publicado dia 06/08/2015
O que deve garantir a Base Nacional Comum da Educação Básica?
Reportagem: Ana Luiza Basílio
publicado dia 06/08/2015
Reportagem: Ana Luiza Basílio
Há pouco mais de um ano, o Ministério da Educação (MEC) anunciou o início da construção da Base Nacional Comum da Educação Básica, que pretende detalhar as aprendizagens que os estudantes brasileiros devem alcançar a cada etapa escolar. Orientado pela articulação entre o Ministério, algumas organizações representativas, como a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed) e representantes da sociedade civil, o processo deve ser finalizado até junho de 2016, como prevê o Plano Nacional de Educação (PNE) na estratégia 2.2 da meta 2, que trata da universalização do ensino fundamental.
O Centro de Referências em Educação Integral buscou entender em que momento da construção o grupo se encontra, como as diferentes contribuições serão consideradas, quais etapas ainda estão previstas até a finalização e de que maneira a base nacional comum pode contribuir com a qualidade da educação pública brasileira.
Segundo o diretor de currículos e educação integral da Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação, Ítalo Dutra, no momento, o grupo está finalizando um documento preliminar que será colocado em discussão a partir de setembro deste ano. Esta etapa de consulta pública deve acontecer até dezembro, para quando também estão previstas análises e compilações das contribuições em uma nova proposta que deve ser encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) e aprovada por este até março de 2016.
O que prevê o texto preliminar?
Segundo Dutra, o texto que deverá ir para consulta pública será constituído de:
– texto introdutório contextualizando o processo de elaboração da Base Nacional Comum no panorama mais amplo da educação nacional;
– texto de apresentação, que girará em torno da apresentação da estrutura do documento e de seus fundamentos;
– apresentação das quatro áreas do conhecimento e de seus objetivos ao longo da educação básica;
– apresentação das especificidades das áreas do conhecimento nas diferentes etapas da educação básica, dos componentes curriculares que a constituem e dos eixos nos quais se organizam os conhecimentos próprios a esses componentes;
– apresentação dos objetivos de aprendizagem de cada componente curricular, no caso das etapas dos ensinos fundamental e médio, com destaque para as intersecções entre objetivos de diferentes componentes de uma mesma área, assim como para articulações entre objetivos de diferentes áreas.
O diretor explica que, no caso da educação infantil, os objetivos de aprendizagem serão apresentados e referenciados de acordo com as áreas do conhecimento e experiências vivenciadas pelas crianças nas creches e pré-escolas.
Como modo de contribuir com as construções acerca do tema, o diretor falou sobre o lançamento da plataforma – Base Nacional Comum Curricular – que tem o propósito de alojar o documento preliminar e receber contribuições, tanto as da sociedade civil, como também de ordem individual; a plataforma também tem o objetivo de divulgar as fases do processo da construção da base.
A vice-presidenta da Undime e dirigente municipal de educação de Costa Rica, município do Mato Grosso do Sul, Manuelina Martins, se diz bastante confortável com a proposta. Para ela, é fundamental garantir aos estudantes a aquisição de habilidades e competências como um direito.
Manuelina aponta que a constituição da Base Nacional Comum propõe uma inversão da lógica educacional com a qual se opera atualmente. “Hoje, a educação se dá por uma listagem prévia de conteúdos, e deveria acontecer exatamente o contrário”, critica. Em sua opinião, o currículo deve ser elaborado a partir das necessidades de cada escola e território em que ela está inserida. O esforço de identificar tais demandas, por si só, já contribui para que as instituições de ensino, em todos níveis, repensem suas ementas e seus currículos; trata-se, em muitos casos, de forçar professores e gestores a trilharem um processo de mudança metodológica.
Isso também se estende às avaliações externas, como avalia Manuelina, que hoje também pautam os planejamentos educacionais. “Muitas escolas trabalham a partir dos temas do Ideb. Novamente, a lógica está invertida, porque ao invés da base servir como preparo para a avaliação, é a avaliação que dá o ponto de partida”, sentencia.
Ítalo também vê a consolidação da base como uma oportunidade de orientar as políticas de formação inicial e continuada de professores, as políticas de avaliação, e a produção de materiais de apoio ao trabalho do professor, incluindo as tecnologias digitais.
Essas contribuições, no entanto, devem se ancorar em uma base que seja reflexo de um movimento participativo e democrático com a sociedade. Para Manuelina, isso deve permear todo o processo de construção, até sua finalização. Nesse sentido, a gestora comemora a inclusão dos professores de sala de aula entre o grupo de especialistas que a SEB está consultando para a elaboração do documento. Ao todo, são 116, organizados em comissões por área, componente curricular e etapa da educação básica; a Undime fez a indicação de 27 nomes, um por Estado.
Ela também entende que o documento que vai originar a base deve ser enxuto e coeso, garantindo os direitos e ao mesmo tempo permitindo a inclusão de conteúdos de acordo com as demandas de cada região ou território. “Temos que permitir que as regionalidades sejam trabalhadas numa perspectiva local, como já orienta a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Ele [o documento] não pode ser inchado, justamente porque tiraria a possibilidade de cada localidade ter a sua autonomia”, explica. Essa questão é entendida como um desafio pelo Ministério da Educação.
Em um dos encontros articulados pelo grupo que articula a base, o Seminário Internacional Base Nacional Comum, especialistas questionaram a viabilidade de consolidar a proposta em apenas um ano. Em reportagem da Agência Brasil, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, diz que ela deve ser finalizada antes do prazo final, em junho de 2016.
Ainda de acordo com a matéria, Janine disse que, após a homologação – feita pelo Ministério depois da ida ao Conselho Nacional de Educação – será necessário fazer adaptações no sistema de ensino para que o novo modelo seja colocado em prática.