publicado dia 05/11/2025

Seminário Nacional de Educação Integral apresenta práticas de combate à crise climática

Reportagem: | Edição: Tory Helena

🗒 Resumo: Quais as contribuições da Educação Integral para o enfrentamento à crise climática? Este foi o cerne do debate na tarde de terça-feira, 4 de novembro, durante o IV Seminário Nacional de Educação Integral. Saiba mais!

O IV Seminário Nacional de Educação Integral dedicou um de seus debates a pensar a crise climática e o papel da Educação Integral em seu enfrentamento.

Para tanto, trouxe reflexões e experiências de quem promove transformações na prática durante a mesa “Educação Integral para cuidar da vida e do planeta”, que aconteceu na tarde de terça-feira, 4 de novembro.

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O debate contou com a presença de Claudionei Vicente Cassol (URI e Escola Estadual Dr. Dorvalino Luciano de Souza Cerro Grande/RS), Guy Barcelos (CCMAR/FURG) e Rachel Trajber (CEMADEN). A mediação foi feita por Raiana Ribeiro (Cidade Escola Aprendiz).

Sobre o IV Seminário Nacional de Educação Integral

Com o tema “Sustentar e ampliar o direito à Educação Integral no Brasil: contribuindo para a construção de uma política nacional”, o Seminário é realizado presencialmente em Porto Alegre (RS) e com transmissão ao vivo para todo o Brasil.

O evento reúne educadores, especialistas e autoridades, organizados em diferentes mesas de discussão, entre os dias 03 e 05 de novembro.

Em 2025, o Seminário Nacional de Educação Integral é organizado pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), pelo Observatório Nacional de Educação Integral (UFBA) e pelo Centro de Referências em Educação Integral (CR). Além disso, o evento conta com apoio do Ministério da Educação (MEC), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), dos Comitês Territoriais de Educação Integral, da REDHUMANI e da Cátedra UNESCO Cidade que Educa e Transforma.

Assista à mesa na íntegra:

O contexto do debate

Para iniciar a conversa, Raiana Ribeiro, Diretora de Programas na Cidade Escola Aprendiz, destacou o contexto em que o debate ocorreu: em Porto Alegre (RS), cidade impactada pelas enchentes em 2024, uma das maiores tragédias climáticas do país, e que afetou especialmente as pessoas negras, pobres e periféricas, bem como as crianças e adolescentes.

“Não haverá equidade educacional sem equidade ambiental”, disse Raiana Ribeiro.

O evento também acontece às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) e da Cúpula dos Povos, justiça climática.

“Além do simbolismo dessa COP ocorrer em território amazônico, que como ensinou Paulo Freire, carrega a denúncia de para onde esse sistema está nos levando, mas também o anúncio vindo daqueles que já estavam lá há milhares de anos e cultivam essa floresta tão estratégica para o equilíbrio bioclimático do planeta”, afirmou Raiana.

Outro fator fundamental em curso é a aprovação do novo Plano Nacional de Educação (PNE), que vai orientar as políticas educacionais da próxima década. O documento em análise pelo Congresso Nacional traz metas e objetivos para a adaptação das escolas à crise climática, formação dos professores em Educação Ambiental e Sustentabilidade, fortalecimento de políticas intersetoriais e de um currículo que aborde a justiça climática e a transição ecológica de forma transversal.

“Não haverá equidade educacional sem equidade ambiental. As populações mais expostas aos riscos climáticos são aquelas cujos direitos educacionais são e foram historicamente violados”, disse Raiana.

Biosofia e Educação Integral

Claudionei Vicente Cassol, professor na Universidade Regional Integrada (URI) e na Escola Estadual Dr. Dorvalino Luciano de Souza Cerro Grande (RS), apresentou o conceito de biosofia para contribuir com as reflexões.

“A Educação Integral é resistência, luta e consciência da necessária disputa que precisamos fazer sempre para garantir o espaço de todos e todas na escola e com qualidade”, afirmou Claudionei Vicente Cassol.

