publicado dia 26/09/2023
Avaliação na Educação Integral é tema do Seminário Educação Integral em Debate
Reportagem: Tory Helena
publicado dia 26/09/2023
Reportagem: Tory Helena
📄 Resumo: O Seminário Educação Integral em Debate aconteceu ao longo do dia 25/09 com discussões fundamentais para as políticas públicas de tempo integral e Educação Integral. A mesa “Gestão para resultados ou resultados da gestão: como ensinar e avaliar em uma proposta de educação integral?” reuniu especialistas no tema, além de representantes do corpo discente e da gestão municipal, para debater a avaliação na Educação Integral.
Com a apresentação de experiências da rede municipal de Diadema (SP), do protagonismo estudantil em Salvador (BA) e de reflexões de especialistas em Educação Integral e Educação Inclusiva, o terceiro painel de discussões do Seminário Educação Integral em Debate abordou o desafio da avaliação na Educação Integral.
Com transmissão ao vivo pelo Futura, o encontro contou com a mediação de Anna Helena Altenfelder (Cenpec) e participação de Helena Singer (Ashoka), Rodrigo Hubner Mendes (Instituto Rodrigo Mendes), além do estudante Nicolas Moreira Natale (Centro Juvenil de Ciência e Cultura de Salvador / Escolas 2030).
Assista ao debate na íntegra abaixo:
Secretária Municipal de Educação de Diadema (SP), Ana Lúcia Sanches contextualizou o projeto de Educação Integral no município, localizado na região metropolitana de São Paulo, uma cidade bastante adensada e que convive com desafios socioeconômicos complexos.
Para a gestora pública, o território é central para a Educação Integral realizada no município. “A experiência de Diadema traz a Educação Integral voltada para essa circulação no território. O nosso programa, chamado Mais Educação, é feito dentro e fora da escola”, afirmou ela, que destacou o aspecto participativo da política de Educação, articulada com atuação intersetorial da rede de proteção das crianças e famílias atendidas pelas escolas públicas de Diadema.
Além da construção coletiva do Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas, a rede municipal conta com políticas específicas de educação antirracista e valorização do protagonismo infantil e estudantil neste processo.
Iniciado em 2021, o PPP Participativo embasa o planejamento e a gestão das escolas. Partindo de um diagnóstico e da circulação dos professores pelo território, os objetivos e metas são traçados em assembleia por educadores, estudantes e comunidade escolar.
“É um instrumento de gestão e compartilhamento de gestão”, explica Ana Lúcia, dizendo que os indicadores tradicionais – medidos por avaliações em larga escala – também são positivos na rede.
“Os resultados virão da gestão com trabalho sistêmico, amigo, feliz e em que as crianças saibam que a escola é um lugar de educação plena e integral”, defendeu Ana Lúcia.
Helena Singer, Líder de Estratégia de Juventude América Latina na Ashoka, iniciou sua fala destacando que a avaliação é fundamental para a transformação da Educação no Brasil, mas o tema costuma ser debatido por especialistas no campo da avaliação, em detrimento da participação dos educadores. Na visão da especialista, os atuais sistemas de avaliação da qualidade da Educação Básica carregam pressupostos opostos aos defendidos pela Educação Integral.
“Primeiro, porque a Educação Integral trata de um conjunto complexo e articulado de valores, conhecimentos, atitudes, que não pode ser mensurado de forma linear, como as avaliações que compõem o indicador de qualidade, o Ideb, ou no exame final da Educação Básica, o Enem”, descreveu a doutora em Sociologia pela USP, com pós-doutorado em Educação pela Unicamp.
“A questão é que essa forma de avaliar é profundamente carregada da pedagogia que Paulo Freire chamou de bancária, já que possibilita quantificar o conhecimento e as aprendizagens”, contou Helena.
