publicado dia 05/05/2017
Encontro discute lugar da leitura e do livro na Base
Reportagem: Thais Paiva
publicado dia 05/05/2017
Reportagem: Thais Paiva
Transpor o espaço do livro e da leitura da biblioteca da escola para a sala de aula. Pautados por esse desafio, profissionais do mercado editorial estiveram reunidos nesta sexta-feira (05/05) na Unibes Cultural, em São Paulo, para ouvir o secretário de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB-MEC), Rossieli Soares da Silva, no debate “O Livro e a Leitura na Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”.
De última hora, no entanto, o secretário cancelou sua participação no evento organizado pela Câmara Brasileira do Livro, sendo substituído por Tereza Pontual, diretora de Currículos do Ministério, e pelas especialistas Guiomar Namo de Mello e Zuleika de Felice Murrie, que participaram da construção do documento.
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Com a mudança repentina na programação, o teor e os fundamentos da terceira versão da Base, entregue pelo Ministério da Educação (MEC) para a aprovação do Conselho Nacional de Educação (CNE) no início de abril, guiaram a apresentação de Guiomar, integrante do Movimento pela Base. “Os avanços tecnológicos, as novas demandas educacionais do século XXI, do mercado de trabalho e da formação cidadã exigiram que repensássemos os nossos currículos. A escola precisava rever seus papéis”, disse.
Para a educadora, o documento, que começou a ser elaborado em 2014 como uma exigência do Plano Nacional de Educação (PNE), surge para suprir lacunas curriculares e pactuar com a qualidade do ensino. “Antes, tínhamos as diretrizes [Diretrizes Curriculares Nacionais], mas que eram muito genéricas e, por conta disso, o Brasil caiu em uma anomia curricular”, disse a especialista, apontando, no entanto, que a BNCC não é currículo, mas o rumo, onde queremos chegar.
“Os estados, municípios e escolas deverão trazer os caminhos na elaboração dos seus currículos, considerando as especificidades de seus contextos, de suas necessidades. Nesse sentido, Alagoas vai ter um caminho, por exemplo, e São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, outro”.
Em sua fala, Zuleika de Felice Murrie, redatora de linguagens da BNCC, rebateu críticas feitas à área, como a antecipação da idade máxima para a alfabetização do 3º para o 2º ano do Ensino Fundamental. “O número de alunos analfabetos é enorme, a Provinha Brasil tem nos mostrado isso. As questões motoras e as representações gráficas dos fonemas precisam ser ensinadas. Não dá para ficar no ‘a criança escreve como quer’ e deixar o professor perdido”, disse.
Zuleika também rechaçou os comentários desfavoráveis sobre a ênfase em gramática e norma culta no documento. “Qualquer concurso público, vestibular traz perguntas sobre gramática. A academia diz que essa discussão está superada, mas não é verdade”, justificou.
Outra mudança comentada trazida pela última versão da BNCC foi o acréscimo do eixo organizador de Educação literária na área de Língua Portuguesa. “Essa foi uma mudança radical, de separar a literatura, o livro dos demais eixos. Mas a verdade é que as crianças não têm fluência em leitura e gosto pela literatura e isso se forma na infância e não depois, na adolescência”, disse.
Segundo o texto da Base, o eixo Educação literária tem estreita relação com o eixo Leitura, mas se diferencia deste por seus objetivos. Se, no eixo Leitura, predominam o desenvolvimento e a aprendizagem de habilidades de compreensão e interpretação de textos, no eixo Educação literária predomina a formação para conhecer e apreciar textos literários orais e escritos, de autores de língua portuguesa e de traduções de autores de clássicos da literatura internacional.
O documento diz, no entanto, que não se trata de ensinar literatura, mas de promover o contato com a expressão literária para a formação de um leitor capaz de apreender e apreciar as singularidades de um texto cuja intencionalidade não é prática, mas artística.
Representando o MEC, Tereza Pontual disse ser uma prioridade aproximar o livro e a leitura da sala de aula e comentou as expectativas em relação à análise do documento pelo CNE. “Acreditamos que não irão mexer muito na parte técnica do texto, até mesmo em respeito ao processo de discussão que envolveu as diferentes versões. O MEC não desrespeitou a versão 2 para fazer a versão 3, pelo contrário, incorporou as sugestões. Portanto, esperamos que a Base final não saia muito diferente da que foi enviada”.