Escola de Santo André é polo de atendimento a estudantes com deficiência visual
Publicado dia 08/10/2015
Publicado dia 08/10/2015
A Escola Estadual Professora Inah de Melo sempre lidou com a diversidade. A começar pela sua própria localização. Situada no Parque das Nações, em Santo André, local de intensa passagem de ônibus regionais e intermunicipais, a instituição sempre acabou atraindo estudantes de diversas regiões da cidade andreense e também de seu entorno. Mas foi em 2008 que, por uma determinação da política estadual, essa condição tomou uma proporção ainda maior.
Até essa época, a unidade escolar, que integra a Diretoria de Ensino de Santo André, dividia com outras escolas da rede o atendimento a alunos com deficiência visual. Após a reestruturação das salas de recurso e a concentração delas em um único local, a escola Professora Inah de Melo passou a ser o pólo de atendimento da rede estadual para os casos de deficiência visual, atendendo inclusive alunos da rede municipal e privada.
A coordenadora do ensino fundamental, Érika Suzuki, reconhece que a larga experiência da escola com esse tipo de atendimento possibilitou essa configuração. “Conseguimos acompanhar esse aluno, com os mesmos professores, do ensino fundamental ao médio”, avalia. Isso também acabou por ampliar a atuação da unidade para além dos casos de deficiência visual. “Recebemos alunos com vários outros tipos de deficiências, de ordem motora e intelectuais”, conta Érika. Dos 1200 alunos atendidos, em média, entre ensino fundamental II e ensino médio, 30 apresentam algum tipo de atenção especial.
A gestão escolar reconhece que essa característica da escola é fruto de um processo desafiador, de amadurecimento e melhoria das práticas pedagógicas, em constante desenvolvimento. A prerrogativa é que os alunos com deficiência cursem as salas de aulas regulares com os demais alunos, mas há casos específicos em que a escola lança mão de outras estratégias para apoiar a aprendizagem.
Nesse sentido, e ancorada pela determinação do Estado que permite a criação de salas de aula com menor número de alunos, a escola criou o método Recuperação do Ciclo (RC) ou Recuperação do Ciclo Intensivo (RCI) para os alunos do 6º ano e 9º ano. Essas salas reúnem alunos que apresentam graves defasagens de aprendizado, decorrentes de paralisia cerebral, síndrome de down, entre outros acometimentos. “Fizemos a experiência com eles inseridos nas salas de aulas regulares e vimos que não estávamos dando conta”, relata Érika, que acredita que a quantidade de alunos e a falta de formação adequada foi um empecilho nesse caso.
A escola busca ancorar cada aluno em um conjunto de ações capazes de assegurar o direito à educação inclusiva e persegue a oferta de um local capaz de desenvolvê-los integralmente, do ponto de vista social e também cognitivo.
Sempre que notificados da entrada de um novo aluno na instituição, a gestão e a equipe de professores das salas de recurso tomam como estratégia a ida às salas de aula, para conversar com os alunos sobre as habilidades e deficiências do novo integrante, e orientações para apoiar a convivência do grupo. Os estudantes com deficiência frequentam a sala de aula regular e, no contraturno, de duas a três vezes na semana, por cerca de duas horas, são atendidos pelas salas de recursos, que tem como objetivo apoiar o trabalho do professor de sala de aula.
Érika explica que a atuação do professor de sala de aula e do especialista precisa estar muito alinhada. “O professor do curso regular precisa entender a necessidade de seu aluno e garantir que todo o conteúdo de sala seja antecipado ao especialista para que ele, por sua vez, o adeque ao braile e garanta o acompanhamento do aluno com deficiência juntamente com a turma”, explica.
A coordenadora fala sobre a importância de um trabalho contínuo com os professores para garantir a inclusão dos estudantes com deficiência no projeto pedagógico. A escola segue as orientações da rede, mas gere suas práticas de maneira autônoma. Durante as ATPCs – Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo -, obrigatórias, a instituição inclui oficinas pedagógicas para apoiar o trabalho dos docentes; esse momentos são realizados de duas a três vezes por semana, dependendo do número de aulas dos profissionais.
Este ano, a escola realizou a sua terceira edição da Feira de Troca de Livros, e a fez de maneira inclusiva. “Nos anos anteriores, os alunos com deficiência visual não tinham material para trocar”, conta Érika. Dessa vez, por meio de uma parceria da instituição com a Fundação Dorina Nowill, os estudantes tiveram uma banca de livros adaptados em braile.
Érika explica que é feito um respaldo teórico, que tem o intuito de colocar os professores em contato com autores que debatem o tema e também com metodologias que possam orientar o trabalho pedagógico; e também um de caráter prático, em que a equipe escolar procura se debruçar sobre as especificidades de cada aluno. Nesse sentido, há atividades de sensibilização e que se propõem a criar códigos de comunicação específicos com alguns alunos.
“Já chegamos a vendar os professores para que eles pudessem sentir o espaço escolar sem o apoio da visão”, relata a coordenadora. Ela também conta de um momento em que a equipe se reuniu para pensar formas de comunicação com uma aluna que tem paralisia cerebral e apresenta problemas na fala. “Começamos a utilizar a metodologia da prancha de comunicação, que aprendi ao fazer um curso de pós graduação. Ele possibilitou tornar a aprendizagem mais visual e medir o envolvimento dela com o tema, uma vez que ela podia apontar para os elementos que reconhecia”.
Ainda com o intuito de facilitar o processo de desenvolvimento desses alunos, a gestão escolar também optou por criar uma ficha pedagógica de cada aluno, que evidencia as habilidades de cada um deles, as deficiências e sugestões de possíveis recursos adaptados. Esse instrumento é construído a partir de conversas com os especialistas que já acompanham esse estudante, como neurologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo. Depois ele é trabalhado em conjunto com os docentes para orientá-los na condução de suas práticas.
Para Érika, a interação entre os estudantes é ainda mais benéfica para os que não têm deficiência. “Porque eles podem vivenciar a pluralidade da vida”, comenta. Já no caso dos alunos deficientes, a coordenadora entende que a escola é mais eficiente na promoção da interação social do que no desenvolvimento cognitivo. “Ainda não temos as condições e subsídios necessários para promover a inclusão da melhor maneira. Lidamos com despreparo dos professores, salas de aulas muito numerosas. Fazemos o nosso trabalho, mas sabemos que estamos aquém de uma educação inclusiva de qualidade”, finaliza.