publicado dia 10/12/2014
Seminário discute em oficinas práticas como apoiar escolas na educação integral
Reportagem: Julia Dietrich
publicado dia 10/12/2014
Reportagem: Julia Dietrich
Diálogo escola-comunidade, papel do professor e mediação, projetos de vida e protagonismo juvenil, articulação intersetorial, uso das TICs e produção de conhecimento, aprendizagem centrada no estudante e ensino personalizado. Todas preocupações comuns às escolas brasileiras no cenário contemporâneo e todos desafios que se apresentam cada vez mais, exigindo respostas das instituições de ensino e órgãos públicos.
Foi para apoiar nessa discussão que o Instituto Inspirare, em parceria com as Secretarias de Educação Municipal de Salvador e Estadual da Bahia, promoveram o 2º Seminário de Educação Integral, hoje (10/12), na capital baiana. A iniciativa é parte integrante dos esforços dos órgãos para formação de docentes e equipes escolares. “A educação integral é uma oportunidade revolucionária para todo nosso sistema de ensino. A necessidade da extensão do tempo traz a de repensarmos toda nossa estrutura e a ampliação das oportunidades de aprendizagem dos estudantes, mas, mais ainda, provoca a escola a se repensar por completo”, afirmou o coordenador da formação continuada para profissionais das escolas estaduais que participam do Programa de Educação Integral do estado (ProEI), Analdino Silva Filho.
“É uma agenda irreversível para nosso país que afeta de forma muito positiva toda nossa rede. O debate e as discussões da educação integral mobilizam todas as nossas escolas, nossos docentes e comunidades comunidades a repensarem o que queremos dos processos de ensino e aprendizagem”, complementou o secretário de educação da Bahia, Oswaldo Barreto.
Com foco em inspirar e apoiar as escolas e redes no desenvolvimento de seus programas e propostas de educação integral, o seminário convidou práticas inspiradoras e oficinas de diferentes regiões do país; além daquelas que já vem sendo realizado nos programas estadual e municipal da Bahia e Salvador. Confira:
No município da região metropolitana de São Paulo, o programa Tempo de Escola, que existe desde 2009 e atende cerca de 25 mil crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental, parte da integração e trabalho conjunto das diferentes secretarias de governo e de cada escola com diferentes equipamentos públicos e comunitários do território. Buscando ampliar a relação escola-comunidade, a Secretaria de Educação atua com nove organizações sociais locais integradas no planejamento e execução dos processos de ensino e aprendizagem, fazendo uso dos espaços públicos e comunitários como locais de experimentação, investigação e intervenção.
“Nesses anos conseguimos perceber que o Tempo de Escola passou a fazer parte efetivamente da vida das crianças, com a escola estreitando o pertencimento delas à comunidade e esta tomando o desenvolvimento integral das crianças como agenda de sua própria sustentabilidade”, afirmou a diretora de programas da rede municipal de educação de São Bernardo do Campo, Stella Chicchi.
Sem aulas, provas, disciplinas ou séries, mas com muita aprendizagem. De forma revolucionária, o Projeto Âncora, ligado à rede municipal de educação de Cotia (SP) propõe que educadores tornem-se mediadores do acesso ao conhecimento e os estudantes no centro da aprendizagem. Fazendo uso da personalização do ensino, e entendendo efetivamente que cada aluno aprende de um jeito, a escola se organiza como uma comunidade de aprendizagem em que todos são responsáveis pelo processo de ensino e aprendizagem dos estudantes.
Por meio de roteiros elaborados de forma autônoma, cada estudante decide o que quer aprender para responder questões ou desenvolver projetos que fazem sentido em sua vida e em sua comunidade. Ora trabalhando em grupos, ora individualmente ou participando de oficinas, as crianças e adolescentes fortalecem o vínculo com o espaço escolar e com o território. “Nós não podemos apagar o brilho que as crianças trazem para nossas comunidades. Elas têm muito conhecimento e muita vontade de aprender e nosso papel é fazer com que eles percebam tudo isso que têm e possam se desenvolver a partir do que desejam para si e para o mundo”, resumiu a coordenadora-geral da iniciativa, Suzana Ribeiro. O Âncora atende crianças e adolescentes entre um e 18 anos de idade, respondendo à educação infantil e ciclos I e II do ensino fundamental.
