Almirante Tamandaré (PR) promove trabalho coletivo entre educadores para planejar atividades remotas
Publicado dia 13/05/2021
Publicado dia 13/05/2021
Os professores das quase 50 escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da rede municipal de Almirante Tamandaré (PR) encontraram um caminho para enfrentar o desafio de reinventar o trabalho pedagógico de forma que ele continuasse a fazer sentido para os estudantes no formato remoto. Ao invés de encarar a tarefa individualmente, se uniram para pensar juntos.
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“Os estudantes aprendem em todos os lugares. Mas como fazer isso de forma intencional, atentando aos objetivos de aprendizagem? Como articular nosso currículo às novas demandas e rotinas de trabalho dos professores? Como pensar uma escola que faça sentido nesse contexto de tragédia, sem ignorar que as crianças estão inseridas nessa realidade?”, diz Jucie Parreira, Secretário de Educação do município, ao narrar os principais pontos debatidos pelas escolas no começo da pandemia, que serviram para nortear seus trabalhos.
Nessa inquietação de pensar como continuar a caminhar, os professores de uma das escolas do município se organizaram para planejar as atividades do ensino remoto emergencial coletivamente. Jucie percebeu, ali, a oportunidade de expandir a estratégia e promover a troca não só entre os professores de uma mesma escola, mas entre todas as unidades escolares.
“Já que é a primeira vez que todos nós estamos enfrentando esse desafio, por que não fazer isso de forma coletiva, articulando as diferentes escolas? Juntos, os professores podem trocar práticas, conhecimentos e se ajudar com dificuldades pontuais”, afirma o Secretário.
No final do primeiro semestre de 2020, teve início na rede de Almirante Tamandaré esse novo formato de trabalho, que funciona da seguinte forma: as escolas de um mesmo território, ou seja, aquelas que estão próximas geograficamente e possuem semelhanças sociais e culturais, são agrupadas. Dentro desse grupo, todos os professores que lecionam para um mesmo ano formam um grupo de trabalho, que se reúne virtualmente, a cada quinze dias, para planejar o trabalho pedagógico remoto. Cada agrupamento também conta com uma coordenadora pedagógica e uma professora da sala de recursos multifuncionais.
Todas as atividades pedagógicas que vão ser elaboradas naquele bimestre têm um tema norteador em comum. A cada bimestre, a Secretaria de Educação envia para todos os grupos de trabalho algumas sugestões de temas que tenham conexão com a realidade dos estudantes, como direito à Saúde ou direitos socioambientais, e cada grupo escolhe o que faz mais sentido para seu território.
A professora Eliza Larsen Bonifácio, que leciona para uma turma de 5º ano do Ensino Fundamental, por exemplo, se reúne com outras sete professoras de outras escolas do território que também lecionam para o 5º ano. Elas debatem em conjunto o tema da quinzena, os componentes curriculares e compartilham estudos, documentos norteadores, práticas, cursos, suas experiências e tudo que pode auxiliar no planejamento das atividades.
Em seguida, elas se dividem em duplas e cada uma fica responsável por uma disciplina. Nesse caso, como são oito professoras, uma dupla fica responsáveis por Língua Portuguesa, outra por Matemática, uma por Ciências, e as demais ficam responsáveis por uma disciplina cada. Enquanto isso, a professora da sala de recursos e a coordenadora pedagógica do grupo de trabalho oferecem qualquer apoio necessário.
Com as propostas de atividades prontas, o grupo todo se reúne novamente e socializa as práticas entre os colegas e com a coordenadora. Depois, o grupo se separa e cada professora se volta para a sua unidade onde, em conjunto com a coordenadora pedagógica da escola, adequam as atividades de acordo com o Projeto Político Pedagógico (PPP) e as características específicas da escola e da turma.
As propostas são, então, enviadas para os estudantes por meio do WhatsApp ou no formato impresso, pelas Casas Sementeiras, um coletivo formado pela comunidade que apoia a distribuição dos materiais nos territórios.
No próximo encontro, dali quinze dias, as professoras compartilham a avaliação das atividades feitas pelos estudantes e indicam as potencialidades e desafios que as turmas encontraram. Em seguida, trocam de duplas e de disciplinas e iniciam o processo novamente.
“Estamos construindo uma parceria legal com isso, aprendendo bastante, nos aprimorando. O mais interessante é conhecer outras profissionais e ter a oportunidade de trabalhar junto”, diz Eliza.
A professora Elenize Maria Maffei, da Educação Infantil, compartilha da mesma percepção: “Conseguimos ver como outros professores trabalham e aprender a partir disso, um fortalecendo o outro, em uma troca de experiências muito rica. Nesse desafio da pandemia, atuando juntos, nos sentimos um pouco menos sozinhos”.
Na rede municipal de Almirante Tamandaré, algumas escolas se destacavam por seu fazer pedagógico. Para o Secretário de Educação, quando isso ocorre de forma pontual, não é sinal de sucesso da rede. “Para nós, êxito é equidade, é que todas as crianças tenham as mesmas oportunidades”, diz.
Nesse sentido, o trabalho coletivo entre os professores tem ajudado a complementar a formação continuada dos educadores e a melhorar a qualidade do ensino como um todo. “Ainda temos muito a melhorar, mas essa tem sido uma reinvenção pedagógica importante, que tem aprimorado a formação docente por meio das trocas que eles fazem entre si. Os professores estão sendo corajosos de, no meio dessa pandemia, propor caminhos, repensar a própria prática e se expor”, elogia Jucie.
Renata Matos, que é coordenadora pedagógica de uma escola da rede, também percebe que a troca de saberes entre os educadores, o desafio de trabalhar em grupo e olhar para a realidade e as especificidades de cada território e turma, tem surtido efeito.
“Melhorou muito em questão de formação continuada, porque cada um tem um saber e, ao trocar, vem sendo construído um saber novo para todos os professores e escolas. É uma mudança especialmente interessante porque parte dos próprios professores, não é algo que vem de cima para baixo”, destaca a coordenadora pedagógica.
Para resumir o que tem percebido em relação ao trabalho da rede em superar os desafios que a pandemia criou ou aprofundou, Renata cita Paulo Freire: “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão”.
O que é a #Reviravolta da Escola?
Realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com diversas instituições, a campanha #Reviravolta da Escola articula ações que buscam discutir as aprendizagens vividas em 2020, assim como os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia.
Leia os demais conteúdos no site especial da #Reviravolta da Escola.
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