publicado dia 13/12/2018
Sarau dos Mesquiteiros traz um novo olhar sobre a literatura
Reportagem: Da Redação
publicado dia 13/12/2018
Reportagem: Da Redação
“Um por todos e todos por um”. Sob o lema clássico dos Os Três Mosqueteiros, um coletivo traz, há quase dez anos, uma nova perspectiva cultural para a periferia de São Paulo. Criado pelo professor Rodrigo Ciríaco em parceria com seus alunos, o Sarau dos Mesquiteiros difunde a literatura e outras manifestações artísticas, e dialoga com o público por meio de leituras, performances, jogos teatrais, debates e outras atividades.
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Os Mesquiteiros surgiram a partir de experiências vividas pelo próprio Rodrigo e também de uma inquietação pessoal. Frequentador dos saraus da Cooperifa desde 2005, ele se impressionava com a espontaneidade e respeito que havia ali. “Em pleno horário da novela, os saraus reuniam 200 pessoas em um bar na periferia. Eu mesmo me deslocava 45 quilômetros para participar”, recorda o professor.
Quando começou a trabalhar com alunos do Fundamental II na Escola Estadual Jornalista Fernando Mesquita, em Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo (região onde nasceu e se criou), quis levar o modelo para a sala de aula.
Mesmo sendo professor de História, e não de Português, tinha certeza de que despertaria a atenção dos alunos. “As referências que tinham eram muito formais, sem o lado artístico. Com os saraus, eles poderiam experimentar uma literatura viva, que ia além das páginas dos livros”, explica.
O trabalho começou de forma solitária e “quixotesca”, como ele próprio define. “Uma vez por mês, substituía o conteúdo tradicional de suas aulas de história por atividades artísticas e culturais”, relembra Rodrigo Ciríaco.
Além disso, promovia semanalmente encontros parecidos também no contraturno, mesclando jogos e exercícios teatrais com outras formas de expressão artística, sempre a partir de textos literários e poéticos. Em 2009, na companhia dos alunos que frequentavam esses encontros, formou o Sarau dos Mesquiteiros, brincadeira com o nome da escola e com Os Três Mosqueteiros.
“Em 2010, passamos a integrar o programa Escola da Família e oferecemos nossas atividades para toda a comunidade, como parte da escola e à parte dela também”, relembra o professor Rodrigo Ceríaco. Os Mesquiteiros receberam autores, como Sergio Vaz, Eliane Brum e Fernando Buzo, e organizaram mesas de debates com temas de interesse para a comunidade.
Pioneiro ao incorporar o modelo de sarau às atividades educativas, o grupo recebeu convites para organizar eventos culturais em outros espaços, como ONGs, bibliotecas e unidades do SESC, e também começou a participar de editais. Foi contemplado com o programa VAI – Valorização de Iniciativas Culturais, da Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo, e o Programa V de Ventania (encerrado em 2017), que fazia um trabalho de formação de público em bibliotecas, e com editais do ProAC.
Os recursos trouxeram aos Mesquiteiros a possibilidade de produzir peças impressas, coletâneas e manter um selo editorial próprio, o Um por todos, que edita e divulga as criações dos participantes.
Rodrigo conta que se fez escritor nos saraus e publicou o primeiro livro em 2008. “Dois livros meus foram adotados por 800 Salas de Leitura da Prefeitura de São Paulo, o que amplia a aceitação do nosso trabalho. Preparo também um livro sobre a pedagogia dos saraus, para compartilhar o que aprendi”.
Hoje, perto de comemorar o 10º aniversário, o Sarau dos Mesquiteiros já não atua mais no local onde foi originalmente criado e trabalha em duas frentes. Uma é a parceria com escolas – realiza de três a quatro saraus por mês nessas instituições. A outra é um grupo de estudos para fazer leituras e preparar performances, que conta com uma bolsa literária para viabilizar a participação dos jovens, muitas vezes dificultada pela falta de condições financeiras.
“No futuro, desejo ampliar esse trabalho, para que os jovens e adolescentes tenham uma nova perspectiva de literatura e poesia”, planeja o professor. “Isso é uma forma de ampliar seus horizontes e ajuda a romper a barreira de analfabetismo funcional que ainda impera no Brasil”, finaliza o professor.