Além disso, destaca, trata-se de uma política de avaliação padronizada implementada há anos, mas que não trouxe melhorias para os resultados das escolas. “Desde o primeiro Ideb, os resultados são ruins. Quinze anos depois, não melhorou a qualidade da Educação Básica, dentro da própria lógica. De fato, precisamos construir uma outra política de avaliação que dê valor para os aspectos que são valorizados pela Educação Integral”, explicou.
Falando sobre o projeto Escolas 2030, apoiado pela Ashoka, Helena trouxe algumas aprendizagens. A primeira é a perspectiva de construção de novos indicadores de qualidade da Educação a partir das experiências de escolas, projetos e espaços de Educação Integral.
“São escolas que definiram quais aprendizagens eram importantes. São aprendizagens como empatia, colaboração, criatividade, protagonismo, autoconhecimento”, descreveu. Outro aprendizado a ser considerado na hora de pensar critérios de avaliação é olhar para a própria rede escolar. “Como as escolas já estão avaliando? Quais aprendizagens são valorizadas e como são avaliadas? Descobrir as escolas de excelência no território e jogar luz sobre essas experiências inspiradoras dentro da própria rede é uma das primeiras recomendações”, compartilhou Helena.
Para Rodrigo Hübner Mendes, pensar o ensino e avaliação na Educação Integral com uma perspectiva inclusiva pressupõe um olhar crítico e mais reflexivo sobre o papel da avaliação.
Em primeiro lugar, é preciso questionar: o desempenho está acima de tudo? E para além disso: o desempenho justifica a segregação de alguns públicos na escola?.
“Entendo que uma escola de qualidade não segrega. De nada adianta as escolas atingirem bons resultados do ponto de vista da aprendizagem se ela não incluir de fato todos os perfis de estudantes e se não tiver uma atmosfera de acolhimento”, defendeu Rodrigo, que é Fundador e Diretor Executivo do Instituto Rodrigo Mendes, organização sem fins lucrativos que tem a missão de garantir que toda pessoa com deficiência tenha acesso a uma educação de qualidade.
Para ele, o direito à Educação não pode ser reduzido ao desempenho médio do estudante em Matemática e Língua Portuguesa. “A Educação é muito mais do que isso. A escola tem o papel social de formar cidadãos e representa o espaço em que vamos encontrar diferentes corpos e modos de pensar”, explicou.
Abordando o tópico das avaliações externas em larga escala, Rodrigo refletiu sobre o desafio de dar sentido pedagógico para os instrumentos e trouxe um problema presente em muitas situações: a dispensa dos estudantes com deficiência no dia das avaliações.
“Isso fere o direito dessas crianças”, criticou, ponderando que, apesar dos entraves, existe um esforço por parte do Inep de garantir a participação desse público, com a adoção de provas acessíveis, flexibilização do tempo de prova e outras medidas de acessibilidade.
Sobre os impactos da padronização curricular e das avaliações para os estudantes com deficiência, Rodrigo Hübner Mendes defende a diversificação de formatos e estratégias pedagógicas.
“O caminho passa pela incorporação de múltiplos métodos de apresentação de conteúdos, de mediação da aprendizagem e do envolvimento dos estudantes. Diversificar os formatos dos materiais didáticos e as estratégias em sala de aula representa uma potência”, defendeu.
Nicolas Moreira Natale, estudante do 2º ano do Ensino Médio da rede estadual de Salvador (BA), também participou da rodada de discussões e compartilhou suas experiências no Centro Juvenil de Ciência e Cultura de Salvador.
No local, o estudante participa das oficinas “Sementes da Bahia” e “Minha Flora”.. Em 2023, desenvolveu um papel com as fibras da Espada-de-São-Jorge, com orientação da professora Laísa Brandão. O projeto foi apresentado na 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
“Eu nunca tinha escrito um artigo científico e isso foi muito legal”, refletiu Nicolas que acredita que as avaliações e provas aplicadas na escola não contemplam todos os estudantes.
“Muitos colegas não entendem metade do que o professor está lá na frente da sala explicando. Eu penso que as provas precisam ser repensadas, porque nem todos acompanham da mesma forma. E como padronizar pessoas diferentes?”, refletiu.