Como trabalhar a Educação Ambiental para além da horta e coleta seletiva?
Publicado dia 04/07/2017
Publicado dia 04/07/2017
Pensada para ser abordada de forma interdisciplinar, o objetivo da Educação Ambiental é construir conhecimento a partir da relação do indivíduo com a natureza e com outros seres humanos. É comum, no entanto, constatar que nas escolas a abordagem ficou restrita a ações muito pontuais como a coleta seletiva de lixo e a manutenção de hortas.
Leia + Como ensinar para um grupo de alunos com habilidades distintas?
Apesar de importantes, projetos desta ordem, apartados de uma conjuntura mais abrangente, encontram dificuldade para cumprir o papel de mudar atitudes e fomentar uma consciência mais ambientalmente responsável. Em outras palavras, de instaurar a escola como um ator socioambiental.
Como lembra a professora Elza Neffa, coordenadora-adjunta do programa de pós-Graduação em Meio Ambiente da UERJ, partindo do entendimento que a educação ambiental é uma práxis sociopolítica transformadora das relações sociais, ou seja, um espaço de diálogo, participação e envolvimento dos sujeitos em processos geradores de trabalho e renda, podemos articulá-la a uma aprendizagem que é capaz de contribuir para o desenvolvimento da aptidão crítico-reflexiva dos sujeitos sobre os sistemas socioambientais.
Para Genebaldo Freire Dias, doutor em Ecologia e autor dos livros Dinâmicas e Instrumentação para a Educação Ambiental e Educação Ambiental, é importante destacar que, ao visar o desenvolvimento de todas as dimensões do indivíduo, a educação ambiental define-se dentro de uma perspectiva de educação integral. “Por trazer em sua síntese as dimensões sociais, políticas, culturais, econômicas, éticas e ecológicas, já traz em seu DNA essa perspectiva”, ressalta.
“Bombardear as pessoas com culpas e com as desgraças ambientais não funciona”, critica especialista
Para o especialista, no entanto, houve um “estacionamento” das práticas ligadas à área – quadro instaurado tanto pela falta de investimentos em formação docente quanto pela ausência do entendimento de sua interdisciplinaridade.
Uma maneira de potencializar essas pontes seria retomar a visão holística dessa dimensão da educação. “Nas nossas oficinas de formação para professores oferecemos dezenas de práticas que podem ser aplicadas logo em seguida. O foco é a ampliação da percepção. Sem isso não se tem gratidão pela vida, pela essência”.
Dentro deste escopo, é importante também não cair no equívoco das abordagens sensacionalistas. “Bombardear as pessoas com culpas e com as desgraças ambientais não funciona”, critica Genebaldo.
Aproximar a comunidade escolar de projetos que propiciem uma visão transversal da Educação Ambiental, aliando princípios da gestão ambiental com estratégias voltadas para a sustentabilidade do território é um imperativo.
Um exemplo é a iniciativa Rios (in)visíveis, que realiza um mapeamento colaborativo dos rios da cidade de São Paulo, trazendo à tona os cursos d’água sepultados vivos ao longo de sua história. Segundo o projeto, existem cerca de 3.000 quilômetros de rios e corpos d’água que correm sob o concreto de ruas e avenidas do município.
“A surpresa das pessoas ao verem o mapa recheado de água nos motivou a continuar o projeto. Decidimos transformar o mapa em um site colaborativo para que qualquer um pudesse se apropriar dessa paisagem, registrar suas memórias ou escrever novas histórias”, explicam os idealizadores.
Nesta perspectiva, a proposta é que os usuários da plataforma criem suas narrativas em primeira pessoa para que possa refletir sobre sua relação com esses cursos d’água.
Rodas de leitura e de conversa, ciclos de filmes e discussões, diagnósticos locais, projetos de intervenção no espaço são também caminhos. “Apontamos como práticas de educação ambiental emancipatórias e sustentáveis as que consideram o saber, a cultura e as características ecológicas e ambientais locais. As que se centram nos processos políticos e históricos, as que entendem a multidimensionalidade da realidade, que questionam o modelo de desenvolvimento”, diz Elza.
Destinado a educadores em geral e elaborado pelo Instituto Ecofuturo, o material Atividades em áreas naturais, disponível para download gratuito, reúne reflexões e sugestões de atividades envolvendo vivências na natureza e espaços educadores ao ar livre que foram classificadas pelo nível de intimidade que o educador tem com a natureza, desde bem simples, para quem nunca se deitou em um gramado, até mais complexas a serem praticadas em bosques e florestas.
O importante é que haja encantamento, seja pela natureza em si, seja pelo conhecimento sobre ela que o educador compartilha com seu grupo
Segundo a autora Rita Mendonça, visitas sensíveis e reflexivas são completamente diferentes das visitas técnicas ou científicas aos espaços naturais, mas podem ser planejadas de forma que uma complemente a outra.
“As vivências consideram o visitante por inteiro, acolhe suas percepções e sentimentos e busca orientá-lo de forma a perceber aspectos muito sutis da mata. Já as visitas científicas priorizam as informações sobre aquilo que já se descobriu sobre a natureza, seja o saber científico seja o das culturas tradicionais”.
Nessas últimas, os alunos têm a chance de “se encantar com o conhecimento” que lhes é transmitido. “Se planejadas de forma que uma complemente a outra, podem oferecer uma experiência fascinante. O importante é que haja encantamento, seja pela natureza em si, seja pelo conhecimento sobre ela que o educador compartilha com seu grupo”.