publicado dia 02/05/2017
Livro dá dicas de como educar para o feminismo
Reportagem: Thais Paiva
publicado dia 02/05/2017
Reportagem: Thais Paiva
Nunca lhe diga para fazer ou deixar de fazer alguma coisa “porque é menina”, faça ela ter gosto pelos livros e nunca fale do casamento como uma realização. São conselhos como esses que recheiam o livro Para educar crianças feministas – Um manifesto (Companhia das Letras 2017), da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, também conhecida pelo seu discurso para o TEDx, Sejamos todos feministas, e obras como Americanah e Hibisco Roxo.
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Adaptada de uma carta da autora para uma amiga que havia acabado de se tornar mãe e buscava recomendações para a empreitada, a obra traz quinze proposições de como os pais podem agir para criar filhos dentro da perspectiva da igualdade de gênero.
“Penso que é moralmente urgente termos conversas honestas sobre outras maneiras de criar nossos filhos, na tentativa de preparar um mundo mais justo para mulheres e homens”, reflete Chimamanda na introdução do livro, indicado para pais de meninas e meninos.
Apesar de seu caráter prescritivo, a autora lembra a importância de contextualizar essas ações. Diante da dúvida da amiga sobre “a reação feminista adequada” a certas situações, Chimamanda é categórica: não existem regras, mas premissas importantes. A primeira delas, a convicção firme e inabalável de que as mulheres têm igual valor. A segunda: buscar questionar se os resultados de determinada situação seriam os mesmos caso o envolvido fossem um homem.
Entre as dicas elencadas pelo livro, a necessidade da mãe se enxergar para além da maternidade e buscar sua plenitude investindo em outras esferas da vida, como o trabalho.
“Marlene Sanders, a pioneira jornalista americana, a primeira mulher a ser correspondente na Guerra do Vietnã (e ela mesma mãe de um menino), uma vez deu este conselho a uma jornalista mais jovem: ‘Nunca se desculpe por trabalhar. Você gosta do que faz, e gostar do que faz é um grande presente que você dá à sua filha’. Nem precisa gostar do seu trabalho. Você pode apenas gostar do que seu emprego faz por você — a confiança e o sentimento de realização que acompanham o ato de fazer e de receber por isso”, diz.
Mais adiante, Chimamanda defende a urgência de distribuir igualmente as tarefas entre pais e mães. “Façam juntos. Lembra que aprendemos no primário que verbos são palavras “de ação”? Bom, pai é verbo tanto quanto mãe. Chudi deve fazer tudo o que a biologia permite — ou seja, tudo, menos amamentar. Às vezes, as mães, tão condicionadas a ser tudo e a fazer tudo, são cúmplices na redução do papel dos pais”, aponta.
Conselhos como “ensine a não se preocupar em agradar, mas a ser ela mesma, em sua plena personalidade. Ensinamos as meninas a serem agradáveis, boazinhas, fingidas. E não ensinamos a mesma coisa aos meninos” também são colocados pela autora que, no entanto, aponta: “lembre-se de que você pode fazer tudo o que eu disser e apesar disso ela pode sair muito diferente do que você queria, porque às vezes a vida é assim”.
Confira algumas recomendações:
Ensine a não se preocupar em agradar: A questão dela não é se fazer desagradável, a questão é ser ela mesma, em sua plena personalidade. Ensinamos as meninas a serem agradáveis, boazinhas, fingidas. E não ensinamos a mesma coisa aos meninos. É por isso que muitas meninas ficam quietas quando são abusadas, porque querem ser boazinhas. Muitas meninas passam tempo demais tentando ser “boazinhas” com pessoas que lhe fazem mal. Muitas meninas pensam nos “sentimentos” dos seus agressores. Então, em vez de ensinar Chizalum a ser agradável, ensine-a a ser honesta. E bondosa. E corajosa. Incentive-a a expor suas opiniões, a dizer o que realmente sente, a falar com sinceridade.
Seja uma pessoa completa: A maternidade é uma dádiva maravilhosa, mas não seja definida apenas por ela. Nunca se desculpe, por exemplo, por trabalhar. Você gosta do que faz, e gostar do que faz é um grande presente que você dá à sua filha. Também permita-se falhar. Uma mãe de primeira viagem nem sempre sabe como acalmar o bebê que está chorando. Não acredite que precisa saber tudo. Leia livros, procure informações pela internet, pergunte a mães e pais mais velhos ou, simplesmente, vá por tentativa e erro. Mas, acima de tudo, concentre-se em continuar uma pessoa completa. Tire um tempo para si mesma. Atenda suas capacidades pessoas.
Façam juntos: O pai da Chizalum pode fazer tudo o que a biologia permite – ou seja, tudo, menos amamentar. Você pode achar que ele não vai dar banho nela do jeito que você gostaria, que talvez ele não enxugue o bumbum dela com o cuidado que você teria. E daí? Ela não vai morrer nas mãos do pai por causa disso. É sério. Ele a ama. É bom para ela ser cuidada pelo pai. Então, relaxe, esqueça seu perfeccionismo, deixe de lado seu senso socialmente condicionado de dever. Dividam igualmente a criação. “Igualmente”. E, por favor, abandone a linguagem da ajuda. O pai dela não está “ajudando” você a cuidar da filha dele. Está fazendo o que deveria fazer.
Para educar crianças feministas – Um manifesto
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradução: Denise Bottmann
Companhia das Letras, 2017