Território do Brincar promove intercâmbio cultural de brincadeiras
Publicado dia 19/06/2014
Publicado dia 19/06/2014
Conhecer a criança e a cultura da infância a partir do brincar. Esse é o principal objetivo do Território do Brincar, projeto coordenado pela educadora Renata Meirelles e pelo documentarista David Reeks. A partir de um trabalho de escuta dos repertórios de brincadeiras de crianças de diversas localidades brasileiras, a dupla promove o intercâmbio de saberes, registros e difusão da cultura infantil.
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O trabalho de observação e registro das brincadeiras já havia sido iniciado por Renata junto às comunidades da Amazônia, em 1999, por meio do então Projeto Bira. Em 2012, essa experiência foi redesenhada prevendo visita a novos territórios e assim se consolidou o Território do Brincar, com a parceria de algumas escolas e do Instituto Alana.
As visitas da dupla incluem territórios dos mais diversos – comunidades rurais, indígenas, quilombolas, grandes metrópoles, sertão e litoral do Brasil. A cada imersão, Renata e David usam da mesma estratégia: se aproximam das crianças em um momento de brincadeira e não interferem na dinâmica da mesma, apenas a registram, justamente porque o que interessa aos pesquisadores é a forma regional e autêntica que cada uma delas têm de se divertir. A participação dos pesquisadores surge no momento de construção dos brinquedos, em muitas regiões feitos de forma manual, que também diz de um repertório e criatividade característicos da cultura local.
Geralmente, a dupla passa de dois a três meses em cada localidade para conhecer a comunidade, suas manifestações culturais e as formas de brincar típicas. Para os gestores do Território do Brincar, a cultura da infância é formada pelas brincadeiras, pelas expressões corporais e pelos brinquedos das crianças, características que pautam a observação dos pesquisadores.
Em 2012, o Território do Brincar esteve em municípios pomeranos no Espírito Santo, no Recôncavo Baiano (BA) e no Pará, em uma aldeia indígena; em 2013, o projeto foi ao Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais, a São Paulo – onde registrou as formas de brincar de crianças da classe média e periferia -, ao litoral do Ceará, São Luís (MA) e às comunidades de Entre Rios (MG) e Oiteiros (SE), Jaguarão (RS) e Costa da Lagoa (SC). Em 2014, o projeto focou a comunidade do Jardim Pantanal, zona leste de São Paulo.
Para Renata Meirelles, idealizadora do Território do Brincar, “o brincar é a expressão máxima da criança”. É a partir da brincadeira que a ela estabelece o seu olhar para o mundo, além da atividade ser capaz de desenvolver habilidades físicas, motoras ou cognitivas. O momento lúdico faz com que a criança experimente a realidade e também ajuda a desenvolver valores essenciais para o seu desenvolvimento, como responsabilidade, companheirismo, noções de compartilhamento e regras de convivência coletiva. É importante considerar o brincar em diversos tempos e espaços, já que essa é uma forma de apropriação, de aprendizagem da infância.
Cada viagem rende à dupla de pesquisadores um rico material de acervo: vídeos, fotos e brinquedos que acabam ganhando das crianças das comunidades por onde passam. Atualmente, já são 900 horas de viagens, 20 mil fotos e cerca de 250 brinquedos. As imersões realizadas foram separadas por região – são sete ao todo – e cada uma delas tem um vídeo específico para as brincadeiras regionais.
1. Território do Brincar em municípios pomeranos do Espírito Santo (1ª região)
2. Território do Brincar no Recôncavo Baiano (BA) (2ª região)
3. Território do Brincar no Território Indígena Panará, no Pará (3ª região)
As demais produções podem ser vistas no canal do Território do Brincar no Youtube.
Os encontros com cada comunidade são partida para reflexões e pesquisas sobre a dinâmica do brincar e sua importância no desenvolvimento dos indivíduos. Esse material tem sido compartilhado com algumas escolas públicas e privadas, atualmente parceiras do projeto: Colégio Oswald, Escola Vera Cruz, Centro de Educação Infantil (CEI) Alana, Instituto Sidarta, Escola Viverde e Casa Amarela.
Mensalmente, cada instituição tem um encontro virtual com a educadora para que, a partir do material coletado, possam discutir e refletir sobre as ações pedagógicas para integrar o brincar e seus potenciais educativos à realidade dos alunos.
Esse diálogo tem favorecido o olhar de cada comunidade escolar para outras possibilidades de aprendizagem além de promover discussões sobre a gestão escolar, para que o projeto político pedagógico de cada instituição possa contemplar o brincar e a ludicidade ao processo de ensino e aprendizagem.
No início do ano, o Território do Brincar exibiu uma série Curtas do Território do Brincar durante o Ciranda de Filmes, apresentada em São Paulo, pelo Instituto Alana, em parceria com o Circuito Cinearte e Aiuê Produtora de Conteúdo. O filme foi feito como uma série para ser veiculada em TV, como forma de massificar a importância do brincar. Também foi organizada uma exposição com os brinquedos coletados durante as viagens.
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Em suas relações com a comunidade, a iniciativa apresenta a temática do brincar para um público amplo, fomentando reflexões e debates sobre a importância de garantir momentos lúdicos durante a infância, tema de grande importância do desenvolvimento integral das crianças e adolescentes.
Afinal, o brincar é a primeira atividade lúdica acessível ao ser humano e uma das primeiras possibilidades de conhecer o mundo ao seu redor. Além de desenvolver inúmeras habilidades nas crianças (motoras, de aprendizagem, socioemocionais, de imaginação e memória, etc), o brincar viabiliza a sociabilidade das crianças e o contato delas com a vida coletiva e construções em grupo.
Especificamente em relação às escolas, o projeto amplia o repertório cultural de professores e gestores e coloca a temática sob uma perspectiva pedagógica, que valoriza o brincar e reconhece as potencialidades educativas de brincadeiras diversas.
Contatos
Site: www.territoriodobrincar.com.br
Facebook: facebook/TerritoriodoBrincar