O especialista explicou que se trata de um campo de conhecimento que não separa a escola da vida, considera a pessoa como um todo e que se constitui não individualmente, mas em comunidade. A biosofia também considera a capacidade humana de pensar, organizar ações e dinamizar existências. 

“A escola só é possível a partir do momento da existência das pessoas, e é nesse momento em que os governos e poderes falham, e nós falhamos, porque não consideram o direito básico à vida. E não só do ser humano, mas a vida toda do planeta, que permite que o ser humano se desenvolva com dignidade, e aí possa pensar. A Educação Integral é resistência, luta e consciência da necessária disputa que precisamos fazer sempre para garantir o espaço de todos e todas na escola e com qualidade, aprendizado, consciência e humanismo. É disso que trata a biosofia, um compromisso com a vida e com todos e todas”, explicou.

O Centro de Convívio dos Jovens do Mar

A Universidade Federal do Rio Grande (FURG) criou um espaço para profissionalização de jovens em situação de vulnerabilidade social que promove pesquisa e divulgação de conhecimento, mas também lazer e convivência. É o Centro de Convívio dos Jovens do Mar (CCMar), às margens da Lagoa dos Patos.

“O problema da mudança climática não é o evento natural, é a nossa relação totalmente mal ajustada com o planeta”, disse Guy Barcelos.

“Temos uma formação humanista e ecológica centrada na maritimidade, em uma cidade rodeada por águas”, definiu Guy Barcelos, coordenador pedagógico do CCMar.

O Centro oferece 350 vagas para jovens de 14 a 23 anos de idade. Eles escolhem um curso para participar nas áreas marítimas e de meio ambiente, gastronomia, gestão, beleza e movelaria.

Além da profissionalização, a formação é atravessada por direitos humanos, ecologia, alfabetização científica, saúde pública e resgate das tradições locais. Há também ações de diversidade, um período para almoço e outro para jogos e brincadeiras, a fim de estimular o convívio entre os jovens.

Todo o trabalho é uma forma de contribuir com o enfrentamento às raízes da crise climática: “O problema da mudança climática não é o evento natural, é a nossa relação totalmente mal ajustada com o planeta que nos leva a esse sofrimento todo e que atinge sobretudo os oprimidos”, disse Guy.

Fortalecendo escolas e comunidades

Há 12 anos o Centro Nacional de Alertas e Monitoramento de Desastres Naturais, Cemaden Educação, dialoga com escolas e comunidades sobre a prevenção de riscos de desastres, com foco em promover a justiça climática, já que “os que menos contribuíram com a atual crise são os que mais sofrem com seus efeitos. São as pessoas periféricas, indígenas, quilombolas, que dependem da terra e da água para sobreviver”, explicou Rachel Trajber, coordenadora do programa.

Seu objetivo é que cada escola se torne um ponto de pesquisa, monitoramento e alertas de desastres socioambientais para a comunidade. Para tanto, promove a Educação Integrail, por meio da ciência cidadã, atrelada aos conhecimentos locais, faz campanhas de conscientização, aproxima a comunidade e órgãos públicos como a Defesa Civil, para tecer uma rede de proteção, divulga informações e conhecimentos por meio do site e oferece materiais pedagógicos.

Um deles é o documento “Nós no clima da mudança“, um material que visa conscientizar e engajar escolas e estudantes sobre a importância da justiça climática, usando materiais didáticos que conectam saberes científicos, populares e ancestrais para propor projetos e ações da Educação Infantil até o Ensino Médio.

O Cemaden também realiza intervenções transformadoras que já salvam vidas. Em 2022, Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife, enfrentou fortes chuvas que causaram a morte de 64 pessoas. Mas um dos bairros afetados não registrou nenhuma morte.

Seis dias antes, duas escolas que haviam construído pluviômetros de garrafa PET, ligados a um aplicativo móvel para monitorar as chuvas, emitiram um alerta de risco de alagamento. “Esses estudantes efetivamente salvaram vidas. Foi a única região que não teve nenhuma morte”, disse Rachel.

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