A escola Espacio A instiga estudantes a elaborarem planos individuais de acesso ao conhecimento
Publicado dia 23/04/2014
Publicado dia 23/04/2014
Iniciativa: Espacio A – Comunidade de Aprendizagem Natural, Ativa e Democrática
Pública ou Privada: comunitária, de origem privada
“Mais que uma escola, o Espacio A é uma comunidade de aprendizagem”, é a descrição inicial do projeto de educação democrática realizado há sete anos na cidade de Viejo San Juan, em Porto Rico.
Voltada para crianças e jovens de 6 a 18 anos, o maior objetivo da iniciativa é formar estudantes que sejam capazes de refletir e transformar a sociedade, e não apenas para atuar na vida profissional. Por isso, a organização tem como princípio fundador a ideia de que a educação não se faz apenas no espaço físico de uma escola, mas em qualquer espaço e a todo tempo, assim como sugere seu nome.
O sistema governamental de Porto Rico é bastante semelhante ao dos Estados Unidos. A escola se apresenta como uma escola no modelo “charter”, que é autônoma no desenho curricular e tem financiamento privado, mas responde à administração central da educação no país.
Outro aspecto que norteia as ações do projeto é a ideia de uma aprendizagem construída de forma colaborativa entre professores e alunos, com um currículo que permite aos estudantes elaborar seu próprio percurso de aprendizagem. Com isso, o Espacio A investe na valorização as habilidades das crianças e jovens, objetivando, que cada um deles possa descobrir o que gosta de estudar ou deseja produzir.
Em vez de seguir durante todo o ano com um mesmo currículo, de três em três meses os alunos e professores do Espacio A discutem juntos a forma como os conteúdos foram desenvolvidos. A partir deste diagnóstico, elaboram a forma como irão estudar no trimestre futuro. Três perguntas norteiam esse exercício de reflexão: o que eu posso ensinar e me sinto confiante em compartilhar, o que os outros querem e, ainda, quais são as minhas curiosidades?
O Espacio A acredita que todo aprendizado surge por meio de um compromisso depositado naquilo que se pretende estudar. Por esta razão, que os alunos escolhem seus próprios cursos e participam da construção do mesmo.
Neste dia, cada estudante pode dividir com os colegas aquilo que tem vontade de aprender. As salas de aula também ficam disponíveis a todos, deixando ao critério dos alunos escolher o tema que chama mais sua atenção e tem mais a ver com seus interesses, necessidades e habilidades. Ao mesmo tempo, professores têm a chance de apresentar aos alunos materiais e experiências que desejam ensinar aos alunos, no intuito de chegarem a um consenso do que será aprendido de forma colaborativa. Esse é o momento de discutir os projetos independentes, projetos desenvolvidos e que carecem de aprofundamento, estágios, passeios fora da escola, palestras, workshops – tudo organizado tanto por educadores, quanto por estudantes.
Diante da possibilidade de escolher o conteúdo que será estudado, os alunos podem criar planos de aulas que englobem as matérias básicas, mas fazendo com que elas apareçam de forma transversal em seu ensino. Fazem parte dos planos os trabalhos individuais e em grupo, as aulas, os serviços de aprendizagem baseados em projetos, viagens de campo que mesclam diversos interesses, como música, linguagens, matemática, natureza, relações interpessoais, entre outros. Para a escola, que atende número limitado de alunos, sem séries ou classes pré-definidas, não há distinção entre os chamados conteúdos curriculares ou não-curriculares.
Feito o planejamento, cada estudante possui seu projeto pessoal para desenvolver. Para seu desenvolvimento, o aluno se encontra regularmente com professores orientadores, um momento que pode, uma vez mais, refletir sobre seus objetivos, planejar sua aprendizagem, falar de seu progresso e traçar os novos rumos, sempre articulados com seus interesses individuais e planos de vida.
O cotidiano do Espacio A é muito diversificado, uma vez que cada um tem liberdade para organizar seu dia letivo da maneira que acha mais eficiente, associando o conteúdo estudado aos interesses pessoais.
Uma vez por semana os estudantes se reúnem para discutir um tema específico, em atividade realizada em sala de aula. Ainda dentro da escola, os meninos e meninas podem realizar trabalhos individuais a partir de curiosidades momentâneas que possam aparecer no dia a dia, transformando-as em verdadeiros projetos. Há também as chamadas “semanas intensivas”, que visam a discussão de um tema do cotidiano de forma aprofundada e que podem se estender por outras semanas, indicando que mesmo as atividades “surpresa” devem acontecer no tempo necessário para o aprendizado de cada um.
