Tremembé prioriza apoio às famílias para manter crianças em contexto de aprendizagem
Publicado dia 15/04/2020
Publicado dia 15/04/2020
“Ninguém em casa sem aprender, porque famílias e escolas estão juntas!”. Este tem sido o lema da Secretaria de Educação de Tremembé (SP) desde que a pandemia de Covid-19 (novo Coronavírus) forçou o fechamento das escolas por todo o Brasil. Por meio da busca ativa e do contato direto com as famílias, o município vem criando e adaptando estratégias para garantir que nenhuma criança ou adolescente seja privado do direito a uma educação de qualidade durante a crise.
Leia + O papel da Educação Integral durante a crise, por Natacha Costa
“Muitas redes decidiram partir direto para EaD, antecipar o recesso, e oferecer atividades online, mas isso não funcionaria para nós. Temos um trabalho diferente, levamos a Educação Integral a sério, e por isso a nossa prioridade é trabalhar com as famílias”, destaca Cristiana Berthoud, secretária de Educação de Tremembé (SP).
Assim, logo que foi anunciado que as escolas fechariam, diretores e professores se organizaram para criar grupos de WhatsApp ou Facebook com as famílias de seus estudantes, atualizando contatos e endereços, trabalho que segue sendo feito.
“Temos mapeados cerca de 90% dos nossos estudantes, com detalhes de informação sobre os aparelhos eletrônicos e plataformas a que eles têm acesso e se há conexão com a internet.”, relata Victor Narezi, técnico da Secretaria de Educação.
Foi a partir dessas informações, que retratam a realidade com que a Secretaria e as escolas estão lidando, que coordenadores e professores começaram a planejar e personalizar as atividades que os estudantes poderiam fazer em casa, sem deixar ninguém de fora.
Contudo, para a rede de Tremembé isso não se trata de transpor conteúdos da escola para casa. “Quando falo que a casa virou uma sala de aula, estou invizibilizando a família. Precisamos dela, porque os alunos estão inacessíveis para nós, e porque temos de apoiá-las, e valorizar seus saberes e jeitos de ensinar. Trata-se de um processo de ensino e aprendizagem que faça sentido para professores, famílias e alunos.”, diz a secretária de Educação.
Por isso, as primeiras atividades planejadas tiveram por objetivo evidenciar para as famílias que a rotina de casa também tem grande valor pedagógico para as crianças, como cantar uma música juntos, vendar um adulto e pedir que a criança o orientasse para realizar uma tarefa, como cuidar da horta de casa, e até o simples ato de reunir a família toda para jantar.
Já a etapa seguinte de atividades consistiu em entrelaçar a atuação, os saberes e a rotina das famílias aos conteúdos curriculares. Para as aulas de Artes do 5º ano, por exemplo, os estudantes foram convidados a criar um instrumento que emitisse algum tipo de som a partir de materiais que tivessem em casa.
Em História, para os anos finais do Ensino Fundamental, os professores aproveitaram os objetos do conhecimento ligados a como a sociedade reage a diferentes acontecimentos, como as pandemias, para promover reflexões e debates dentro da própria família, e depois compartilhar com o grupo. Os estudantes também têm feito levantamentos da história das famílias e o resgate de lendas do território.
“Nesse processo todo, não abrimos mão de que os professores tenham clareza de quais competências e habilidades da BNCC essas atividades estão desenvolvendo, e como isso pode ser atrelado aos saberes do território e das famílias”, explica Luana Campos, técnica da Secretaria de Educação.
E para não sobrecarregar os responsáveis pelos estudantes com demandas diárias, os professores planejam e enviam uma quantidade de atividades para 15 dias, e eles se organizam a partir de suas rotinas.
Para sustentar e planejar esse trabalho pedagógico, os professores e coordenadores têm se reunido periodicamente, em encontros virtuais, para discussões. E durante todo esse processo, tanto a Secretaria quanto as escolas têm feito uma interlocução com as famílias, ouvindo delas o que tem dado certo e o que precisa ser adaptado. “Está em construção a todo tempo”, ressalta Cristiana.
A Secretaria já está em contato com 90% de seus 6 mil alunos. Para alcançar os outros 10%, a Secretaria tem contado com a atuação em rede das famílias e de toda a comunidade — um trabalho de integração que o município vem cultivando há mais de seis anos.
Leia + Escola além dos muros: a comunidade de aprendizagem de Tremembé (SP)
“Uma mãe ligou para falar que dois vizinhos próximos [com crianças em idade escolar] estão sem acesso a internet, e que ela está ajudando com orientações e na realização das atividades. É uma família cuidando da outra, e nós vamos nos planejar para auxiliá-los também”, descreve Victor.
Além disso, cada turma de estudantes também organizou uma escala circular, de forma que uma família se responsabiliza por ligar para outra, para saber do que precisam, e se está tudo bem. E os diretores escolares também criaram um grupo de suporte, para auxiliar em outras questões e acionar outros setores, como necessidades imediatas de alimentação.
E a comunidade também pode contribuir. Por meio do portal Educa Tremembé, é possível enviar vídeos para dividir histórias antigas, receitas, músicas e fazeres. “Todo mundo tem algo a ensinar e todo mundo pode aprender”, diz Cristiana.
A secretária observa, contudo, que todo o trabalho da rede tem sido feito de maneira isolada, por falta de apoio e orientações de instâncias educacionais superiores.
“Estamos muito sozinhos, tentando descobrir o caminho dia a dia, criando estratégias para trabalhar com o que temos agora, e planejando uma semana de cada vez. O importante é garantir a melhor qualidade agora, e que os estudantes estejam interessados em aprender, aprendendo a aprender de jeito diferente, e engajar a família para também se responsabilizar pela aprendizagem, e mostrar que eles também têm papel nisso”, conclui a Secretária.
Escola