publicado dia 24/10/2016
Secundaristas realizam quase mil ocupações em 19 estados brasileiros
Reportagem: Ana Luiza Basílio
publicado dia 24/10/2016
Reportagem: Ana Luiza Basílio
Os estudantes secundaristas voltaram a protagonizar novas ocupações de escolas em todo o país. Os motivos, dessa vez, são muitos. Um deles é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 241, que, segundo diversos estudos, diminuirá os investimentos em educação ao longo de 20 anos. Outras queixas dos estudantes são em relação à reforma do ensino médio, via Medida Provisória, e o projeto de lei Escola sem Partido.
Lista de escolas ocupadas
O estado do Paraná é o que concentra o maior número de ocupações. Segundo o movimento Ocupa Paraná são 850 escolas ocupadas. Confira a lista de escolas ocupadas por estado divulgada pela Ubes na última sexta (21/10)
Os secundaristas estão mobilizados em 19 Estados, com 993 ocupações entre escolas e institutos federais, segundo levantamento divulgado na última sexta (21/10) pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes)
O estado do Paraná deflagrou a nova onda de ocupações no país. No dia 3 de outubro, aconteceu a ocupação do Colégio Estadual Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. De lá para cá, 850 unidades paranaenses aderiram ao protesto.
Os estudantes reúnem críticas às alterações previstas pela Medida Provisória (MP) nº 746, de 22 de setembro de 2016, que institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral.
A principal delas recai sobre a reformulação curricular prevista, com a não obrigatoriedade de disciplinas como Educação Física, Artes, Filosofia e Sociologia na etapa escolar. Também é tema de discussão a flexibilização curricular, defendida pela MP, e que prevê que a formação seja feita a partir de itinerários formativos específicos – linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. Nesse modelo, as escolas não seriam obrigadas a oferecer todos os percursos formativos, apenas dois deles, o que pode inviabilizar a escolha dos estudantes pelas escolas que querem estudar.
Especialistas e organizações da sociedade civil que acompanharam o movimento pela construção da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) também apontam críticas às medidas. Em entrevista cedida à reportagem do Brasil de Fato, a presidenta da Ubes, Camila Lanes, fala que o governo desrespeitou os diálogos acerca da BNCC quando apresentou uma medida provisória autoritária.
Na mesma reportagem, Daniel Cara, coordenador Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, também disse ser sintomático que os estudantes estejam à frente das manifestações e ainda questionou a flexibilidade curricular pretendida. Ele reforçou que os estudantes não poderão construir sua própria grade curricular, apenas seguir uma especialização para a qual eles ainda não se estão totalmente amadurecidos para escolher.
Sobre o cenário de mudanças pretendidas para o ensino médio e para a educação como um todo também pesam os impactos da PEC 241, que deverá ser votada em segundo turno pelo plenário da Câmara dos Deputados ainda esta semana. A PEC do teto de gastos, como ficou conhecida, foi aprovada em primeiro turno no último dia 11 de outubro e ainda precisa ser aprovada por pelo menos três quintos dos deputados (308 dos 513) nesta etapa.
Especialistas apontam que a medida – que acaba com a vinculação dos gastos de saúde e educação em relação à receita líquida do país, limitando a uma correção da verba de acordo com a inflação do ano anterior – vai inviabilizar o direito à educação pública universal.
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Dados de um estudo do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconomicos (Dieese) apontam que, se a regra estivesse em vigor desde 2003, o Brasil teria deixado de investir ao menos R$ 377 bilhões em educação.
Na lista das ameaças ao direito à educação figura ainda o projeto do Escola sem Partido, que se organiza a partir do questionável pressuposto de que a educação brasileira é um espaço de doutrinação, no qual os professores se aproveitam da audiência cativa de seus estudantes para impor suas ideias. Em nome de uma “neutralidade docente”, a proposta visa punir professores que “doutrinem” seus estudantes.
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Diante às ocupações, o Ministério da Educação (MEC) soltou uma nota oficial na última sexta (21/10) na qual solicitou aos dirigentes das redes federais informações sobre as ocupações e seus participantes. A medida seria para zelar pela preservação do espaço público e garantir o afastamento de pessoas que não pertencem às comunidades dos institutos ocupados.
A informação, no entanto, não deverá ser enviada pelos institutos. Em nota da Agência Brasil, o reitor do Instituto Federal de Brasília, Wilson Conciani, diz que há dificuldades operacionais para organizar esses dados. Segundo o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) não há decisão plenária sobre a identificação dos estudantes e que a resposta ao MEC cabe a cada instituição.
Problemas com o Enem
Na mesma nota, o MEC diz apelar para o bom senso dos participantes das ocupações para que os locais sejam desocupados até o dia 31 de outubro, “preservando o direito de jovens inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de fazer as provas para o ingresso na educação superior”.
Caso isso não ocorra, o exame deve ser cancelado nas escolas e institutos ocupados, prejudicando cerca de 95 mil estudantes. Em nota da Agência Brasil, a Advocacia-Geral da União (AGU) diz que poderá cobrar os prejuízos aos cofres públicos causados pela ocupação de unidades de ensino programadas para receber a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A medida implicaria em cobrar dos estudantes o valor de R$ 90 para aplicação da prova.