Emei Manoel Fiel Filho: resgate histórico por trás do nome ajudou a valorizar escola
Publicado dia 16/05/2016
Publicado dia 16/05/2016
A Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Manoel Fiel Filho foi conhecida durante muito tempo como “o prezinho ao lado do posto de saúde”, ou “a escolinha do lado do supermercado”. Os professores perceberam que era necessário fortalecer a identidade do colégio, visando valorizar ainda mais aquele espaço dentro da comunidade e para isso decidiram realizar um resgate histórico.
Para dar conta dessa tarefa, os professores fizeram um levantamento e perceberam que poucos pais e estudantes sabiam quem tinha sido Manoel Fiel Filho, nome existente desde a fundação da escola. Em seu horário de formação, os docentes passaram a pesquisar quem foi essa figura e elaboraram uma proposta de abordagem do tema.
Os professores decidiram percorrer dois caminhos formativos: um com a comunidade escolar e outro com as crianças. O objetivo era contar a história do trabalhador que dá nome à escola e cuja história foi essencial para o fim da ditadura civil militar no Brasil (1964-1985).
Um primeiro passo realizado com as crianças foi a realização de rodas de conversa para explicar quem foi Manoel Fiel Filho. Por meio de trocas realizadas nesse espaço, os estudantes ficaram sabendo, em primeiro lugar, que o nome da escola era de alguém que realmente existiu, que foi padeiro, operário e cobrador de ônibus.
“O que me chamou atenção nesse trabalho foi o fato das crianças se admirarem por Manoel ter sido real. Para a gente que é adulto e conhece história é tão natural saber que aquela pessoa existiu que muitas vezes não resgatamos o verdadeiro sentido do tema trabalhado, por julgarmos que é sabido por todos, ou que não é necessário. Esse trabalho me fez refletir sobre isso”, afirmou a professora da escola, Marta Marin da Costa, no relato de prática da Emei, enviada ao Centro de Referências em Educação Integral.
“Professora, então o Manuel era um homem de verdade?”. “Meu pai também é padeiro!”. “O que é cobrador de ônibus?”, foram algumas das colocações feitas pelas crianças depois das rodas de conversa organizada pelos docentes.
Operário metalúrgico morto em 1976 pela ditadura militar. Vivia na capital paulista desde os anos 1950. Trabalhou como padeiro e cobrador de ônibus antes de se tornar operário metalúrgico, quando passou a exercer a função de prensista na Metal Arte, no bairro da Mooca, aos 19 anos.
Em janeiro de 1976 foi preso por dois agentes do Doi-Codi, na fábrica, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). No dia seguinte à sua prisão, os órgãos de segurança emitiram nota oficial afirmando que Manuel havia se enforcado em sua cela com as próprias meias. Porém, de acordo com colegas, quando preso, usava apenas chinelos. Saiba mais.
“As crianças estavam acostumada a falar o nome da escola, mas sem refletir sobre quem foi Manoel. Ao se deparar com o retrato, passado em mãos na roda de conversa, e ao saber que ele tinha sido um homem de verdade, um operário, padeiro e cobrador de ônibus, isso impressionou muito as crianças”, afirmou a coordenadora pedagógica da escola, Lilian Cangussu.
Além das rodas de conversa, os estudantes também realizaram outras atividades. Em uma delas, foram incentivadas a desenhar retratos de Manoel Fiel Filho. A discussão também trouxe questões sobre o projeto de vida desses pequenos que entraram em contato com profissões que eles mesmos não sabiam que existiam, como a de cobrador de ônibus.
“Outro desdobramento do trabalho das profissões foi o trabalho com o sonho, os projetos para o futuro, o que as crianças pensam sobre isso, que profissão desejam ter e muitas foram as respostas: motorista de helicóptero, bailarina, professora, pedreiro, cantor, cantora, advogado, comprador , entre outras”, afirmou Lilian.
O projeto não parou nas crianças e envolveu também debates com a comunidade escolar. Partiu-se do pressuposto de que as pessoas do entorno também precisavam saber a história da pessoa que dava nome à escola para valorizá-la.
Nesse sentido foram realizadas duas atividades formativas com as famílias, pois muitas também não sabiam nada sobre Manoel e, em alguns casos, também do que foi a ditadura militar. O historiador da região, Marcos Ahlers, e o jornalista Rodolfo Lucena, foram a escola para contar um pouco sobre a história do período e também sobre Manoel. Nesses duas tardes formativas, foram usados dados históricos, curta-metragens e livros que circularam entre os pais.
“A parceria entre família e escola é muito importante. Juntos é possível contribuir para o processo de aprendizagem das crianças, pois a família, ao validar e valorizar a aprendizagem que a criança constrói na escola, contribui também no processo educativo, auxiliando as bases afetivas, sociais”, afirmou Lilian.
O projeto durou dois meses entre fevereiro e abril deste ano e foi concluído com uma caminhada pela paz em que os alunos e a comunidade escolas fizeram um abraço coletivo na escola como forma de valorizar o espaço.
De acordo com Lilian, as atividades foram um grande sucesso e a partir de agora a prática será incorporada no projeto da escola. Ela ainda não fechou com os demais professores, mas uma das propostas é que a partir de 2016, os próprios alunos mais velhos se tornem responsáveis por explicar para os mais novos quem foi o operário que dá nome à unidade da rede.
“O papel do professor seria mediar essa formação”, sugere Lilian, que ainda discutirá a proposta com os demais docentes.