publicado dia 22/08/2019
“Não temos um único método de alfabetização”, diz professora de Sobral (CE)
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 22/08/2019
Reportagem: Ingrid Matuoka
O município de Sobral (CE) é reconhecido por ter melhorado a qualidade da educação de maneira significativa nos últimos 20 anos. Se nos anos 90, 46% dos alunos eram considerados analfabetos escolares, hoje 83% das crianças têm alto nível de proficiência em leitura e 91% em escrita. Na média do país, estas taxas são de 45% e 66%, respectivamente.
Ticiane Maria de Sousa Silva, professora da rede municipal de Sobral, afirma que parte desse sucesso se deve à maneira de encarar a alfabetização. “Não temos um único método de alfabetização porque o professor deve ter autonomia para escolher. E essa decisão deve partir da observação de como cada criança aprende”, disse a docente durante o 3º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação.
Mirlene Barcelos, que participa do Núcleo de Alfabetização e Letramento em Lagoa Santa (MG), orientado há 12 anos pela professora Magda Soares, concordou: “O projeto de alfabetização não é firmado em um único método, ele tem procedimentos diferenciados.”
Em ambos os municípios, os professores recorrem à ludicidade, à aprendizagem significativa e contextualizada. Promovem interação entre os pares, a família e a comunidade. Também defendem que se deve promover diagnósticos da aprendizagem em lugar de simplesmente atribuir notas, e que a rede inteira é responsável pela alfabetização das crianças. “O professor não alfabetiza sozinho. Ele precisa de apoio da gestão da escola e da secretaria de sua rede de ensino”, afirmou Ticiane.
Olhar para as práticas exitosas no Brasil, como as de Sobral e Lagoa Santa, pode ser um caminho para estruturar políticas públicas de alfabetização. Na contramão, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que os “dogmas da alfabetização”, referindo-se às práticas adotadas nas últimas décadas, são responsáveis pelas taxas de analfabetismo entre crianças brasileiras.
A fala ocorreu durante o evento de lançamento da cartilha da Política Nacional de Alfabetização (PNA), que ocorreu em 15 de agosto. Embora ela não aponte diretamente para um método específico, material privilegia o método fônico, como já defendido anteriormente pela pasta.
“A política vem de cima e não dialoga com a nossa realidade. Não é assim que vamos conseguir resultados melhores”, criticou Mirlene.
Para Ticiane, o sucesso que a rede tem obtido é fruto também da continuidade das políticas. “Não pode simplesmente interromper o que está em andamento. Precisamos focar nas políticas públicas de qualidade e que façam sentido, investimento, formação de professores, e decisões em rede”, recomendou.