EE Alves Cruz (SP) busca dar sentido ao ensino médio e torna estudantes protagonistas desse processo
Publicado dia 17/09/2014
Publicado dia 17/09/2014
Estudantes desestimulados, desinteressados e sem ver sentido na escola. Os desafios enfrentados pela Escola Estadual Professor Antônio Alves Cruz eram comuns a outras instituições de ensino médio. A partir de um chamado da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, a escola decidiu repensar seu funcionamento e implementar uma proposta de ensino de tempo integral, baseada na metodologia do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE).
Criada em 2002, em Recife, a proposta surgiu para modificar os baixos índices educacionais e a falta de perspectiva dos jovens em relação ao futuro. Nas escolas que desde então têm seguido o método, a primeira semana de aula é dedicada à construção do projeto de vida do estudante. Por meio de oficinas e dinâmicas, os alunos são estimulados a pensar no futuro e a sonhar. Ao longo dos três anos do ensino médio e por meio de um processo de tutoria, eles seguem pensando e escrevendo suas expectativas e sonhos para terminar o ensino médio com uma ideia mais estruturada de qual caminho seguir.
Na Alves Cruz, uma rápida conversa com um pequeno grupo de alunos traz uma diversidade de sonhos que mostra o desejo de seguir estudando e uma perspectiva de vida e ambição surpreendentes. Entre os estudantes, um jovem está em dúvida entre jornalismo e teatro, outro deseja estudar direito e ser agente da polícia federal; a garota mais falante do grupo quer fazer psicopedagogia e depois ir para a área de “coaching”, enquanto outra garota fica entre publicidade e eventos e outro garoto deseja estudar ciências da computação e ir trabalhar na Califórnia, um dos mais importantes polos de tecnologia do mundo.
Além de estimular o estudante a sonhar, o projeto de vida, um dos pilares do método, cumpre o papel de dar mais concretude e sentido ao que se faz no presente. A partir das ambições dos alunos, os professores podem realizar a conexão entre o projeto de vida com os conteúdos que a escola oferece, dando significado àquilo que se ensina.
Na Escola Alves Cruz, a jornada escolar é de nove horas e meia; sendo oito horas em sala de aula. Os professores têm dedicação exclusiva, com carga de 40 horas semanais. Com pequenas diferenças na estrutura horária, todas as escolas do método ICE têm jornada em tempo integral e professores exclusivos.
Paralelamente, para que esses conteúdos tenham significado, é preciso garantir a qualidade do processo de ensino e aprendizagem. Saberes acadêmicos, como ciências e matemática, seguem centrais na escola e devem ser ofertados com excelência. Da mesma forma, valoriza-se a garantia da aprendizagem, com a aplicação de um processo sistemático para avaliar se o jovem está aprendendo e, caso não esteja, pensar em alternativas. O método também valoriza as capacidades socioemocionais ao destacar a importância das competências do século XXI, como trabalhar em equipe, respeitar opiniões diferentes e aprender a conviver em grupo.
Estudante à frente
O método do ICE é todo permeado pela ideia do protagonismo juvenil, considerado um eixo estruturante da proposta. Desde o momento de entrada na escola e durante todos os três anos letivos, os estudantes são estimulados não apenas a serem autores de seu próprio processo de aprendizagem, mas como responsáveis pelos suas escolhas e sonhos.
Veja como foi o processo de acolhimento dos estudantes de 2014 nas escolas que aderiram à proposta.
Na escola paulistana, os interesses e demandas dos estudantes são levados para dentro do currículo. A cada semestre, a escola levanta junto aos alunos quais temas gostariam de estudar. Isto é encaminhado ao corpo docente que propõe matérias eletivas, sempre de maneira interdisciplinar. A proposta, então, retorna aos estudantes que averiguam se ela contempla os temas inicialmente levantados. As disciplinas eletivas podem ser das mais diversas, como grafite, capoeira ou empreendedorismo, sempre de acordo com as demandas dos alunos e as possibilidades dos professores.
Além das matérias optativas, os estudantes também participam dos Clubes Juvenis. A proposta é que os estudantes se organizem segundo seus interesses, se reúnam em um determinado período da semana e desenvolvam as atividades de forma autônoma. Música, skate, vôlei, futebol, estudos e cultura geek são temas de Clubes na Escola Alves Cruz. À direção cabe garantir o apoio e materiais necessários e acompanhar se os estudantes estão desenvolvendo as atividades.
Principais resultados
Segundo o presidente do ICE, Marcos Magalhães, uma das principais consequências do método é a permanência do adolescente no ensino médio. “O jovem não abandona porque ele tem um projeto de vida na escola e, então, ela passa a fazer mais sentido em sua vida”, explica. Este ganho de significado também tem como consequência a melhoria em índices avaliadores e na aprovação no vestibular. “Quando o estudante começa a perceber que aquilo faz sentido, ele passa a estudar mais e melhora seu desempenha acadêmico”, complementa o especialista.
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