publicado dia 03/09/2025
Curta Um Pé de Caju mostra o papel da escola na luta de uma comunidade quilombola por seu território
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 03/09/2025
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒 Resumo: O curta-metragem premiado Um Pé de Caju conta a história da comunidade quilombola de Cajueiro, em Alcântara (MA), que luta por suas terras e encontra na escola uma grande aliada.
A comunidade quilombola de Cajueiro, em Alcântara (MA), nasceu a partir do amor entre duas pessoas que decidiram começar uma vida longe da família e plantaram um pé de caju para marcar o lugar onde criariam raízes. O pequeno povoado cresceu tão forte quanto a árvore típica do nordeste brasileiro, que alcançou novas alturas e deu frutos e sombra para as crianças brincarem.
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Mas enquanto o curso da vida seguia em Cajueiro, o poder público tinha outros planos. Há 40 anos, a comunidade foi arrancada de seu chão. Há 6 anos, aconteceu outro despejo violento.
Entre impermanências e violências do Estado, a Escola Municipal Quilombola Barão de Grajaú foi uma das principais protagonistas na luta para não deixar a comunidade se despedaçar, orientada por dois movimentos contínuos: resgatar os saberes e fazeres ancestrais e costurá-los aos novos desejos e sonhos que as crianças e adolescentes trazem.
A história de como a luta de Cajueiro se entrelaça ao trabalho da escola foi contada no curta-metragem Um Pé de Caju, que recebeu dois prêmios na 48ª edição do Festival Guarnicê de Cinema, realizado em São Luís (MA), por Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante.
“A escola era uma sedimentação dessa luta. A comunidade localizava nela um instrumento de defesa do território e das tradições”, relata Fernando Mendes, gestor do Centro de Referências em Educação Integral, sobre o que ouviu da comunidade durante o processo de revisão do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola.
Essa revisão aconteceu como parte do projeto NÓS – Iniciativa pela Educação Integral em Territórios Amazônicos, que aconteceu entre 2021 e 2024, com o objetivo de criar condições para implementar políticas públicas que assegurem o desenvolvimento integral de estudantes em 33 municípios da Amazônia Legal, localizados em territórios de comunidades tradicionais, sempre alinhadas aos princípios da Educação Integral Antirracista, ou seja, a partir das reais demandas e desejos de cada uma das comunidades.
O projeto NÓS – Iniciativa pela Educação Integral em Territórios Amazônicos tem como parceiro estratégico a Porticus e foi executado pela Cidade Escola Aprendiz, pela Flacso e pela Roda Educativa, por meio do Centro de Referências em Educação Integral (CR) em parceria com a Roda Educativa.
“A discussão desse PPP foi marcada por essas narrativas de luta daquele território, pela defesa daquele espaço. Então, o roteiro do curta-metragem nasce dessas narrativas e mostra como o currículo da escola, sua relação com a comunidade e a construção de uma rede de proteção daquele povo vão sendo engendrados a partir de um desejo de lutar por esse chão. É a materialização de um jeito de ser escola muito próprio daquele território”, diz Fernando.
Desde que foi lançado, em abril deste ano, o curta já circulou por diferentes espaços, festivais e celebrações.
“Na exibição no Centro Cultural da Vale, em meados deste ano, a comunidade apareceu em peso para assistir e mostrar a força que eles são nesse território. E também nos mostra que uma sistematização que faça sentido precisa ser permeada pelo território”, afirma o gestor do CR.