publicado dia 17/10/2016
Escolas do centro-oeste traçam caminhos em busca da inovação
Reportagem: Da Redação
publicado dia 17/10/2016
Reportagem: Da Redação
Por Ana Luiza Basilio e Natália Passafaro, de Brasília (DF)*
Inovar na educação não é uma tarefa fácil, sobretudo se considerada a estrutura escolar ainda rígida, centralizadora e pautada em disciplinas. No entanto, algumas escolas vêm apontando caminhos, repensando suas práticas e inserindo propostas mais alinhadas ao desejo dos estudantes e da comunidade escolar.
Algumas dessas iniciativas puderam ser conferidas pelos participantes da primeira edição Conferência Nacional de Alternativas para uma Nova Educação (Conane) Candanga. Durante dois dias de evento, educadores de todo o centro-oeste do país compartilharam as experiências de suas escolas, expuseram os principais desafios e mostraram ações e projetos que vêm contribuindo com uma educação mais criativa e de qualidade.
Para a Escola da Árvore, localizada no Núcleo Rural Jerivá, Lago Norte, em Brasília, é central entender a criança em sua unidade. “Cada criança que chega à escola requer atenção e um olhar e isso é a solução para que a escola fique em movimento, aberta para a diversidade”, colocou a pedagoga e idealizadora do projeto Letícia Araújo.
Na instituição, que atende 36 crianças dos 7 meses aos 6 anos de idade, as práticas educativas consideram elementos como a natureza, buscando a construção de um laço afetivo entre as crianças e o cerrado; o movimento, entendendo-o como propulsor de autonomia e criatividade; e a diversidade em suas diversas expressões, como gênero, raça, social e cultural.
Atuação parecida mantém a Escola Vila Verde, localizada no Alto do Paraíso, em Goiás. A pedagogia de projetos surgiu como uma alternativa para que a escola, concebida por um grupo de pais, pudesse dialogar com o desejo dos estudantes, respeitar a autonomia estudantil e ainda incentivar o desenvolvimento da segurança e autoconfiança.
Por lá, a metodologia parte de cinco inteligências: acolher, oferecer, estruturar, destruir a negatividade e liberar. Os percursos são orientados por professores tutores que abarcam todas as disciplinas, sem fragmentação, forma encontrada de favorecer a aprendizagem coletiva e a troca de saberes constantes entre todos os atores escolares.
Saiba + Escola propõe aprendizagem a partir de projetos interdisciplinares e tutorias
Outra iniciativa que vem se apoiando no desenho de uma proposta educativa libertadora e emancipatória é o Projeto Autonomia da Universidade de Brasília (UnB). Com trabalho ativo na região do Paranoá, em Brasília, o coletivo atua em escolas públicas, de maneira dialógica, e tem como grande objetivo garantir que esses espaços preservem os direitos das crianças, entre eles, o de brincar e criar.
A Escola Janela, iniciativa comunitária localizada na Chapada dos Veadeiros (GO), tem como principal diretriz a valorização das relações. Ela inova ao assegurar um espaço de participação aos familiares, com papéis ativos. É comum vê-los preparando a merenda, cuidando da limpeza ou fazendo pequenos reparos. A tônica da convivência se expande aos demais integrantes da escola, alunos, professores e gestores, justamente pela instituição entender que o autoconhecimento é fundamental para que as crianças saibam lidar com suas sensações e possam se relacionar de maneira equilibrada com elas.
Nessa perspectiva, a escola – que atende cerca de de 40 estudantes nas etapas Educação Infantil e Fundamental I, considera o livre brincar e a execução de projetos escolhidos coletivamente pelos professores e crianças.
Saiba + Escola comunitária se apoia em engajamento das famílias e comunidades
Outra instituição que considera um diálogo constante com as famílias é o Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Tempo de Infância, localizado na periferia de Goiânia. É garantida a interlocução dos familiares na estruturação do projeto político pedagógico, que também busca iniciativas que ampliem a oferta educativa aos 118 estudantes que atende.
