publicado dia 22/10/2024
Professora usa IA para recriar contos clássicos em perspectiva afrocentrada
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 22/10/2024
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒 Resumo: Os Três Porquinhos, a Branca de Neve, a Loira do Banheiro e o Gato de Botas ganharam novas características a partir da criatividade de estudantes da GET Tobias Barreto, no Rio de Janeiro (RJ). Com apoio de professoras dos Anos Iniciais, a turma utilizou a Inteligência Artificial para ilustrar contos clássicos em perspectiva afrocentrada. Conheça a experiência.
Nas mãos das crianças do 2° ano do Ensino Fundamental do GET Tobias Barreto, no Rio de Janeiro (RJ), a Inteligência Artificial (IA) serviu para reimaginar contos clássicos sob uma nova ótica: a afrocentrada.
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Aos 8 anos, o centro de seus estudos eram histórias como Os Três Porquinhos e Branca de Neve, mas conduzidos pela professora Leila Senna, que atrela a literatura à identidade de seus estudantes.
“Ela é uma professora que fala sempre do orgulho da identidade do povo negro, da afrodescendência e das religiões de matriz africana”, conta Virgínia Chagas, professora articuladora que trabalha em parceria com Leila.
A partir dos conteúdos abordados nas aulas, Virgínia mobiliza as tecnologias digitais para que elas estejam a serviço dessas aprendizagens. Assim, diante dos computadores, as crianças começaram a usar o Canva Education para gerar imagens dos contos.
No ChatGPT descreviam a imagem e pediam para que ele fornecesse um texto de instrução para o Canva gerar a imagem desejada. “Até que começaram a surgir porquinhos vestidos de bermuda jeans e camiseta branca, como eles, e o Gato de Botas carioca. Mas a cereja do bolo foi quando um menino deu a ideia de fazer a Branca de Neve virar a Negra de Café”, relata a professora Virgínia.
Já com suas turmas de 5° ano, utilizaram a IA do Canva para produzir cartazes para uma culminância na escola no final de ano com atividades, mensagens e ações sobre o combate às violências raciais, sociais e religiosas e por uma convivência melhor entre os estudantes.
Caminhando pela sala para observar as produções da turma, a professora se deparou com um cartaz especialmente impactante: uma menina negra se olha no espelho e vê refletida a imagem da Loira do Banheiro.
“Fomos escrevendo no Canva as características e ele criou, porque pensamos nas violências que sofremos dentro e fora da escola e como é se olhar no espelho e querer ser branca”, conta a estudante Manuela. Sua colega Evelyn complementa: “a Loira do Banheiro não existe, o que existe é a violência”.
Daí em diante, as turmas deram asas à imaginação e o desejo de aprender a utilizar as ferramentas tecnológicas se deu em função disso.
“Para mim foi a maior prova de que nós limitamos as crianças dizendo que é muito complicado para elas aprenderem e que elas não vão usar porque não tem acesso em casa. Gosto de pensar como uma semente do enquanto – enquanto não tem em casa, eles vão aprender aqui e vamos despertar nelas o interesse em usar as tecnologias”, defende Virgínia.
Para Maria Eduarda, foi uma felicidade aprender a usar uma ferramenta nova. “Eu só conhecia o TikTok e agora sei muito mais coisas”, comemora. Sua colega Stefany concorda: “Antes eu não sabia e não gostava, achava que não precisava saber disso. Mas é bem fácil de usar e agora eu gosto muito”, diz.
E os frutos do trabalho continuam se espalhando. Na porta da escola, são muitas as famílias que procuram pela professora Virgínia para atender a um pedido insistente das crianças: instalar o Canva no celular dos pais.
“Coloco eles como parte da equipe da escola para eles usarem sem pagar e isso me mostra a vontade enorme das crianças de aprender, quanta criatividade elas têm e quanto precisamos de uma sociedade justa, porque teríamos potencialidades enormes”, diz Virgínia.