publicado dia 12/11/2024

Seminário Nacional de Educação Integral: Qual o papel da comunidade na Educação Integral?

Reportagem:

🗒 Resumo: Como as escolas podem aproximar a comunidade para cumprir sua função social e qual o papel de cada uma? Para responder a este questionamento, educadoras e estudantes de escolas que fortalecem esse laço compartilharam suas práticas na mesa “Educação e Democracia: função social da escola e papel da comunidade na efetivação da Educação Integral”, durante o 3º Seminário Nacional de Educação Integral, na tarde desta terça-feira (12/11). 

3º Seminário Nacional de Educação Integral abordou Educação e Democracia nesta terça-feira (12/11), para refletir sobre a função social da escola na contemporaneidade e o papel da comunidade na efetivação da Educação Integral.

Educadoras e especialistas compartilharam suas perspectivas e práticas sobre o tema, com mediação de Diovane de César Resende Ribeiro, pedagogo e docente da Educação Básica na Prefeitura Municipal de Uberaba, e Rachel Costa de Azevedo Mello, professora do Programa de Mestrado em Educação, Culturas e Identidades da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

O Seminário, que visa discutir a “Educação Integral para cuidar da vida e do planeta: aprendizagens e pleno desenvolvimento em sintonia com o tempo presente”, acontece entre os dias 11 e 14 de novembro, das 8h30 às 18h, com sede no Memorial Darcy Ribeiro, em Brasília (DF).

A transmissão online é realizada pelo canal no YouTube da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). Para quem se inscreveu e deseja obter o certificado, é preciso acessar o evento pela plataforma indicada pela organização do evento.

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Ao longo dos quatro dias, há debates sobre financiamento e infraestrutura na Educação Integral em tempo integral, a formação de professores, currículo, avaliação e intersetorialidade. Também serão apresentadas experiências de Educação Integral em escolas e redes municipais brasileiras.

Assista à mesa “Educação e Democracia: função social da escola e papel da comunidade na efetivação da Educação Integral” na íntegra:

O valor comunitário na Educação Escolar Indígena 

Na Educação Indígena, não há divisão entre escola e comunidade. Todos aprendem e ensinam juntos, o tempo todo e em qualquer lugar. Na Educação escolar, Maria Lúcia Silva, diretora da EE Indígena Tenente Antônio João, em São Gabriel da Cachoeira (AM), se empenha em preservar essa característica cotidianamente.

Assim, a escola desenvolve um projeto de roça comunitária, que envolve inclusive as famílias, e cuja produção é aproveitada na merenda escolar. Na Casa do Saber, um espaço amplo, estudantes de diferentes idades se reúnem e convivem juntos.

“Precisamos que os sábios tradicionais façam parte da escola, que trabalhem junto com os professores e adentrem os espaços da escola não como colaboradores, mas como remunerados, assim como os professores”, defende Maria Lúcia Silva

Há espaço para os estudantes fazerem propostas de projetos e desenvolvê-los. É o caso de uma turma que prepara e planta mudas em uma avenida próxima à escola. Outras, coletam e reciclam plástico e papelão para artesanato e para cultivar hortas alternativas, e aprendem a produzir cuias e cuiupis, coloridas com tintas naturais.

A própria escola se vê como parte de uma comunidade. Assim, as unidades que pertencem a povos do tronco linguístico aruak se reúnem periodicamente para debater questões pedagógicas, culturais, políticas e sociais.

Nos últimos encontros, professores, gestores, estudantes, sábios e sábias e lideranças refletiram sobre valorização, resgate e divulgação das línguas indígenas, e sobre ancestralidade e valores tradicionais. A próxima vai debater as mudanças climáticas.

Para que todo esse trabalho possa continuar a acontecer, Maria Lúcia e as demais lideranças pedem investimentos em infraestrutura, materiais, formação e contratação de professores, merenda adequada e de qualidade.

“Também precisamos da contratação dos sábios notórios para proporcionar aos estudantes indígenas uma Educação que atenda sua especificidade e valorizar o conhecimento ancestral. Precisamos que os sábios tradicionais façam parte da escola, que trabalhem junto com os professores e adentrem os espaços da escola não como colaboradores, mas como remunerados, assim como os professores”, defende a gestora.

Waldir Garcia: uma escola da comunidade

A escola municipal Prof. Waldir Garcia, em Manaus (AM), nasce da comunidade. São as famílias do bairro que 20 anos atrás reivindicam e começam uma escola para não terem que se deslocar para outro bairro distante para terem seu direito à Educação garantido.

“A Waldir Garcia aprendeu o conceito de comunidade com a comunidade”, afirma Lucia Santos

Hoje, continua sendo da comunidade. A escola permanece totalmente aberta e ocupada pela comunidade todos os dias, inclusive no final de semana. Eles utilizam diferentes espaços, como a quadra, a biblioteca e a cozinha.

“Na escola não há vigia, quem entra, cuida”, diz Lucia Cristina Santos, gestora da escola. “A Waldir Garcia aprendeu o conceito de comunidade com a comunidade”, destaca.

Foi junto a ela que foi possível continuar a oferecer uma Educação de qualidade. Em 2015, com o fim do programa Mais Educação, voluntários se ofereceram para continuar a conduzir as oficinas com os estudantes.

As crianças também saem da escola e vão para o território desenvolver projetos educativos, pesquisar e estar na comunidade. Além disso, a escola desenvolve assembleias para tomada de decisões coletivas e constrói e reconstrói seu Projeto Político Pedagógico coletivamente.

As tutorias, que acompanham de perto pequenos grupos de estudantes para além das aprendizagens, são conduzidas não apenas pelos professores, mas também por membros da comunidade. E a história e cultura dos estudantes imigrantes que a unidade recebe integram todo o currículo. É assim que a Waldir Garcia vai rompendo com as padronizações e constrói a escola a muitas mãos.

“Por que o aluno que chega atrasado tem que voltar? Por que o pai tem que esperar fora da escola? A escola é dele. Ele pode entrar a hora que quiser, almoçar, estar junto. São contradições que vivemos e fazemos, mas temos que romper com essa escola tradicionalista, burocrata. Precisamos de relações horizontais para a gente viver essa Educação e a democracia, para que a função social da escola e a comunidade efetivem a Educação Integral, porque a Educação Integral é o caminho”, diz Lucia.

A inclusão na Educação Integral

A estudante de Direito Ananda Macedo Chedieck Martins, coordenadora da Secretaria da Associação de Discentes com Deficiência da UFPA (ADD) e membro do Coletivo Autista da Universidade Federal do Pará (UFPA), compartilhou sua experiência estudantil enquanto uma pessoa no espectro autista.

“A escola precisa olhar para esse aluno e valorizar sua potência, suas capacidades”, diz Anada Martins

Nos espaços por onde passou, viu sua individualidade e direitos serem negados, sempre induzida a mascarar seu jeito de ser e estar no mundo, além de ter que sempre vencer o olhar estereotipado sobre o que é o autismo, que deixa de lado as particularidades e a humanidade de cada um.

“Mas não é por isso que temos que falar de homeschooling, que a gente sabe que não funciona”, reforçou Ananda, que defende formação profissional para promover inclusão e equidade, bem como a acessibilidade em todas as suas dimensões nas escolas.

“Que os estudantes com deficiência e neurodiversidade possam viver a escola inclusiva e de tempo integral. E que os outros alunos sem deficiência convivam para entender que não somos extraterrestres. A escola precisa olhar para esse aluno e valorizar sua potência, suas capacidades. Uma pessoa com deficiência não é sinônimo de uma pessoa incapaz, porque as limitações são do mundo”, disse.

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