Vos me importas: programa ressignifica a permanência da juventude nas escolas
Publicado dia 10/03/2015
Publicado dia 10/03/2015
Para caminhar em direção ao desenvolvimento integral e acesso à educação da juventude, o município de San Francisco, localizado na província de Córdoba, na Argentina, teve de se organizar para enfrentar um de seus principais entraves: alto índice de evasão escolar, motivado pelo fato dos adolescentes terem que trabalhar e ajudar em casa ou pelos frequentes casos de gravidez. Para contornar o cenário, a gestão pública decidiu se aproximar da comunidade, convidada a uma participação ativa para construir ações efetivamente inclusivas para a juventude.
Nascia, assim, em 2008, o programa Vos me importas (Você é importante para mim) com o objetivo de propor planos e ações transversais a partir das necessidades da juventude de cada território. A proposta, inicialmente gerida pela Secretaria de Saúde, se organizou a partir de um arranjo compartilhado entre demais pastas da gestão pública, escolas, institutos de formação docente e universidades e organizações do terceiro setor.
A construção conjunta tinha como principal diretiva a manutenção da juventude no percurso escolar, mas também sua qualificação como maneira de garantir oportunidades para que se desenvolvessem integralmente. Para tanto, foi preciso investir em uma compreensão sistemática dos motivos que levavam os jovens à evasão e a estruturação de uma rede socioeducativa capaz de responder ao complexo cenário identificado.
Isso definiu as estratégias complementares e interdependentes: o trabalho com os jovens pais e mães, garantindo espaços de cuidado e formação inicial para seus filhos; estratégias de acompanhamento dos jovens em seu percurso educativo e ampliação de suas oportunidades formativas.
Anualmente, o programa inicia suas ações com um diagnóstico, aplicado em três meses, da juventude que evadiram a escola no último ano, correlacionando dados do Ministério da Educação com entrevistas e pesquisas locais. Em seguida, é feita uma campanha – gerida em parceria com organizações da comunidade – para incentivar matrículas dos jovens em escolas de educação secundária localizadas próximas às unidades de atendimento para crianças.
Durante nove meses, os jovens são convidados a frequentar as aulas, normalmente oferecidas no período noturno, enquanto seus filhos atendem um centro de cuidados interdisciplinar, com alimentação, atividades educativas, recreativas, descanso e cuidados de saúde e sócio-assistenciais.
Para acompanhar os jovens em seu retorno aos estudos, as escolas recebem o apoio de voluntários de universidades e institutos de formação docente. Além de apoio direto com os alunos, o grupo também dialoga com os professores, buscando correlacionar as atividades escolares com aspectos significativos para vida dos jovens.
Paralelamente, o programa disponibiliza uma equipe da Assistência Social que acompanha os jovens individualmente, e com eles, estabelece estratégias para evitar novo abandono. Temáticas como a da gravidez na adolescência e mundo do trabalho são trazidas para debate e, quando necessário, são acessados recursos de atendimento psicológico, médico e jurídico. Esse atendimento também se amplia à comunidade, como forma de aconselhar sobre alternativas de formação e inserção no mundo do trabalho, ampliando a rede de proteção tanto ao jovem atendido pelo programa, quanto para sua família.
O programa de atendimento às crianças também segue projeto pedagógico que objetiva o desenvolvimento da criança em suas múltiplas dimensões: aspectos físicos, cognitivos, emocionais, etc. Os pólos de educação infantil, abertos das 7 da manhã às 11 da noite, se configuram como espaços para a saúde e bem estar das crianças. E, envolvendo os jovens pais, são frequentes os momentos de troca com os familiares, promovendo trocas de experiências entre eles e a discussão de atitudes e valores que esperam de seus filhos, parceiros e pares.
Todo o percurso é balizado por avaliações conjuntas com os diversos públicos envolvidos. Os alunos são ouvidos enquanto estudantes e pais ou mães, com espaço para apresentarem suas necessidades, avanços e propostas. O mesmo é feito com as escolas que avaliam o percurso pedagógico do estudante e apresentam os relatórios de atendimento e desempenho. Por sua vez, a equipe de saúde municipal, que presta atendimento às crianças e seus familiares, e os voluntários de apoio também trocam suas experiências e possíveis sugestões de melhoria na condução do programa.
O trabalho mostra que o caminho para garantir a aprendizagem qualificada é o da coletividade, sincronizando recursos e múltiplos esforços dos diversos agentes e mecanismos que compõem um território. Desde o início da iniciativa, 38 estudantes que passaram pela situação de gravidez precoce conseguiram finalizar seus estudos; o atendimento às crianças também cresceu e acumulou total de 48 atendidos.
Esse arranjo modifica a percepção dos jovens sobre a educação, entendida como estruturante para uma vida em melhores condições; também os sensibiliza para a questão dos direitos humanos, afastando-os de uma visão paternalista de que as responsabilidades da maternidade só recaem sobre as garotas.
A ideia do programa é ampliar a capacidade de atendimento tanto para outros jovens – não necessariamente evadidos – como para as crianças, devida à alta procura que recebe todos os anos.