publicado dia 27/11/2017

“O incrível pontinho azul” leva ciência para crianças de forma lúdica

Reportagem:

Há quase trinta anos, a sonda Voyager 1 tirava uma das fotografias mais emblemáticas da Terra. Registrada de uma distância de seis bilhões de quilômetros, a imagem batizada de “Pálido Ponto Azul” mostrava uma minúscula Terra, pouco menor do que um pixel, boiando na vastidão espacial em meio a um raio solar.

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“Talvez, não haja melhor demonstração das tolices e vaidades humanas que essa imagem distante do nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, e de preservar e estimar o único lar que nós conhecemos… o pálido ponto azul”, escreveu sobre o registro o célebre astrônomo Carl Sagan (1934-1996).

Inspirada nesse episódio, a plataforma O Incrível Pontinho Azul se propõe a semear entre as novas gerações esta tão necessária preservação e apreço pelo nosso planeta por meio da combinação de duas ferramentas essenciais: o conhecimento e a admiração.

“Muito embora alguns conteúdos sejam complexos, a ideia é reter a atenção e criar uma memória afetiva com a ciência”, explica o idealizador do projeto

Para isso, reúne vídeos lúdicos e atrativos que colocam as crianças em contato com conceitos teóricos e nomenclaturas deste campo do conhecimento.

“Muito embora alguns conteúdos sejam complexos, a ideia é reter a atenção, não necessariamente para que aquele conceito seja assimilado de imediato, mas para criar uma memória afetiva com a ciência“, explica Márcio Turini, idealizador do projeto.

O intuito é fazer com que a teoria seja abordada de uma forma leve, divertida e de tão fácil assimilação quanto a observação da natureza ou a realização de experiências práticas. “Vamos construindo o conhecimento “tijolinho por tijolinho”, para que seja assimilado como entretenimento, sem o compromisso de ser avaliado, mas apenas fruído”, explica Márcio.

O incrível pontinho azul

O canal reúne vídeos lúdicos que colocam as crianças em contato com conceitos da ciência

O projeto

A ideia surgiu enquanto Márcio explorava ferramentas de divulgação científica como podcasts e vídeos. Apesar dos programas terem qualidade e enaltecerem a importância do desenvolvimento científico, ele constatou que boa parte do material partia do preceito de que aqueles espectadores já possuíam conhecimento básico de certos aspectos do conteúdo, o que muitas vezes não era verdade.

Assim surgiu a ideia de criar o canal, que já conta com 29 vídeos de três categorias: Biologia, Química e Física. Os roteiros são desenvolvidos por Márcio e revisados por professores das áreas. Toda semana há o lançamento de um novo vídeo.

As produções fazem referência constante à série Cosmos, apresentada por Sagan da década de 80 e regravada em 2014 com a apresentação do astrofísico Neil deGrasse Tyson. Além da homenagem feita no nome do projeto, seu apresentador, o personagem Bill Tyson, se assemelha à figura de Carl Sagan. Seu nome é também uma clara associação à outros dois grandes divulgadores científicos: Bill Nye e Neil deGrasse Tyson.

As crianças são exploradoras desde que nascem, pois é por meio desta curiosidade que criam suas brincadeiras, perguntas e conhecem o mundo

A proposta é que os professores utilizem o material do “O incrível pontinho azul” em sala de aula como uma forma de fazer uma abordagem inicial a um novo conteúdo ou para reforçar uma questão já apresentada, revisitando de forma sucinta o que já foi visto anteriormente.

Os pais, por sua vez, podem utilizá-lo para apresentar conceitos científicos aos filhos, contextualizando conhecimentos do cotidiano e contribuindo para que criem novos laços com o aprendizado.

Desta maneira, a ciência pode ser encarada como uma alternativa ao vasto conteúdo audiovisual de histórias de cunho sócio-moral e cantigas, passando a ser uma opção para os pais que buscam conteúdo infantil.

O Incrível Pontinho Azul

Ensino lúdico de ciência

Márcio lembra que as crianças são exploradoras, questionadoras desde que nascem, pois é por meio desta curiosidade que criam suas brincadeiras, perguntas e conhecem o mundo.

“Estas pequenas mentes ávidas por conhecimento, no entanto, vão sendo minadas a cada vez que nós adultos damos uma desculpa, uma resposta simplista como “porque sim” ou quando simplesmente afirmamos que ciência é chata”, diz.

Sabendo disso e diante de um sistema educacional que insiste em modelos arcaicos que apenas contribuem para o desinteresse das novas gerações pela ciência, “O Incrível Pontinho Azul” mostra que é possível adotarmos novos métodos de ensino, mais flexíveis e atraentes.

“Se temos diferentes inteligências por que insistimos que a única inteligência a ser enaltecida é a lógico-matemática? Ainda assim por que a inteligência lógico-matemática não pode ser acessada de forma divertida?”, questiona Márcio. “E fazendo um paralelo, vejo que esta é a importância da valorização e qualificação do professor, não apenas como o profissional que ensina, mas o ser humano que inspira”, finaliza.

Confira o vídeo o Pálido Ponto Azul, narrado por Carl Sagan, que inspirou o nome do projeto:

Analfabetismo científico

O Brasil vive um quadro preocupante de analfabetismo científico. De acordo com o Indicador de Letramento Científico (ILC), apenas 5% dos brasileiros podem ser considerados proficientes em linguagem científica, ou seja, são capazes de elaborar argumentos sobre a veracidade de hipóteses, demonstram domínio de unidades de medida e conhecem questões relacionadas ao meio ambiente, saúde, astronomia e genética.

Contribuem para a gravidade do cenário os recentes cortes de investimento na área. “Se por um lado temos o governo que optou por cortar investimento na ciência, temos também a academia que não se abre ao público. A divulgação científica deveria ser algo valorizado pelas universidades, como uma forma de informar a população”, critica Márcio.

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