publicado dia 10/12/2025
Com metas para Educação Integral e sem homeschooling, novo Plano Nacional de Educação (PNE) avança no Congresso
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 10/12/2025
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒️ Resumo: A Comissão Especial do Plano Nacional de Educação (PNE) na Câmara dos Deputados aprovou o texto da política que vai orientar o cenário educacional do país pelos próximos 10 anos. A garantia de 10% do PIB da Educação até 2036 foi amplamente celebrada. Confira outros pontos do texto aprovado.
O Brasil está a um passo de ter um novo Plano Nacional de Educação (PNE). Nesta quarta-feira, 10 de dezembro, a Comissão Especial do PNE na Câmara dos Deputados aprovou o parecer do relator, deputado Moses Rodrigues (União-CE), do Projeto de Lei n. 2614/2024.
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Após adiamento da votação e tentativa de inclusão da questão do homeschooling no texto na reta final da análise pelos deputados federais, o documento foi aprovado por unanimidade na Comissão Especial. Se não houver recurso para votação no Plenário da Câmara, o texto seguirá para apreciação do Senado Federal. Depois, o presidente Lula precisa sancioná-lo para virar lei.
“Construímos um plano ambicioso, mas realista, com metas objetivas e indicadores acompanhados em tempo real […] Agora vamos seguir para o maior desafio: transformar cada meta em resultado na sala de aula”, disse a deputada Tabata Amaral (PSB-SP), presidente da Comissão Especial.
É a terceira vez que o país traça metas e estratégias nacionais para o campo educacional, sistematizadas em um Plano Nacional de Educação, cuja primeira versão foi aprovada em 2001 e permaneceu até 2010. O documento atualmente em análise pelo Congresso Nacional substituirá o PNE aprovado em 2014 e abarcará o período de 2026 a 2036.
Para o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), vice-presidente da Comissão de Educação, o texto aprovado traz pontos essenciais para fazer a Educação brasileira avançar.
“É isso que a Educação precisa: valorizar melhor os nossos professores e professoras, os funcionários de escola, das nossas universidades, dos institutos federais, ampliar a educação integral e ampliar o acesso à creche”, afirmou.
A versão aprovada possui 19 objetivos estratégicos para melhorar a qualidade e a equidade da Educação Infantil ao Ensino Superior. Para tanto, prevê afinar a cooperação entre União, Estados e municípios, aperfeiçoar currículos, promover políticas de permanência e instituir mecanismos de acompanhamento contínuo dos indicadores ao longo dos anos.
Entre as principais definições, está a garantia de 10% do PIB para a Educação ao final do decênio. Em sete anos, os investimentos públicos em Educação devem alcançar 7,5%. Em 2025, o investimento público chegou a 5,2% do PIB.
“É com esperança e reconhecimento que saudamos o trabalho concluído na Câmara dos Deputados, fruto do intenso diálogo e da força da sociedade civil organizada. A garantia de 10% do PIB para a Educação pública é mais uma vitória histórica que nos impulsiona a seguir em frente”, disse a Campanha Nacional pelo Direito à Educação em nota.
Durante a votação, o deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ) também comemorou: “Viva os 10% do PIB para a Educação, mantidos no PNE. É claro que o desafio vem agora: colocar em prática cada um dos sonhos e desejos que expressamos nessa proposta”.
Em relação à Educação Integral em tempo integral, o PNE prevê que em cinco anos o Brasil oferte matrículas em jornada ampliada em 50% das escolas públicas e atenda 35% dos estudantes da Educação Básica.
Fonte de preocupação por parte da sociedade civil, especialistas e educadores, a regulamentação do homeschooling (ou Educação Domiciliar) chegou a ser proposta durante os trabalhos da Comissão Especial, mas acabou retirada do texto final.
Criticado por especialistas e defendido por segmentos conservadores, o homeschooling apareceu no PNE durante a reta final da Comissão Especial. A questão foi inserida como “jabuti” no texto, expressão utilizada quando um tema é anexado em um projeto de lei sem ter conexão com a proposta original.
A manobra chegou a adiar a votação do Plano, além de gerar forte reação da sociedade civil, que pressionou para a sua retirada. O tema acabou barrado na versão final do relatório, que só foi votado após a exclusão.
Ganharam mais espaço metas e objetivos relacionados à regulamentação e adequação ao Sistema Nacional de Educação (SNE), priorização de investimentos em infraestrutura, valorização dos profissionais na Educação Básica, combate à violência contra escolas e ao bullying.
Em três anos, o PNE determina que o Brasil tenha universalizado o acesso à escola para todas as pessoas entre 6 a 17 anos e disponibilizado condições mínimas de infraestrutura de funcionamento e salubridade a todas as escolas.
Até 2036, o objetivo é que 85% dos estudantes atinjam nível adequado de aprendizagem no término do Ensino Fundamental e 80% atinjam nível adequado de aprendizagem no término do Ensino Médio.
Também há metas e objetivos para reduzir contratos temporários, desenvolver e implementar planos para adaptação às mudanças do clima nas redes de ensino e promover Educação Ambiental, usar as tecnologias digitais de forma ética e segura, com ampliação da conectividade das escolas, e dispositivos de inclusão de populações vulnerabilizadas, como refugiados, e de pessoas em situação de privação de liberdade, principalmente no sistema socioeducativo.
Além disso, a gestão democrática foi fortalecida. O repasse de recursos será condicionado à escolha de diretores por critérios técnicos e de mérito, e a comunidade escolar deve participar de processos decisórios, como na escolha de materiais didáticos.
Citado pelo relatório analisado pela Comissão Especial, o Centro de Referências em Educação Integral mobilizou esforços para dialogar com os parlamentares durante a tramitação do PNE na Câmara.
Entre as ações, estão a participação da Diretora de Programas da Cidade Escola Aprendiz, Raiana Ribeiro, em audiência pública sobre a meta relativa à Educação Integral em Tempo Integral, realizada em maio na Comissão Especial.
Na ocasião, Raiana destacou que a concepção de Educação Integral poderia estruturar o compromisso do novo PNE com a equidade e o enfrentamento às desigualdades na Educação brasileira.
“É fundamental que a Educação Integral seja incorporada como uma diretriz de todo o Plano e que ela expresse um projeto de país que concebe o seu desenvolvimento a partir das pessoas e que enxerga a Educação Integral como um direito e não como um benefício reservado a poucos”, afirmou.
Um documento com o posicionamento das organizações que compõem a governança do Centro de Referências em Educação Integral também foi enviado para todos os membros da Comissão Especial, além de compartilhado com educadores de todo o Brasil.
*Com informações da Agência Câmara de Notícias
**Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados