publicado dia 27/05/2014

Dirigentes municipais discutem avanços e desafios na gestão de educação

Reportagem:

‘’O fortalecimento da gestão das políticas educacionais para garantir o direito à educação”. Este é o tema do 6º Fórum Nacional Extraordinário da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Udime), que acontece de hoje (27/5) a 30 de maio em Florianópolis (SC). O encontro reúne mais de mil secretários e equipes técnicas de educação de 900 municípios brasileiros.

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“Todos nós temos os mesmos problemas e esse nosso espaço é importante para encontrar pessoas que passam pelas mesmas questões que nós passamos. E seguiremos acreditando, dividindo esse ‘peso’ e solidão do cargo público, voltando aos nossos municípios fortalecidos. Tudo isso apesar do Tribunal de Contas, apesar do Ministério Público e apesar da nossa oposição”, indicou a secretária de educação de São Bernardo do Campo (SP) e presidente da Undime. Para ela, o encontro ainda apresenta uma característica diferente, incentivando que os gestores e equipes técnicas trabalhem – na prática – com o Conviva, que tem como objetivo apoiar o trabalho de gestão dos dirigentes municipais.

Exclusão ainda é realidade

Para Gary Stahl, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), presente na abertura do evento, os gestores tem o papel de atuar para além dos seus gabinetes. “Precisamos de vocês como lideranças em suas comunidades, comunicando e mobilizando as pessoas para o fato de que fora da escola não pode. De acordo com os dados do IBGE, em 2010, mais de 3,8 milhões de brasileiros de quatro a 17 anos estavam fora da escola no Brasil.

Trabalho este que vem recebendo novas demandas e orientações, especialmente com a crescente agenda de extensão do tempo e fortalecimento das oportunidades de aprendizagem. Em vias de aprovação, o Plano Nacional de Educação (PNE), prevê em sua sexta meta, a ampliação da oferta e matrículas de tempo integral – indicador referendado por programas como o Mais Educação, que visam a ampliação da jornada atrelada à diversificação curricular e integração entre escolas e suas respectivas comunidades. Nessa perspectiva, com o objetivo de discutir a estrutura de programas de educação integral em diálogo com o cotidiano do gestor, o Centro de Referências em Educação Integral entrevistou dirigentes municipais de diferentes regiões do Brasil. Confira:

Dirigente municipal de Catanduvas (SC)

Dirigente municipal de Catanduvas (SC)

“Mesmo com as dificuldades de recurso, nós entendemos que a educação integral e com ampliação da jornada escolar é bastante importante, especialmente nos anos iniciais da educação básica. Hoje contamos com unidades de ensino infantil e pré-escolas em tempo integral. Não conseguimos expandir porque enfrentamos gargalos de infraestrutura e de formação do professor. Infelizmente não temos educadores formados para entender o olhar integral para essa criança. Por isso, estamos investindo em formação continuada em serviço, com impacto no plano de carreira do docente.

Paralelamente, entendemos que não damos conta dessas demandas sem o apoio da família dessa criança e adolescente. Por isso, o coordenador pedagógico e professores regentes de cada unidade têm horas destinadas ao diálogo e interlocução com as famílias dos estudantes, procuradas à medida que a escola percebe alguma alteração no comportamento, dificuldade de aprendizagem ou questão apresentada pela criança.
Nosso foco é essa equação de mobilização com as famílias, recursos e infraestrutura e formação docente.”

Clóvis José de Lucca, secretário de educação de Catanduvas (SC)

Dirigente municipal do estado do Rio Grande do Norte

Dirigente municipal de cidade distante 19km de Natal (RN)

“Somos um município pequeno, de 71 mil habitantes, com 42 escolas, sendo 30 rurais. Adotamos o Mais Educação em 35 das nossas unidades, atendendo quatro mil alunos, quase metade da nossa rede. Além disso, viabilizamos variadas parcerias com universidades e organizações (UFRN, UFERSA) para aprimorar a formação dos nossos professores, oferecemos programas locais paralelos ao Mais Educação para diversificação da aprendizagem, com música, teatro, xadrez, ginástica rítmica, atividades de raciocínio lógico, entre outras.

