publicado dia 06/05/2016

Escola promove debate aberto à comunidade sobre democracia

Reportagem:

O pano preto cobrindo o corredor do primeiro andar da EMEF Dr. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira se abre e revela o que por muito tempo foi ocultado a respeito da ditadura civil-militar brasileira.

Alunos e professores se amordaçam durante apresentação. Créditos: divulgação

Alunos e professores se amordaçam durante apresentação. Créditos: divulgação

As palavras “cale-se”, “repressão”, “tiro”, “bomba”, “tortura”. Fotos de pessoas mortas e desaparecidas durante o período – como Vladimir Herzog e Carlos Marighella. A representação de um pau de arara. Estudantes amordaçados e sentados ao chão. Todos elementos tornavam a caminhada dos que passavam pelo corredor um exercício difícil, porém sensibilizador.

A exposição compôs o evento “Democracia se constrói com luta” realizado pela escola da zona sul de São Paulo no último sábado (30/04). Aberto à comunidade, o evento marcou o término de uma sequência didática ofertada durante um mês aos estudantes do Ensino Fundamental II e EJA para que eles pudessem fazer reflexões sobre o atual momento de polarização política.

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Créditos: divulgação

Aberto à comunidade e ancorado sobre os princípios da gestão democrática vigente na instituição, o espaço acolheu um “opinário” com os diversos trabalhos realizados durante o período, além de apresentações artísticas e sarau de poesia, expressão bastante forte na instituição, além de um debate que contou com a presença de professores, estudantes, familiares e pessoas da comunidade.

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Dividiram a mesa o ex-preso político Antônio M. Oliveira, a viúva e a filha do operário Santo Dias – assassinado pela Polícia Militar em 1979, em São Paulo, quando comandava um piquete de greve – Ana Dias e Luciana Dias; a viúva do jogador Sócrates, Katia Bagnarelli; o integrante da Secretaria Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), José Afonso; e o jornalista Walter Facetta Jr.

Da esquerda para a direita: Antônio,

Ex preso político, Antônio Oliveira revelou parte de sua tortura no DOPS. Créditos: divulgação

Antônio trouxe parte das histórias de abuso que sofreu durante o período de cinco anos em que ficou preso no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Para ele, é muito difícil ver pessoas defendendo a volta do militarismo. “Eu senti na pele o significado da ditadura, é diferente sentir a navalha na carne”, declarou.

Para ele, a ditadura é ceifadora do direito de livre expressão que é base para a democracia. Afonso entende que há um movimento de minar os poucos direitos que as classes minoritárias alcançaram ao longo da história do país e que é preciso que a sociedade se questione sobre os percursos possíveis dentro de uma democracia.

O integrante do MTST citou algumas ações de resistência do movimento, como apoio aos alunos secundaristas que desde o ano passado estão se organizando em ocupações nas escolas estaduais contra a reorganização escolar e mais recentemente contra o escândalo das merendas.

A viúva de Santo Dias colocou que o movimento da escola é muito positivo visto que as mudanças caminham com conhecimento e esclarecimento dos direitos. Sua filha Luciana Dias, também educadora, lembrou que graças à democracia é que as escolas podem se organizar livremente e que os professores têm o papel de não permitir a retomada do período.

Para a diretora Solange Amorim a escola tem um papel importante no debate uma vez que lida com a formação de cidadãos. “Nesse sentido, faz parte das nossas discussões os direitos, a ética, o respeito e a participação de nossos estudantes. Essas construções também passam pelo chão da escola”, avaliou.

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