publicado dia 12/11/2014

“É meu dever fazer dessas pessoas cidadãs”

Reportagem:

“Eu só aprendi e não me arrependo de nada, em hora nenhuma, trabalho com prazer. O mundo é educação, é ela quem o move e tem que ser verdadeira porque faz de conta não adianta”. É dessa maneira que Maria Auxiliadora Rodrigues Côrtes, a Dôra, descreve o caminho que trilhou junto à educação. A história desta diretora de escola começa a se desenhar em Salvador (BA), cidade onde Dôra nasceu e cresceu, nos tempos em que ainda era aluna no Colégio Estadual Severino Vieira, localizado na região de Nazaré.

Foi lá que descobriu a predileção pelo esporte, conta a gestora se dizendo assídua frequentadora do ginásio da região, onde praticava basquete, handebol e natação. A preferência fez com que Dôra prestasse seu primeiro vestibular para educação física na Universidade Católica do Salvador (UCSAL), instituição onde conseguiu sua licenciatura e que possibilitou seu ingresso na Escola Parque em 1981, sua primeira experiência em sala de aula.

Dôra apostou na comunidade para mudar a realidade da escola (Foto: arquivo pessoal)

Dôra apostou na comunidade para mudar a realidade da escola (Foto: arquivo pessoal)

Querendo ampliar seus caminhos, a docente em início de carreira prestou novo vestibular na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e se licenciou em desenho e plástica. Com o título, Dôra começou a estagiar em outra unidade da Escola Parque e posteriormente assumiu as turmas de desenho geométrico com a aposentadoria da então professora.

Com isso, surgiu o convite do Colégio Estadual da Bahia, o Central, para que Dôra assumisse o cargo de professora em um curso técnico de desenho e construção civil, desafio aceito pela comprometida profissional. “Lá fiquei por muitos anos”, conta, sem se lembrar com clareza dos anos em que essas fases se sucederam. “Também cheguei a coordenar esse curso e passei a ser vice-diretora da instituição.”

Um processo de (con) vivência

Ainda atuando no Colégio Central, a incansável Dôra recebeu um convite do Colégio Estadual General Dionísio Cerqueira, localizado na comunidade de Santa Cruz, onde chegou como professora de desenho. A atuação durou até 2012, quando ela foi eleita diretora da instituição. “Quando cheguei aqui me deparei com uma diretora fixa há 14 anos, e com uma escola cheia de problemas, sobretudo, altos índices de evasão”, relembra.

A mudança começou com o entendimento por parte de Dôra de que, sozinha, seria quase impossível atuar e reverter o cenário. Para ela, o determinante ao longo do processo foi “valorizar a escola enquanto vida e movimento, e estar disposta a mostrar isso”. Isto foi possível com a interação dela e de outros agentes, em sua maioria da própria comunidade.

Em sua gestão, ela implementou o ensino fundamental II, o ensino médio, a educação de jovens e adultos (EJA) e a escola de tempo integral. A unidade também se abriu para as artes, a cultura, os esportes e os saberes populares. “Minha ideia sempre foi a de mostrar àquela comunidade que ser pobre não diz de uma incapacidade, nem tampouco impede alguém de alcançar algo”, enfatiza emocionada.

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Para ela, ter sido professora na escola que hoje dirige foi essencial para conhecer os alunos e seus modos de vida. Dôra ressalta que todas as conquistas envolveram um diálogo com os estudantes e o próprio entorno. “Eu só perguntei a eles o que queriam e, com isso, abri as portas da instituição para a capoeira, música, fanfarra e para as pessoas…Eu gosto de gente!” Há dois anos como diretora, Dôra relata que procura priorizar a mão de obra dos moradores da comunidade em todos os serviços que a escola necessita, como limpeza, conserto e pintura.

Como diretora, Dôra se vê com deveres que extrapolam os limites da educação tradicional. “Sou representante do Estado. Preciso mostrar a essas pessoas a importância de lutarem por seus direitos, de serem cidadãs, cultas e esclarecidas”, enfatiza. E seus enfrentamentos não param por aí: “não quero ver menino na ‘sinaleira’, assaltando, usando drogas. Tudo isto é também parte do meu papel”, garante.

Aos 60 anos, e já próxima da aposentadoria, Dôra fala de compromissos que ainda tem junto à instituição: “eu prometi que deixaria o ensino médio (iniciado este ano) bem organizado e quero fortalecer ainda esse arranjo da educação integral que hoje temos aqui”. Mesmo assim, ela não dá a carreira como encerrada: “ainda penso em atuar junto ao ensino à distância. Com a educação, descobri o mundo.”

Qual o papel da equipe gestora nas escolas?

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