Em parceria com o Centro Especial de Investigação em Teorias e Práticas Superadoras de Desigualdades (CREA) da Espanha, o Instituto Natura apoia escolas a desenvolverem seus sonhos e melhor responderem às necessidades de aprendizagem dos estudantes, tornando uma escola em comunidade de aprendizagem. A partir de sete práticas replicáveis em diferentes contextos socioeconômicos [chamadas de atuações efetivas de êxito] a proposta convida familiares, crianças e adolescentes, professores, funcionários e direção a juntos desenvolverem um projeto para a escola, em que cada um se corresponsabiliza e participa de ações que garantam a equidade da aprendizagem de todos os estudantes.
A partir da proposta do governo do estado do Ceará, as escolas de ensino médio foram convidadas a implementar a metodologia de Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais, construída em 2012, a partir das Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio e dos Protótipos Curriculares da Unesco. Cada escola ampliou a jornada letiva em 5 horas semanais, para dar conta de oficinas modulares que partem e culminam na construção de projetos para escola ou para o ambiente familiar (1º ano), para a comunidade (2º ano) e para projetos de vida e mundo do trabalho (3º ano).
Cada escola associa as diferentes disciplinas trabalhadas em quatro núcleos – linguagens, ciências humanas, ciências da natureza e matemáticas – a ferramentas de pesquisa, uso das TICs, aprendizagem por projetos, discussões contextualizadas e habilidades socioemocionais.
Na Escola de Ensino Fundamental e Médio João Matos, de Fortaleza (CE), a proposta interferiu inclusive nas disciplinas regulares, que passaram a apoiar o projeto dos jovens de forma interdisciplinar. “As competências socioemocionais apoiaram o desenvolvimento da aprendizagem para além do contexto escolar, na vida. Eles aprenderam, acima de tudo a aprender”, destacou a coordenadora do projeto na escola, Iane Nobre.
A partir de uma série de investigações em escolas brasileiras, o Porvir, site de inovação em educação, apresenta de forma objetiva e referenciada que cada indivíduo aprende de um jeito. A proposta está apoiada em estudos acadêmicos, análises de especialistas no Brasil e no exterior e também no depoimento de pioneiros que apresentam ferramentas de como lidar com essa imensa diversidade de formas de aprender.
“A personalização do ensino nos convida a estruturar novos ambientes de aprendizagem, promover a autonomia dos estudantes no seu processo de aprendizagem e investir em planos individuais de aprendizado para cada aluno, em toda diversidade que a escola reúne”, afirmou a gestora da agência de conteúdo de inovações educacionais Porvir, Tatiana Klix.
Em parceria com o Instituto Ayrton Senna, o Colégio Estadual Chico Anysio, no Rio de Janeiro (RJ) implementou metodologias inovadoras para a educação integral no ensino médio. Entre elas, a de Projetos de Vida – desenvolvidos individualmente pelos estudantes, em parceria com toda a comunidade escolar. Na proposta, os alunos partem de investigações sobre si próprios, e depois são convidados a olhar para seus pares, família, escola e comunidade, entendendo o que desejam para si e para o mundo e o que precisam fazer para alcançar seus objetivos. Tudo acontece a partir de atividades práticas e contextualizadas, e diálogo com processos educativos para desenvolver as competências socioemocionais necessárias para a empreitada.
Também partindo do desenvolvimento de projetos de vida, os estudantes do Ginásio Experimental Carioca participam de disciplinas eletivas ofertadas pelo corpo docente. Tomando a ideia de que os jovens têm que ser autônomos em seus processos de aprendizagem, professores apresentam disciplinas semestrais que respondem às demandas e interesses dos estudantes, a partir do que conhecem ou desejam conhecer junto ao corpo docente. Em uma perspectiva dialógica, as atividades se constroem diariamente, entendendo o professor como um mediador do acesso ao conhecimento.
Para apoiar processos educativos dentro e fora da sala de aula e entendendo a personalização do ensino como caminho para que estudantes desenvolvam seus próprios projetos de aprendizagem, o Instituto Inspirare, em parceria com o Instituto Natura e a Fundação Telefônica Vivo, em colaboração com o Instituto Educadigital, com a TIC Educa e com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, desenvolveu a Escola Digital, uma plataforma que oferece diferentes recursos digitais de aprendizagem, organizados com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais, indicando a faixa etária adequada e tipo de acessibilidade que oferecem. A proposta é construída também com o usuário, que é convidado a indicar e explicar como o recurso pode ser utilizado em atividades pedagógicas.