publicado dia 23/10/2017
Nova política de formação de professores anunciada pelo MEC é criticada
Reportagem: Claudia Ratti
publicado dia 23/10/2017
Reportagem: Claudia Ratti
Na quarta-feira, 18, o Ministério da Educação (MEC) anunciou a Nova Política de Formação de Professores que tem como objetivo melhorar a qualidade e o acesso à formação inicial e continuada de professores da Educação Básica.
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“Existem muitos pontos para se discutir sobre a formação dos professores, mas esse é um anúncio vazio”, afirma Ocimar Alavarse, professor da FEUSP.
O documento considera que a formação de professores atualmente está longe do ideal para o bom exercício da profissão e a coloca como responsável pela má qualidade dos sistemas educacionais. “A qualidade do professor é o fator que mais influencia a melhoria do aprendizado”, afirma Maria Helena Guimarães de Castro, secretária-executiva do MEC.
No entanto, para especialistas, as diretrizes que compõem a nova política são questionáveis. “Existem muitos pontos para se discutir sobre a formação dos professores, mas esse é um anúncio vazio”, afirma Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP).
“Reconheço que os alunos da licenciatura chegam à universidade com dificuldade e isso é um desafio para aqueles que formam os professores. Por isso, talvez, uma grande ação do MEC seria discutir com as universidades condições para se pensar a formação desses estudantes, dialogando, e não apenas anunciando um programa sem ter feito uma discussão”, completa.
Alavarse acrescenta que o discurso de que a qualidade dos professores é o principal fator responsável pelo baixo rendimento dos alunos é perigoso. “Os resultados não tão bons sobre a aprendizagem dos alunos se deve muito mais a fatores externos da escola do que à atuação do professor. Por exemplo, a condição socioeconômica dos alunos e a condição de funcionamento das escolas . Você acaba culpabilizando os professores pelos resultados dos alunos”, diz.
A elaboração do projeto também foi alvo de críticas. “A política de formação de professores foi definida de forma impositiva sem diálogo com entidades representativas”, afirma carta divulgada na sexta-feira, 20, por entidades científicas da área educacional (ANFOPE, ANPAE, ANPED, ABdC, CEDES e FORUMDIR).
Além da criação de uma Base Nacional Docente e da ampliação do ProUni, o Programa de Residência Pedagógica foi um dos destaques da nova política. Segundo o MEC, a iniciativa consiste em uma modernização do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), onde o estudante faz um estágio supervisionado em uma escola de Educação Básica.
Além de vago, o programa não apresenta os resultados do Pibid e ignora as condições atuais das escolas públicas e dos cursos de Licenciatura
Alavarse reconhece a importância da formação inicial, mas afirma que a forma como ela é tratada no novo programa não é a solução para os problemas encontrados no exercício da profissão.
“O que é modernizar? Qual o balanço do Pibid? Quem de fato vai acompanhar essa formação? A escola? Os professores?”, questiona. Para ele, além de genérico, o programa não apresenta os resultados do programa anterior e ignora as condições atuais das escolas públicas e dos cursos de Licenciatura.
“Na formação inicial, é impossível a reprodução de situações de ensino. Você pode até propiciar aos estudantes contato com informações para eles aprenderem, mas isso não pode ser confundido com a docência. É um mito achar que mandar esses alunos para a escolas vai resolver os problemas”, aponta.