Copa da Rua promove discussão sobre direitos da criança e do adolescente
Publicado dia 21/05/2014
Publicado dia 21/05/2014
Iniciativa: Copa da rua (Street Child World Cup)
Pública ou Privada: 3º Setor
Há quem associe a Copa do Mundo apenas ao futebol, sem pensar que o evento pode ir além da modalidade esportiva e promover discussões importantes sobre as violações de direitos que ocorrem nesse período.
Foi pensando no desafio de proteger crianças e adolescentes que se encontram em situação de rua, que a organização britânica Street Child United criou a Street Child World Cup (Copa das Crianças da Rua, em português).
Realizada de quatro em quatro anos no período que antecede a o Mundial de Futebol, o objetivo da iniciativa é pautar a agenda pública acerca dos problemas que esse público enfrenta nos grandes eventos, como o trabalho infantil e abuso sexual. Dentre as principais metas do projeto estão o acesso a uma plataforma que realmente escute as crianças; sensibilizar as pessoas acerca do problema e garantir seus direitos.
O projeto acontece em parceria com outras organizações nacionais que já trabalham a questão dos direitos das crianças e adolescentes localmente. São essas iniciativas que organizam as equipes para a disputa.
Ao todo, reúnem-se em torno do projeto dezenove países de quatro continentes diferentes, com o intuito de promover a diversidade e o intercâmbio cultural. São dez dias de intensas atividades, que vão bem além da disputa de futebol. Durante esse tempo, os envolvidos participam de atividades artísticas, musicais e realizam ainda visitas aos pontos turísticos do local onde estão hospedados. É um momento de reflexão entre os pares, fazendo do encontro uma oportunidade de se autoreconhecer e trocar experiências, aliando forças para conduzir transformações relacionadas aos direitos que os envolvem.
Idealizada inicialmente no período que antecedeu a copa na África do Sul, em 2010, o primeiro objetivo da ação era pautar a agenda pública sobre a varredura que policiais de Durban faziam contra meninos e meninas. Eliminar a ação era uma forma de incluir as crianças e adolescentes ao evento. No período, oito países que integravam o Mundial de Futebol aderiram à causa, que recebeu atenção internacional e barrou a ação policial.
Na época, as crianças brasileiras foram apoiadas pelo Projeto Quixote, em São Paulo e pela Associação Beneficente São Martinho, no Rio de Janeiro. Todas estavam ou adotadas ou abrigadas, mas tinham vivenciado a rua.
O projeto reuniu jovens de todo o mundo em uma competição diferente. Além de jogar futebol, eles foram envolvidos em oficinas artístico-culturais e de sociabilidade, fazendo da copa um momento de integração desses meninos e meninas. Ao fim do projeto, foi divulgada a Declaração de Durban, produzida pelas próprias crianças presentes e entregue ao Comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos e governos envolvidos na causa.
Em 2014, foi a vez do Brasil sediar a copa diferente. Em abril, mais de 230 jovens de 19 países de todo o globo se reuniram no Rio de Janeiro. Assim como ocorreu na África, o evento do Brasil também foi além do futebol, com festival de artes, conferência participativa sobre os direitos das crianças e adolescentes e até ato simbólico em frente à Candelária, como exercício de cidadania.
Para representar a seleção brasileira, duas organizações não-governamentais foram convidadas a apoiar os participantes. Os garotos da Associação O Pequeno Nazareno, de Fortaleza (CE), constituíram o time masculino. Enquanto as meninas do Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social (IBISS-RJ) estiveram a frente da ala feminina.
No Brasil, a realidade das crianças em situação de rua não é muito diferente. O triste caso do adolescente Rodrigo Kelton ilustra bem esse quadro. Com 14 anos recém-completos e se preparando para participar da Copa da Rua, Rodrigo foi assassinado nas ruas de Fortaleza, em fevereiro deste ano. Nascido em uma família pobre e com os pais viciados, Rodrigo e seu irmão passaram a ficar cada vez mais tempo nas ruas. Em 2009, entretanto, ele começou a participar das atividades de O Pequeno Nazareno.
Com a perspectiva de participar da Copa da Rua, Rodrigo ganhou um horizonte. “Ele aceitou o desafio, deixou as drogas e não perdia nenhum treino”, relata o fundador da entidade, Bernardo Rosemeyer, em um comunicado. A justificativa para o assassinato seria um crime praticado por Rodrigo há anos no território dominado por traficantes. “O passado retornou para assombrar Rodrigo, antes que a semente da nova vida pudesse crescer e trazer frutos para uma vida de dignidade.”
Do lado masculino, nove meninos esperavam ansiosos pelo evento. Não à toa, já que a chance de conhecer adolescentes com experiências semelhantes não ocorre todos os dias. Antes de seguirem rumo ao Rio de Janeiro, no entanto, a ONG da qual fazem parte realizou um longo período de preparação, não só física, mas também emocional. Foi contratado um treinador de futebol especialmente para o torneio e uma psicóloga fez o acompanhamento da pré-viagem.
Ao chegarem, a surpresa de estar em contato com a cultura e língua de outras nações logo os encantaram. Ao todo, foram dez dias no Rio de Janeiro, quando puderam perceber que estar com seus pares era mais importante que a própria competição. Os dez dias de festa acabaram, mas os meninos voltaram para suas realidades mais dispostos a lutar pelos seus direitos.
Início e duração: 2009 aos dias atuais.
Local: países-sede da Copa do Mundo (Durban – África do Sul e Rio de Janeiro – Brasil)
Responsáveis: Street Child World Cup, inisicativa da Save The Children
Envolvidos e parceiros: ABC Trust Fund, GM Brasil, Deloitte, Vitol, Tui, Prefeitura do Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social (IBISS-RJ) e O Pequeno Nazareno.
Financiamento: Deloitte
“Quando as pessoas nos veem na rua, dizem que somos de rua. Mas quando nos veem jogando futebol, eles vão dizer que somos pessoas como eles. Eles são pessoas como nós. ”
O depoimento é de Andile, que integrou a equipe sul-Africana na primeira edição do projeto. A percepção de que o esporte muda o olhar da sociedade em direção a essa criança, pode ser considerada uma dos maiores conquistas do projeto.
Mas os bons resultados foram bem além do futebol. Na primeira edição da Copa da Rua, as crianças produziram juntas a Declaração de Durban, que trazia seus anseios e problemáticas. Posteriormente, ela foi apresentada ao Comitê das Nações Unidas sobre Direitos Humanos, assim como governos e organizações sociais. Além deste documento, foi criado um outro intitulado Manifesto das garotas de rua, também levado às principais ONGs internacionais.
Ainda em Durban, no início do projeto, havia o temor das crianças por policiais que as expulsavam das ruas, em ação clara de “higienização urbana”. Com a Copa da Rua de Crianças o caso foi denunciado, ganhou repercussão da mídia e o problema foi barrado. Nas Filipinas, o sucesso da equipe levada para a copa diferente sensibilizou o país a criar um projeto que utilize o futebol para orientar as crianças de rua.
Contato:
Site: http://streetchildworldcup.org/
Facebook: streetchildworldcup
Twitter: SCWC2014
E-mail: [email protected]
Organizações de apoio no Brasil
Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social (IBISS-RJ)
Local: Rio de Janeiro (RJ)
Site: http://www.ibiss.com.br/
O Pequeno Nazareno
Local: Fortaleza (CE) e Recife (PE)
Site: http://www.opequenonazareno.org.br/
Facebook: opequenonazareno