publicado dia 01/08/2016

Como pensar um Ensino Médio que promova a equidade?

Reportagem:

seminario_educacao_integralComo a escola pública brasileira lida com as demandas e especificidades das juventudes no Ensino Médio? Como as unidades implementam programas e iniciativas de educação integral? Quais boas práticas curriculares, executadas a partir da gestão escolar, vêm sendo implementadas no país para ampliar a jornada, combater a evasão e manter o jovem motivado nos estudos? Como trabalhar com adolescentes de modo a combater desigualdades históricas que os afetam?

Foi com a proposta de jogar luz a essas questões e também criar recomendações para que as escolas sejam capazes de construir um ambiente em que todos os estudantes se desenvolvam integralmente que surge o estudo Políticas Públicas e Gestão Escolar para a Equidade e Desenvolvimento Integral no Ensino Médio.

Desenvolvido pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com o Instituto Unibanco, o estudo sistematizou experiências de 29 escolas, 17 nacionais e 12 estrangeiras, contribuindo para o debate sobre a importância da gestão escolar estar alinhada ao desenvolvimento integral dos jovens e, portanto, oferecer práticas pedagógicas mais significativas. Ainda nessa proposta reflexiva, o estudo reunirá especialistas e gestores escolares nos dias 2 e 3 de agosto quando acontece o Seminário Internacional Equidade e Educação Integral no Ensino Médio, em São Paulo.

O Centro de Referências em Educação Integral conversou com a pesquisadora Ângela Meirelles de Oliveira, sobre as conclusões do estudo e os desafios ainda presentes na agenda de uma educação que promova a igualdade.

Centro de Referências em Educação Integral: Qual foi o objetivo do estudo “Políticas Públicas e Gestão Escolar para a Equidade e Desenvolvimento Integral no Ensino Médio”?

Ângela Meirelles: O estudo partiu da constatação de uma incompletude no debate sobre desenvolvimento integral, porque pouco abrangia a etapa do Ensino Médio. A partir disso, o Centro de Referências pensou em aliar uma pesquisa na literatura científica sobre o assunto a contribuições de especialistas nacionais e a informações sobre práticas que já ocorriam nas escolas, com vistas a elaborar uma série de recomendações. Estas servirão para orientar gestores que desejem implantar práticas que promovam a equidade.

CR: Qual a amostra considerada no estudo?

AM: O levantamento dos trabalhos científicos foi realizado com base em dados nacionais e internacionais. O resultado mostrou um número bastante reduzido de textos sobre desenvolvimento integral, equidade e ensino médio, os quais incluíam relatos de práticas, ensaios e pesquisas. Quanto às escolas, a busca realizada pela equipe de jornalistas do Centro de Referências culminou em 17 experiências nacionais e 12 estrangeiras.

CR: O que o estudo pode inferir sobre o papel da gestão escolar no combate às desigualdades, prevendo uma educação de equidade?

AM: É a gestão escolar que vai planejar ações, articular parceiros, priorizar enfoques, alocar recursos, cuidar do diálogo com as comunidades e com os educadores e educadoras, docentes ou não. Quando esta gestão tem o centro de sua ação em estudantes, em sua multidimensionalidade, ela certamente irá promover uma educação que fortalece a equidade.

CR: Qual a importância de que as escolas desenvolvam políticas para a promoção da equidade?

AM: Em muitos locais, a escola é uma das poucas, ou a única política pública a que as famílias mais pobres têm acesso. Não apenas, mas principalmente nesses casos, a educação não pode se ater somente ao aspecto instrucional. Especialmente porque fará isso em vão se não levar em conta a imensa diversidade sociocultural, étnico-racial e de gênero para que jovens estudantes possam desenvolver todas dimensões do desenvolvimento humano, como a física, a afetiva, a simbólica e a social, além da intelectual.

CR: O que as escolas que atuam pela promoção da equidade trazem de comum em suas práticas?

AM: Uma característica que me chamou a atenção é que a maioria dos gestores e gestoras declararam nas entrevistas possuir a preocupação com a garantia dos direitos dos e das estudantes. Esta perspectiva está no centro da atuação das escolas.

CR: Quais são os desafios ainda presentes nessa agenda?

AM: O desafio é mesmo a integralidade. Ainda que muitas das escolas atuem com a perspectiva do desenvolvimento integral, até o momento, as ações estudadas são, de muitas formas, sempre parciais. O desafio é articular ações nas mais distintas dimensões do desenvolvimento humano, em uma constante busca de compreensão da complexidade e da diversidade das juventudes que frequentam o Ensino Médio.

CR: Quais são as conclusões do estudo?

AM: As conclusões do estudo podem ser sintetizadas em três grandes eixos. Para o desenvolvimento integral e valorização da equidade no ensino médio, gestores e gestoras precisam atentar às práticas de gestão democrática, à diversidade e à valorização da autonomia de estudantes. É somente a partir da gestão democrática que os estudantes, individualmente ou em grupo, terão a escuta requerida para terem suas necessidades reconhecidas. Quanto à diversidade, uma escola sem preconceitos, racismo ou qualquer forma de discriminação é fundamental para que identidades e diferenças possam se manifestar de forma equilibrada. Nesse aspecto se deve incluir também a diversidade de interesses, que é tão pouco valorizada pelas nossas escolas, em geral homogeneizadoras. Por fim, a atenção à autonomia, tanto pelo incentivo ao estudo em grupo ou individual, pela autoavaliação, pelo protagonismo de jovens em relação a seus projetos de vida são cruciais para o desenvolvimento de seres humanos em sua plenitude.

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