, bem como a Saúde, Assistência Social, Cultura e Esporte. Ele faz parte da atenção integral que as escolas dedicam às crianças, como observar se estão privadas do direito à alimentação adequada e à moradia, e acionar essa rede de proteção intersetorial.
“Trabalhamos pela pacificação das comunidades, por uma sociedade mais tranquila, amigável, empática e sustentável. Para que todas as crianças tenham seus direitos garantidos e para mostrar para a sociedade que sem a escola, não há como transformar a sociedade. Escola é lugar de vida”, afirma a gestora municipal.
Há 7 anos a Prefeitura de Jundiaí trabalha de forma intersetorial. Toda segunda-feira, os gestores se reúnem para discutir e alinhar as ações das políticas públicas do município, em um trabalho que chamam “em plataforma”.
“Para a volta às aulas, por exemplo, nos reunimos em dezembro porque as calçadas tem que estar boas, as árvores e gramas dos parques precisam estar podadas, os centros esportivos precisam estar abertos. Todos nós trabalhamos por um mesmo objetivo e isso é muito forte na nossa administração”, explica Vastí.
Há, ainda, a plataforma Alertas da Infância, que cruza dados da Assistência Social, Saúde e Educação. Dessa forma, se um estudante começa a faltar ou se a carteira de vacinação está incompleta, os outros órgãos são acionados para entender o que está acontecendo e apoiar na garantia de seus direitos.
“Isso tudo ajuda a otimizar o Orçamento das pastas e temos orgulho de bater a casa dos 30% do Orçamento municipal para a Educação, porque Educação de qualidade não se faz sem dinheiro”, aponta a Secretária.
Em uma escola, todos são educadores. Por isso, zeladores, assistentes administrativos, merendeiras, profissionais da limpeza, professores e coordenadores recebem formação o ano inteiro, desde temas relacionados às suas próprias áreas até a inclusão.
“Sobre os professores, vemos esses profissionais como produtores de conhecimento, como sujeitos intelectualizados, que no ano passado tiveram 2 mil horas de formação, o que é mais do que um MBA ou pós-doutorado”, celebra Vastí, que reforça que esta é uma das maneiras de valorizar os educadores.
Crianças a partir de 3 anos participam de seus Conselhos de Escola para deliberar sobre problemas e fazer sugestões. A cada 2 meses, se reúnem com a Secretária para contar como vai a escola e os movimentos da cidade.
Com os adultos, o monitoramento é feito em fases e de forma próxima às escolas, que a Secretária diz fazer questão de visitar com frequência. “Fui diretora de escola e quero saber como cada um está olhando para o Programa”, afirma Vastí.
Conforme a política ganhou corpo nos últimos anos, as famílias passaram a conhecer melhor o trabalho realizado e se apropriar dele. Hoje também são elas as responsáveis por acompanhar o programa. “Elas cobram a Secretaria quando a escola deixa algo para trás, porque sabem o que tem que ter, e me ajudam a instrumentalizar a escola e dar condições para que ela realize o trabalho que as crianças e suas famílias precisam e merecem”, diz a gestora.
*Crédito pelas fotos: Secretaria Municipal de Educação de Jundiaí (SP)