publicado dia 09/08/2016

A escola ainda é um espaço “adultocêntrico” e fechado à participação juvenil

Reportagem:

A escola é um espaço criado para crianças e jovens, mas é também onde, na maioria das vezes, a voz do adulto é que fala mais alto e determina as dinâmicas e processos. Para comprovar isso faça um pequeno exercício, volte no tempo, relembre da sua experiência como estudante e tente responder: quantas vezes você foi consultado sobre como deveria ser organizada sua sala de aula? Quantas vezes perguntaram quais conteúdos você gostaria de aprender? Quantas vezes perguntaram o que você faz ou o que sabe?

Muito provavelmente suas respostas encontram eco na fala de professores, estudantes e pesquisadores que afirmam que a escola tradicional brasileira é pensada de forma “adultocêntrica”, em que diretores, coordenadores pedagógicos e professores têm, no mínimo, um grande peso sobre as decisões que são tomadas, deixando as crianças e os jovens à margem dos processos de ensino e aprendizagem.

Para a estudante de ensino médio da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de Janeiro (Faetc), Mayara Donaria Araújo, muitas vezes, a sensação é de como se o aluno não existisse dentro da escola. Ela conta que, recentemente, dadas as mudanças da gestão educacional do estado, vários projetos foram cortados sem que ao menos os jovens fossem consultados sobre o tema.

Mayara participou das ocupações de escola no Rio de Janeiro

Mayara participou das ocupações de escola no Rio de Janeiro

“A direção da escola cortou projetos de teatro, línguas, danças e não consultou os estudantes que são efetivamente os que usufruem dessas aulas. Não fomos chamados a dizer o que pensávamos”, afirmou a estudante que foi uma das que ocupou escola na esteira dos vários movimentos que têm ocorrido no país.

Para Mayara, os estudantes não têm o direito de contribuir e propor atividades, de interferir nas formas de pensar as aulas e nos projetos, e de efetivamente transformar a escola em um espaço de educação democrática.

“Quem pensa a política para a rede de ensino está longe da escola e quem está na escola, em muitos casos, está distante daqueles que recebem o ensino”, definiu a secundarista que participou do primeiro Seminário Internacional Equidade e Educação Integral no Ensino Médio, promovido pelo Centro de Referências em Educação Integral em parceria com o Instituto Unibanco.

Segundo a coordenadora de juventude da Secretaria de Educação de Minas Gerais, Priscila Ramalho, a escola está apartada do que os jovens estão pensando e desejam para seu próprio futuro. “O aluno não quer um projeto da escola em que não é chamado para dizer o que quer. Ele faz várias coisas fora da escola e quer trazer isso para dentro do espaço do colégio”, afirmou.

Priscila Ramalho é secretária de juventude da Secretaria de Educação de Minas Gerais

Priscila Ramalho é secretária de juventude da Secretaria de Educação de Minas Gerais

Em muitos casos a unidade de ensino, que recebe centenas ou milhares de crianças e jovens, é a instituição que apresenta a maior resistência para ouvir a pauta que esses adolescentes trazem da relação com o território, de suas vidas. “A escola é um espaço que ainda pensa muito no controle do corpo e pouco em fortalecer a autonomia dos estudantes”, concluiu Priscila.

Gestão compartilhada

Mayara explica que uma das principais reivindicações dos estudantes cariocas durantes as ocupações que ocorrem no estado ao longo do primeiro semestre era a por mais democracia no espaço escolar e por mais diálogo com os interesses dos jovens nos processos pedagógicos. “A vida do jovem não é só a escola. Pelo contrário todos trazem um repertório da rua, de participar de saraus, praticar esportes, de vivências de vida e isso precisa ser levado em conta para a escola fazer sentido para nós”, concluiu Mayara.

Durante o processo de ocupações das escolas, os estudantes inclusive conseguiram vitórias nesse sentido. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou um projeto de lei que obriga as escolas a eleger seus diretores garantindo a participação direta dos adolescentes. O projeto foi sancionado sem vetos pelo governador em exercício do Rio de Janeiro, Alexandre Dornelles (PP), e todas as escolas do estado terão eleições diretas para os cargos de gestão a partir de começo das aulas em 2017. Os votos dos professores e servidores administrativos terão peso de 50%. A outra metade será contabilizada com votos de pais e estudantes.

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