publicado dia 06/11/2023
Igualdade de gênero, xenofobia e outros temas abordados pelo Enem em 2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 06/11/2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
Resumo: O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, realizado neste domingo (5/11), abordou diversos desafios contemporâneos, como a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado por mulheres, racismo, ditadura e crise climática.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2022, as mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais a afazeres domésticos, enquanto os homens despendem 11,7 horas.
Para as mulheres que se declararam pretas, a sobrecarga é ainda maior, com uma taxa de realização de afazeres domésticos de 92,7%, superior à de mulheres brancas e pardas e homens negros, pardos e brancos.
Neste final de semana, cerca de 2,8 milhões de jovens e adultos foram convocados a refletir sobre as causas, consequências e possíveis intervenções sobre este problema social durante a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Relevante e urgente, o tema foi descrito como “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Além deste, outras questões e desafios contemporâneos também apareceram entre as questões do Exame. Depois de três anos, a prova voltou a abordar a ditadura militar, tema que aparecia nas provas desde 2009.
Em 2019, o governo Bolsonaro criou uma comissão para para decidir as questões que entrariam ou não na edição do Enem. Entre as discussões, sugeriram trocar “ditadura” por “regime militar”, justificando que o termo geraria “leitura direcionada da história”.
A música “Que quede claro“, da banda cubana Orishas, foi mencionada enquanto denúncia da xenofobia e da discriminação racial:
“Como é possível que tantas bocas, tantos olhos estejam fechados?
Tantas portas, muitas mentes diante de um ato xenófobo sem precedentes
Presidentes, ministros, chanceleres, autoridades, funcionários
Quem vai pagar pelos danos causados aos familiares, por um maluco na estrada
Sem educação”, diz um trecho da música utilizada pela prova e em tradução livre do espanhol.
Esta também foi a primeira edição com a prova colorida, que facilita a leitura sobretudo para candidatos com baixa visão.
Em uma tirinha da cartunista Laerte, o Enem convidou os estudantes a refletirem sobre poder político. Em outras, sobre diversidade e sobre a questão indígena e os interesses de bilionários.
Paulo Freire e a pedagogia da autonomia, a escritora Conceição Evaristo e o escritor Itamar Vieira Júnior também foram citados na prova. Uma dessas questões falava sobre a participação da primeira mulher trans nas Olimpíadas de Tóquio. Outra, sobre o sentido da palavra “casamento” no dicionário.
Em meio à guerra na Faixa de Gaza, deflagrada no início de outubro, o Enem também olhou para a história da Palestina e a migração de judeus para o Brasil. Silenciamento feminino e Lei Maria da Penha também estiveram entre as perguntas.
O canto da torcida do Fluminense também foi tema. Uma das músicas do time, direcionada à torcida do Flamengo, falava “mulambo imundo”. O Exame apontava a conotação racista do termo mulambo, que é de origem angolana, significa farrapo e costuma ser usada em tom pejorativo para indicar uma pessoa mal arrumada.
Questões internacionais e mundiais também abordaram a questão do capitalismo, os territórios chineses, o Mercosul e a União Europeia, a questão das Coreias e o aquecimento global.