Projeto Territoriar repensa as relações escolares a partir de ambientes educativos
Publicado dia 23/08/2016
Publicado dia 23/08/2016
Os espaços da Escola Municipal de Educação Básica (Emeb) Gonçalo Domingos de Campos – Caic, localizada em Várzea Grande (MT), foram recentemente modificados. A unidade teve seu parquinho revitalizado, com inserção de gangorras, escorregador e gira-gira, reforma de uma casa de madeira e aplicação de piso emborrachado; a biblioteca, antes degradada e com poucos livros paradidáticos, ganhou nova roupagem com salas de leitura e estudo.
Mais do que reformas, as intervenções são fruto de um trabalho de articulação e escuta com a comunidade escolar. Os diversos segmentos escolares – pais, estudantes, professores, merendeiras, auxiliares de serviços gerais, coordenação e direção – se uniram em um comitê participativo para, a partir da pluralidade das vozes, decidirem sobre os espaços que seriam revitalizados e como seriam executadas essas mudanças.
Na prática, o que se viu foi parceria, como conta uma das coordenadoras da unidade, Marilene do Espírito Santo. “Abrimos a escola em um sábado e tivemos o apoio de mães e pais da comunidade, além de voluntários que, reconhecendo a importância de melhorar os nossos espaços, doaram o seu tempo e as suas habilidades”.
Esse processo foi comum a outras 14 escolas públicas que integraram o Projeto Territoriar, iniciativa realizada pelo Centro Marista de Defesa da Infância (CEDIN), da Rede Marista de Solidariedade, e que tem por objetivo contribuir com a qualificação da educação pública por meio da ressignificação dos espaços educativos.
Amplitude
A iniciativa foi desenvolvida em 15 escolas públicas do primeiro ciclo do Ensino Fundamental em sete cidades dos estados do Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
O método parte da constituição de comitês escolares, posteriormente ancorados por uma formação de seis meses com foco nas concepções de criança, família, territorialidade, mediação pedagógica e territórios educativos.
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A diretiva parte da compreensão de que a alteração do espaço precede uma compreensão do território, como explica a gerente do Centro Marista de Defesa da Infância, Bárbara Pimpão Ferreira.
“Repensar esses espaços é antes de tudo refletir onde essa escola está, qual seu diálogo com a comunidade, quem são as pessoas com as quais ela se relaciona e o que elas querem. Por isso, as intervenções têm que ser pensadas com o apoio de quem efetivamente ocupa aquele lugar”, justifica.
Ao todo, cada unidade contou com cinco encontros formativos de oito horas cada, mediados pela equipe técnica. O primeiro deles, em forma de seminário aberto, procurava pautar a relação escola e território; os demais temas iam sendo escolhidos com o apoio da comunidade, considerando as particularidades locais.
Por fim, cada comitê pôde indicar suas propostas de ressignificação, e validá-las junto à equipe técnica. Esses percurso evidenciou experiências diversas, uma vez que as escolas usaram de vários recursos para validar as suas escolhas, como assembleias e votações.
Veja um álbum de fotos com alguns dos espaços ressignificados nas escolas:
Um ponto forte da iniciativa, segundo Bárbara, foi ampliar a discussão dos espaços escolares para além da infraestrutura. “Provocamos um olhar para o papel educativo desses ambientes, buscando evidenciar como eles podem se colocar a favor da educação integral, centrada na integralidade dos sujeitos”, evidenciou.
Uma evidência disso foi o fato das escolas promoverem um movimento de olhar para seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPP), entendendo como seria possível incluir a discussão dos ambientes como promotores de aprendizagem. As unidades também foram provocadas a reverem a configuração e o uso de ambientes como salas de aula, pátio e outras dependências. “Com isso, possibilitamos que os PPPs não fossem revistos por uma só pessoa, garantindo os olhares das crianças, das famílias, dos docentes, da equipe de apoio e da gestão. Isso reforça a importância da mudança acontecer no âmbito coletivo e participativo”, reforça a educadora do projeto Danielle Bairro.
Para a coordenadora Marilene do Espírito Santo o processo ensinou a escola a buscar parcerias, referindo-se à aproximação da comunidade com a unidade e contribuiu com o repensar das ofertas educativas. “Antes tínhamos um espaço que chamávamos de biblioteca, mas ela não cumpria bem essa função. Agora, temos esse e outros espaços sendo considerados no planejamento docente”, reconhece.
O professor Sidnei Lopes da Silva, da Escola Municipal João Augusto Breves de São Paulo, também reconhece os ganhos da unidade ter tido o laboratório de ciências ressignificado com pintura, troca de mobiliário, armários na altura das crianças e tanque, possibilitando o uso compartilhado com o laboratório de artes. “As crianças estão com um olhar diferente e sabem que podem participar e serem protagonistas no processo de aprendizagem”, observou.