publicado dia 27/06/2025
Integrar Arte, Cultura e Educação impulsiona políticas públicas, diz relatório
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 27/06/2025
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒 Resumo: Lançamento do Relatório de Boas Práticas com Recomendações para Políticas Públicas de Arte, Cultura e Educação reforça a importância da intersetorialidade e aponta caminhos para realizá-la nos territórios.
Quando Arte, Cultura e Educação atuam em conjunto, os benefícios vão para além do desenvolvimento integral de crianças e adolescentes e contribuem para o crescimento econômico e a construção de habilidades fundamentais, como a criatividade, em um mundo que se automatiza a cada dia mais.
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É o que revela o Relatório de Boas Práticas com Recomendações para Políticas Públicas de Arte, Cultura e Educação, lançado nesta quarta-feira, 25 de junho, em Brasília (DF), durante o Seminário Experiências Internacionais que conectam Arte, Cultura e Educação, uma realização do Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria de Formação Artística e Cultural, Livro e Leitura (Sefli), do Ministério da Educação (MEC), pela Secretaria de Educação Básica (SEB), e da Fundação Itaú.
O documento reúne pesquisas, dados e experiências de políticas nacionais e internacionais sobre a integração entre Arte, Cultura e Educação, e seus impactos para o desenvolvimento de políticas públicas inovadoras e mais equitativas.
O Relatório de Boas Práticas com Recomendações para Políticas Públicas de Arte, Cultura e Educação foi realizado com apoio da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e é resultado do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre a Fundação Itaú, Ministério da Educação (MEC), MinC e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O estudo parte da ideia de que os setores artístico e cultural exercem um papel relevante no desenvolvimento econômico, ao fomentar competências e estimular a inovação com impactos positivos em diferentes áreas.
Entre 2012 e 2020, a chamada economia da cultura e do setor criativo no Brasil cresceu, em média, 2,2% ao ano, desempenho superior ao da economia nacional, que teve retração média de 0,4% no mesmo período, segundo levantamento de 2022 do Observatório Fundação Itaú.
A influência econômica da educação artística e cultural também se estende para além do setor cultural. Dados da OCDE mostram que cerca de 40% das vagas relacionadas à cultura e criatividade estão distribuídas por outros setores, como é o caso de profissionais formados em artes atuando em desenvolvimento de produtos, compondo um grupo crescente de ocupações com alta resiliência à automação e papel estratégico na geração de inovação.
No Brasil, a tendência se repete: de acordo com o Observatório Fundação Itaú, cerca de 28% dos trabalhadores da economia cultural e criativa estavam empregados em outros segmentos da economia no último trimestre de 2023.
“Quem sabe a gente de fato agora vai poder ouvir as populações originárias do nosso país? Quem sabe agora a gente vai poder desenvolver uma pedagogia que seja inspirada a partir dos saberes da tradição dos saberes ancestrais?”, disse Daniel Munduruku.
Apesar da proposta ser inovadora para a políticas brasileiras, a integração entre Arte, Cultura e Educação não é novidade para os povos indígenas do país, que podem ensinar os caminhos para realizar essa integração.
“Está todo mundo querendo, finalmente, adotar o modo indígena de educar, de olhar a coisa de uma forma sistêmica, como deveria ser desde sempre”, disse Daniel Munduruku, escritor, professor, ator e ativista, durante o seminário.
“Agora parece que se entendeu que é preciso ter uma Educação Integral, é preciso ter uma Educação para o todo, para o conjunto. Quem sabe a gente de fato agora vai poder ouvir as populações originárias do nosso país? Quem sabe agora a gente vai poder desenvolver uma pedagogia que seja inspirada a partir dos saberes da tradição dos saberes ancestrais?”, indicou Daniel.
O relatório destaca ainda que as desigualdades socioeconômicas, regionais e étnico-raciais no Brasil têm impacto direto no acesso dos estudantes às atividades culturais e artísticas.
Apesar de os jovens brasileiros de baixa renda participarem mais de ações culturais do que a média dos países da OCDE, o país registra uma das maiores desigualdades nesse aspecto. A diferença entre estudantes de diferentes níveis socioeconômicos chega a 5,2 pontos percentuais, quase o dobro da média da OCDE, de 2,9 pontos.
Desigualdade no acesso à Arte, Cultura e Educação esteve no centro dos debates do Seminário
Crédito: Assessoria de Comunicação/MinC
“Não temos um país que valoriza a cultura e as artes, então dependemos de municípios, bairros, territórios e casas que valorize a cultura e a arte. Nosso desafio é como fazer cada pessoa acreditar que cultura não é dispensável, que ela é tão necessária quanto a comida no prato. Eu venho do chão das bibliotecas comunitárias, construídas pela comunidade, e a gente tem colocado como lema: Comida no prato, livro na mão, bola no pé, arte no palco e cinema na tela. A gente quer tudo, sim, porque acreditamos que a cultura nos fortalece e ela tem que ser tratada como um direito humano e não como um privilégio”, disse Bel Santos Mayer, educadora social e coordenadora geral do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC).
Luna Arouca, assessora de fortalecimento institucional da Redes da Maré, reforçou a importância de que políticas públicas, projetos, programas e iniciativas partam da comunidade. “Temos que reconhecer a importância da inovação vindo de dentro desse espaço, de quem conhece o território, de quem pode produzir conhecimento do território”, afirmou.
Para promover políticas públicas mais equitativas e que contribuam com a integração entre Educação, Arte e Cultura, o relatório estipula ser necessário:
“Estamos também produzindo modelagens, parâmetros e referências para programas e projetos que promovam impactos nos processos educativos e no desenvolvimento integral de nossos estudantes por meio do ensino das artes e da vivência da experiência de criação, fruição e produção artística nas vidas de nossas crianças adolescentes”, disse Fabiano Piúba, secretário de Formação Artística e Cultura, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC), durante o evento.
*Foto: Assessoria de Comunicação/MinC