Escola em Brasília oferta ensino de Libras para estudantes surdos e ouvintes
Publicado dia 07/03/2016
Publicado dia 07/03/2016
“A nossa escola está em processo de consolidação”. É assim que a diretora Maristela Batista de Oliveira Bento fala sobre o percurso que a Escola Bilingue Libras e Português Escrito de Taguatinga vem trilhando desde 2013, ano que a instituição deu o pontapé inicial ao projeto político pedagógico “Mãos que constroem um mundo melhor”.
A mudança se deu em cumprimento à Lei 5016/2013 que estabelece diretrizes e parâmetros para o desenvolvimento de políticas públicas educacionais voltadas à educação bilíngue para surdos, a serem implantadas e implementadas no âmbito do Distrito Federal. Com isso, a unidade passou a ser o polo de atendimento de alunos surdos; antes, esses estudantes se encontravam espalhados em várias unidades da rede.
Com a nova diretriz, a escola passou a atender não só os alunos ouvintes que já frequentavam a escola, como também os surdos, em uma proposta de ensino bilíngue – sendo a Língua Brasileira de Sinais (Libras) a língua materna, e o Português escrito a segunda. A metodologia utilizada, como explica Maristela, é a Pedagogia Visual que prevê aulas ministradas com amplo apoio imagético.
A diretora conta que a instituição, hoje, atende cerca de 350 estudantes nas modalidades: estimulação linguística de 0 a 3 anos, os três ciclos da Educação Básica, e Educação de Jovens e Adultos (EJA), no período noturno.
Ela identifica que existem dois movimentos bastante diferentes por parte dos estudantes. Alguns alunos ouvintes “concluem o 5º ano do Fundamental e acabam procurando outra escola”, comenta. Por outro lado, “há os que se matriculam nas salas bilíngues justamente para aprenderem Libras como uma língua de instrução”, esclarece a gestora.
É o caso do aluno José Ilson, 5 anos, que segue para o segundo ano de sua matrícula na escola. “Meu filho é ouvinte e a decisão de colocá-lo em uma sala bilíngue foi para que ele possa desenvolver melhor o convívio com a comunidade de surdos e também para mostrar que a escola bilíngue tem a competência de educar qualquer criança”, explica seu pai, Ilson Lopes, educador e também intérprete de Libras.
Na escola, os alunos das salas bilíngues cumprem jornada em tempo integral, com aulas das 7h30 da manhã às 12h30, pausa para o almoço, e retorno das 14h às 17h. No período, além do currículo básico, a unidade tenta diversificar a aprendizagem dos estudantes por meio de oficinas, pagas com a verba do Programa Mais Educação.
“Estudamos o perfil de cada aluno e priorizamos o que cada um deles necessita”, explica Maristela. Assim, podem ser ofertadas aulas de reforço, ou atividades como dança, teatro e esportes. Na modalidade EJA não há a extensão do tempo, mas a proposta da educação prevê o desenvolvimento integral, com a diversificação das oportunidades de aprendizagem.
Os estudantes que já frequentavam a escola na proposta de ensino anterior continuam no ensino regular, mas convivem com o ensino de Libras uma vez por semana.
O trabalho é favorecido com o tipo de contratação do corpo docente (também há professores surdos), que além da proeficiência em Libras, atua em jornada exclusiva. Maristela entende que essa é a melhor maneira de se garantir proximidade entre os professores e alunos no processo de ensino aprendizagem. Além deles, também se fazem presentes monitores contratados pela Secretaria da Educação e que ofertam as oficinas diversificadas. A formação desses profissionais é feita pela Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação e também por cursos direcionados.
O tema do projeto pedagógico se traduz, na prática, com muita participação. “Tudo na escola é construído a partir dos alunos”, comenta Maristela. Baseada na gestão democrática, a escola mantém algumas instâncias que possibilitam aos estudantes participarem de um debate coletivo em prol da melhoria da instituição.
Para além dos momentos em sala de aula, esses espaços também reforçam a importância da convivência entre os estudantes ouvintes e surdos, promovem a interação de seus familiares e do corpo docente, fazendo com que o projeto pedagógico da escola seja discutido a partir de um leque de necessidades e possibilidades, prevendo a total acessibilidade dos que compõem a instituição.
Mensalmente, há a realização do Conselho Escolar que prevê a participação dos estudantes, familiares, comunidade, direção e convidados para debaterem os problemas da escola; a agenda, segundo a diretora, ainda pode ser permeada por reuniões extraordinárias, dependendo da demanda.
Além disso, há os conselhos participativos, integrados pelos mesmos integrantes do conselho escolar e que buscam garantir uma pauta de discussão sobre temas da comunidade escolar.
A cada bimestre ainda acontece a Avaliação Institucional, dia reservado para que todas as áreas da escola – administrativa e pedagógica -, envolvendo direção, estudantes e familiares, façam um balanço coletivo sobre os pontos positivos e negativos que permeiam a escola.
Os apontamentos de ordem pedagógica são encaminhados para as coletivas de professores, reuniões semanais, em que o corpo docente, em conjunto com as demais áreas escolares, fazem uma avaliação das práticas e consideram formas de aperfeiçoar ou criar novos percursos de aprendizagem.
Para Maristela, no entanto, tais percursos nunca estão finalizados e carecem de uma reflexão contínua. “Precisamos sempre refletir sobre essa escola, que é diferente. O nosso grande desafio diário é promover uma educação inclusiva para públicos que têm uma necessidade de aprendizagem diferente”, avalia. Por outro lado, entende que o bilinguismo configura-se numa espécie de chave para aproximar sujeitos de dois mundos que, em outra situação, não se integrariam.
Contato:
Escola Bilingue Libras e Português Escrito de Taguatinga
Telefone: (61) 39016741
Email: [email protected]