Em outros contextos
Reforçando a importância de um projeto educativo se dar em consonância com o território, a Associação da Escola Família Agrícola, localizada no Assentamento do Capão Bonito II, em Sidrolândia (MS), explicou como sua proposta pedagógica dialoga com a realidade de estudantes de 24 assentamentos locais.
A metodologia de Pedagogia da Alternância, que intercala períodos de convivência em sala de aula com outros no campo, foi a solução encontrada para que a escola pudesse contribuir para que os estudantes e suas famílias busquem melhores condições de permanecer na área rural.
Mantida por uma associação de pais e gerida coletivamente, com cargos eleitos democraticamente, a escola se organiza a partir da interdisciplinaridade entre os componentes curriculares comuns e os conteúdos técnicos e próprios da região, como agricultura, zootecnia e práticas agrícolas.
São oferecidas atividades voltadas à sustentabilidade, como estímulo a agricultura orgânica e feiras de sementes. No dia a dia, os estudantes ainda são divididos em grupos e corresponsabilizados pela manutenção escolar.
Para além dos muros da escola
Inovar é também entender que a educação é movimento e que, por essa razão, não acontece somente nos espaços escolares, mas também na interlocução com os territórios, a partir da concepção de cidades educadoras. Essa é a proposta do Coletivo da Cidade que aposta na metodologia das rodas de aprendizagem para estimular a livre expressão, a experimentação coletiva, o conviver, além de orientar um trabalho de pertencimento e busca identitária. Atuante nas periferias de Brasília, o grupo preconiza a participação ativa dos jovens pelos territórios e os torna mobilizadores de discussões e reflexões sobre as diversas temáticas comuns às cidades e as juventudes, como violência policial, segurança, racismo, diversidade e sexualidade.
A ideia principal, segundo os integrantes do coletivo, é pensar a periferia como um lugar propositor de criatividade, de possibilidades de inovação e intervenção.
Outro currículo é possível
O trabalho educativo desenvolvido pelo Centro Educacional São Francisco, localizado em Brasília, considera o tripé Educação Física, Artes e Projetos como orientador do projeto político pedagógico.
A ideia central é trabalhar a saúde, o senso crítico e as habilidades criativas e interdisciplinares dos 1800 estudantes que atende. Por conta disso, a instituição conta com aulas diferenciadas que consideram o roteiro individual dos alunos – de acordo com as necessidades e preferências – e que, portanto, entendem outros tempos de aprendizagem, ainda que atendam aos conteúdos obrigatórios das disciplinas.
Os professores atuam como orientadores, estimulando o protagonismo e a autonomia dos estudantes na organização dos estudos e nos caminhos para a construção do conhecimento significativo. Com isso, disponibiliza recursos variados, como aulas expositivas dialogadas, videoaulas, projetos, oficinas, seminários. A escola também atua fortemente junto à comunidade e movimentos sociais, estendendo a intervenção dos alunos para outros espaços urbanos.
A Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga também mostra uma inovação em seu currículo ao ofertar ensino bilíngue – sendo a Língua Brasileira de Sinais (Libras) a língua materna, e o Português escrito a segunda. Embora a escola tenha se tornado polo de atendimento a alunos surdos na região, a dinâmica também é ofertada a crianças ouvintes, que podem conviver em salas bilíngues, que operam por metodologia visual.
Saiba + Escola em Brasília oferta ensino de Libras para estudantes surdos e ouvintes
A unidade atende atende cerca de 350 estudantes nas modalidades: estimulação linguística de 0 a 3 anos, os três ciclos da Educação Básica, e Educação de Jovens e Adultos (EJA), no período noturno.
*As jornalistas do Centro de Referências em Educação Integral realizam cobertura para a Rede Criatividade e Inovação, a convite do Sesc.