Começamos há pouco, em menos de dois anos, enfrentamos dificuldades, mas seguimos em frente e os resultados aparecem com força: no início tínhamos evasão na formação de professores; hoje, temos presença total.

Brinco que quero o oposto do que o Cazuza falava. Não quero um Brasil repetindo o passado. Quero a nossa inovação. E os recursos estão aí – é preciso correr atrás e buscar parceiros. E, em seguida, é fundamental que o gestor descentralize: ele articula, mas tem que se valer de sua equipe, de forma presente como corpo gestor.”

Márcia Portela, secretária municipal de Macaíba (RN)

Dirigente municipal e presidente da Undime de Goiás

Dirigente municipal e presidente da Undime de Goiás

“Temos muita dificuldade porque as famílias têm resistência à proposta de ampliação do tempo e de diversificação de atividades. Mas, claramente entendemos essa importância – de ampliar as possibilidades de aprendizagem das crianças e precisamos organizar formas de alcançar e comunicar isso às pessoas dos nossos municípios. Precisamos também ter nossos prefeitos como pivôs de todo o processo, articulando as ações inter-secretarias e fortalecendo a agenda. Por isso, espaços como este são fundamentais para troca de experiências e compartilhamento de ideias e propostas.”

Manuela Cabral, secretária de Costa Rica (MS) e presidente da Undime no estado

Dirigentes de Cotia e Carapicuíba (SP) no evento

Dirigentes de Cotia e Carapicuíba (SP) no evento

“Principalmente em lugares como Caparabicuíba, das regiões metropolitanas das grandes cidades, vivemos o fenômeno de ‘municípios favelizados’. Regiões que apresentam grandes índices de vulnerabilidade, com presença intensa do tráfico de drogas, violência e exploração sexual de meninas e meninos. Por isso, a educação integral em nossa cidade é uma forma de proteger e assegurar os direitos das crianças e adolescentes. Aderimos ao Mais Educação para todas nossas escolas e, dado o recurso e pouca infraestrutura, selecionamos 600 crianças que apresentam maiores condições de vulnerabilidade para participarem das atividades e ampliação do tempo.

Paralelamente ainda temos, segundo dados do IBGE, 19,5 % de crianças de quatro a cinco anos de idade e 3% de crianças de seis a dez anos fora da escola. Somos uma cidade muito densa, sem espaço para construção de novas unidades. Ainda estamos tentando sair do ‘regime da fome’ e das salas superlotadas. E, por entendermos que esta é uma realidade comum a muitas cidades, estamos aqui para aprender, trocar conhecimentos e viabilizar formas de contornar essas dificuldades e assegurar a escola como espaço de direito das crianças.”

Aparecida Carlos, secretária de educação de Carapicuíba (SP)

Dirigente do pequeno município do Rio Grande do Norte

Dirigente do município de São Francisco do Oeste (RN)

 “Somos um município bem pequenino. Temos 4 mil habitantes e 750 estudantes em quatro escolas, sendo duas rurais e duas urbanas – uma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e uma de educação infantil. Acabamos de aderir ao Mais Educação e, mesmo com dificuldades, acreditamos que esse é o caminho para ampliar as possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento dos nossos estudantes.

Para nós, em que tudo fica muito distante, fóruns como estes são fundamentais para encontrarmos os espaços de construção e execução da política. É quando estamos perto de Brasília, do ministério e seus órgãos. E é o momento de aprendermos com os demais e descobrirmos mais sobre nós mesmos. No estande do Unicef descobri que na nossa cidade temos 108 crianças entre quatro e 17 anos fora da escola. Agora, voltarei para casa atrás deles – queremos nossa escola para todos.”

Francisco Gardrian Costa, secretário de São Francisco do Oeste (RN)

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