publicado dia 02/01/2017

O que os secundaristas esperam da educação em 2017?

Reportagem:

Se restavam dúvidas de que os estudantes se importam com a educação, os anos de 2015 e 2016 vieram para tirar a prova real, com registro de intensa mobilização estudantil pelo país. O primeiro ano teve como epicentro do movimento a cidade de São Paulo, a partir do rechaço à reorganização escolar proposta pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB); na época, estudantes de Goiás também se mobilizaram contra a entrega de escolas para organizações sociais – a tercerização.

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Saiba + Retrospectiva 2015: O movimento secundarista que chacoalhou a educação brasileira

Em 2016, as pautas estudantis seguiram contra a crise da merenda, no início do ano, e a partir de outubro, contra as medidas governamentais, entre elas a reforma do Ensino Médio proposta pela Medida Provisória 746 e a PEC 55 já aprovada, e que deve ter a regra de limites de gastos válida a partir de 2018. O movimento, que teve como epicentro o Paraná, ganhou sua maior expressividade com mais de 1000 escolas ocupadas em pelo menos 19 estados brasileiros.

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As experiências vivenciadas nas ocupações devem se projetar sobre o novo ano letivo, já que os jovens puderam experimentar escolas organizadas de outra maneira. Sabe-se também que os desejos de mudança, no entanto, não circulam só entre os que estão mobilizados junto às lutas estudantis.

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Para entender um pouco mais sobre essas demandas e saber o que eles esperam de suas escolas em 2017, o Centro de Referências em Educação Integral conversou com alguns adolescentes. Confira!

aspasEspero que os professores deem mais prioridade aos alunos, pois vejo muitos atuando na lógica do ‘se aprendeu, aprendeu, se não, ok’. Também espero um ensino de qualidade, e que eu possa participar bastante da escola. Pra mim também é importante a questão da inclusão [a estudante tem deficiência física] e acessibilidade para que eu possa ter meus direitos assegurados.
(Camila, 16 anos, estudante de São Paulo)

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Eu espero uma escola com qualidade pra estudar, com professores, com merenda, com matérias necessárias para meu estudo e para a minha formação. Por outro lado, acho que é difícil criar expectativas diante a realidade que temos. Nas ocupações tivemos aulas de verdade e pudemos ver que a educação não é prioridade como dizem e que os estudantes não são levados a sério, exemplo disso é a reforma do ensino médio para a qual não fomos consultados.

Uma reforma que, a meu ver, vem para tirar nosso pensamento crítico e formar operários para que atuemos como robôs em fábricas. Aí fala em tempo integral em escolas que já estão lotadas e que não têm estrutura nem para as cinco horas atuais; e ainda com a PEC 55 que vai congelar os gastos com a educação. Aí eu me pergunto: o que esperar do meu colégio em 2017?
(Maynara, 14 anos, estudante de São José dos Pinhais, Paraná)

aspasQuero que a sala de aula seja um espaço de luta, que possamos trazer os debates que nos interessam para as aulas de Sociologia, História. Quero aprender a história real, saber mais das minhas raízes. Acho necessário que a escola traga também as lutas relacionadas aos direitos humanos, precisamos falar sobre igualdade de gênero, racial e de etnias.
(Lucas, 20 anos, estudante de São Paulo)

 

aspasComo integrante do grêmio escolar, já vi muitas mudanças ao longo de 2016 fruto das ocupações de 2015 e vejo novas possibilidades. Estamos correndo atrás de parcerias e palestrantes para a escola, temos apoio da comunidade e ações em prol da cultura e da cidadania, transmitindo conhecimento aos demais estudantes que não conseguiram participar do movimento estudantil de forma direta. Por isso, prevejo bons resultados para o próximo ano.
(Alvim, 17 anos, estudante de São Paulo) 

aspasMeu desejo é por uma escola mais dinâmica, democrática e segura. E que possamos seguir juntos em um movimento entre as escolas municipais e estaduais, abraçando essa nova ideia de fazer e viver a educação. Unidos, talvez consigamos propor um projeto de uma nova reforma de ensino, feito junto a comunidade e com a participação de todos. Que não nos calemos mais frente a esses descasos, pois afinal, quem melhor que nós, estudantes, para decidir sobre o futuro da nossa própria educação?
(Vitória, 17 anos, estudante de Porto Alegre, Rio Grande do Sul)

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Numa visão mais ampla, eu espero muita luta para todas as escolas estaduais. Especificamente para a minha escola, quero mais diálogo com os estudantes e organizações de debates para que possamos entender sobre temas que estão colocados, como a PEC. E muita luta sempre!
(Beatriz, 16 anos, estudante de São Paulo)

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Espero que 2017 não tenhamos tanto retrocesso como tivemos em 2016.
É triste saber que talvez a universidade não esteja mais de portas abertas para mim no futuro, isso me deixa preocupado. Espero por um ano melhor, que tenhamos os professores no início do ano, coisa que geralmente não acontece e que seja um ano de descanso, pois tô cansado de lutar.
(Luiz, 19 anos, estudante de Vitória, Espírito Santo)

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Meu desejo é que exista um grêmio estudantil na minha escola e na dos meus colegas. Ainda existem muitas gestões escolares que não dão prioridade para a formação política de seus alunos. Então, luto por isso. Aqui no estado, criamos um documento com as reivindicações das escolas ocupadas e apresentamos ao secretário de educação que o assinou se comprometendo a atender nossas reivindicações. Espero que isso seja cumprido.
(Almir, 17 anos, estudante de Fortaleza, Ceará)

aspasDesejo uma gestão autônoma, em que as vozes dos alunos falem mais alto e que nenhum tipo de autoritarismo permaneça. Espero ainda que 2017 seja totalmente diferente de todos os anos, que os alunos tenham prazer em protestar, desejando um futuro cada vez melhor. E que meus colegas tenham coragem de defender aquilo que acreditam.
(Estrela, 16 anos, estudante do Rio de Janeiro)

“Estamos lutando para que todos possam ter uma educação pública de qualidade”

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