Uma outra ferramenta utilizada como complemento ao estudo são os vídeos da Khan Academy [disponíveis também em português], a partir dos quais os alunos podem realizar exercícios práticos e validar, no seu próprio ritmo, os conhecimentos que desejam aprender.
Além disso, cotidianamente, os dias são finalizados com alunos e professores agradecendo uns aos outros por mais um dia. A atividade, inspirada no movimento de “Psicologia Positiva” da Universidade da Pennsylvania, é realizada para aumentar a conscientização sobre os elementos positivos que rodeiam as ações e pessoas, transformando possíveis dificuldades de relacionamento ou aprendizagem em processo natural da vida de cada pessoa.
No modelo adotado pelo Espacio A, os estudantes têm ainda a possibilidade de realizar um estudo independente já aprovado pelos professores, que tenha como foco alguma ação na comunidade e vá ao encontro das necessidades levantadas no dia do diagnóstico. Eles realizam ainda viagens e excursões de intuito educativo.
O projeto elencou cinco “valores essenciais” para nortear o dia a dia no espaço, que são: praticar a integridade, participar ativamente na comunidade, expressar opiniões de forma honesta e com empatia, ter uma mente aberta e agir com coragem.
Ao considerarem que a educação não é feita apenas entre os muros da escola, o projeto acredita que o processo educativo também não é responsabilidade apenas do professor, mas de toda a comunidade. No Espacio A, os estudantes são convidados a empreender na vida cotidiana ou nos projetos ações que envolvam seus pais, funcionários e demais indivíduos ou organizações da comunidade.
A escola entende que as tarefas são processuais a parte do aprendizado. Contudo, os estudantes devem ter a liberdade de se organizar para realizá-las, sempre em acordo com o planejamento e projetos que estabelecem para si próprios. As lições de casa nunca são exercícios de memorização – ao contrário, são trabalhos de pesquisa ou estudo dirigido que visam apoiar o acesso ao conhecimento que cada criança deseja para si. Por exemplo, se o projeto do estudante é construir um barco, ele precisará trabalhar operações e fórmulas matemáticas e de física. Portanto, seu mentor o orientará para estudar estes conhecimentos e, se necessário, exercitá-los como tarefas.
Para a escola, a avaliação também é formativa, pois indica para cada indivíduo o que deve fazer para acessar o que procura. Mas, no lugar de provas, a escola investe em autoavaliação e na avaliação mediada do estudante com seu mentor. Além disso, no início do ano ele estabelece um plano de trabalho nas áreas social, pessoal e intelectual e conforme os dias passam, ele registra as ações realizadas e conhecimentos adquiridos em cada campo. O portfólio é apresentado aos colegas, familiares e parceiros da comunidade duas vezes por ano, que por sua vez, são convidados a discutir o que foi feito e indicar possíveis caminhos para o estudante alcançar seus objetivos.
Início e duração: 2007 até os dias atuais
Local: Viejo San Juan, Porto Rico
Responsáveis: Espacio A
Segundo os proponentes da escola, propiciar esse momento de reflexão aos estudantes fomenta em cada um deles a vontade de explorar os elementos que estão à sua volta, conectando o aprendizado às coisas práticas. Isso acaba também desenvolvendo o pensamento crítico e criativo, além de auxiliá-los a a construir um senso de autonomia sobre seus estudos.
A escola tem cerca de 20 alunos e visa expandir para 60, mantendo sua estrutura pequena e de atenção individualizada. A equipe tem apenas seis pessoas contratadas; os demais envolvidos nas ações da escola são voluntários da comunidade ou pais dos estudantes.
Na graduação, que tem reconhecimento do governo porto-riquenho, os estudantes elaboraram uma autobiografia na qual devem justificar o porquê de estarem prontos para a próxima etapa da vida. Em todo o processo, o mentor auxilia o estudante a refletir e entender o que a formação superior ou trabalho exigirão dele e o que ele deverá fazer para atingir seus objetivos.
Os que têm como plano a formação universitária estabelecem com seus mentores uma rotina de estudos para a prova, revisitando conhecimentos que talvez não tenham sido abordados.